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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Nesta Igreja em que somos fiéis ministros


«’Fiéis de Cristo são aqueles que, por terem sido incorporados em Cristo pelo Batismo, constituem o povo de Deus e por esta razão participam a seu modo na função sacerdotal, profética e real de Cristo e, segundo a sua própria condição, são chamados a exercer a missão que Deus confiou à Igreja para esta realizar no mundo’ (CIC, cân. 204 §1)» (CIC 871).
Diante desta descrição da Igreja que somos – todos fiéis em diversas etapas de compromisso – vamos aflorar breves aspetos da comunhão de irmãos com funções e tarefas diversas, fundadas no mesmo batismo e concretizadas em diferentes estados de vida, vocações, ministérios para a Igreja e no mundo, numa mesma dignidade pelo seu nascimento em Cristo. Deste modo a Igreja, pela força do Espírito Santo, une-se na comunhão e o serviço, constrói-se e é dirigida através dos dons carismáticos e hierárquicos!   
* Participantes no múnus sacerdotal, profético e real de Cristo
A partir do nosso batismo somos todos ‘fiéis’. Ora, quase quatro décadas depois da promulgação do Código de Direito Canónico (1983), já era tempo de não continuarmos a cometer os mesmos lapsos de linguagem com que somos confrontados tantas vezes, sobretudo por elementos da hierarquia ao referirem-se aos leigos como os ‘fiéis’, como se eles fossem ‘infiéis’, por contraposição à sua função eclesiástica. De verdade o batismo fez-nos a todos fiéis em Cristo e na Igreja.
Não ousaremos abordar aqui a teologia do laicado nem tão pouco dos outros sacramentos de compromisso eclesial/social – ordem e matrimónio – mas tão-somente vamos referenciar a necessidade de todos estarmos ao serviço uns dos outros, não numa visão um tanto piramidal, mas tendo em conta a dinâmica circular de comunidade, refontalizada à experiência dos Atos dos Apóstolos (cf. 2,42-47; 4,32-35) e do aprofundamento posterior dos padres da Igreja…  
* Edificação da Igreja santa dos pecadores
É pela comunhão entre todos os fiéis – papa, bispos e padres/diáconos, religiosos/as e leigos – que construímos o ‘corpo de Cristo’, que é a Igreja. A nossa comunhão de uns com os outros começa, antes de mais, na condição de pecadores, tal como reconhecemos no início da celebração de cada eucaristia, onde nos confessamos todos pecadores uns diante dos outros e todos perante Deus.
Como refere o Concílio Vaticano II, «a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação» (LG 8). Com efeito, sendo santa na sua essência, ela se manifesta pecadora, pelos seus filhos frágeis e pecadores, na sua existência. E isto nos une numa comunhão de vida, pois «todos os membros da Igreja, inclusive os seus ministros, devem reconhecer-se pecadores. Em todos eles, o joio do pecado encontra-se ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos tempos. A Igreja reúne, pois, em si, pecadores abrangidos pela salvação de Cristo, mas ainda a caminho da santificação» (CIC 827).
Na medida em que tomarmos consciência desta riqueza, poderemos contribuir para que a Igreja seja uma força de Deus neste mundo e, particularmente, neste tempo. Com efeito, haveremos de concretizar, com gestos, palavras e sinais, aquilo que o Concílio Vaticano II designou de ‘vocação universal à santidade’, não ficando nada nem ninguém fora de poder vir a ser santo, assim o queira, o prossiga e Deus o faça. O caminho está traçado, assim o saibamos percorrer de olhos postos na meta, que é Cristo Jesus.  
* Diversidade para a unidade
Na Igreja não há um mera uniformidade, mas uma diversidade para a unidade, onde cada um é e manifesta a dignidade de filho e de irmão, segundo a vocação, o estado de vida e os ministérios em Igreja. Efetivamente, «desde a origem, a Igreja apresenta-se com uma grande diversidade, proveniente ao mesmo tempo da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade das pessoas que os recebem. Na unidade do povo de Deus, juntam-se as diversidades dos povos e das culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de dons, de cargos, de condições e de modos de vida» (CIC 814).
Perante esta vivência da Igreja, todos e cada um devemos ser os artífices desta diversidade para a unidade, na medida em que pelos dons, carismas e ministérios podemos/devemos manifestar a riqueza que a Igreja contém em semente e manifesta em frutos. Seja qual for a instância de manifestação do ‘ser Igreja’, somos chamados por essência a contribuirmos para que esta Igreja se torne, neste mundo, sinal e presença do poder e da missão de Cristo. Cada um, segundo os seus dons e carismas deve contribuir para a manifestação desta mesma Igreja, tão rica nos seus membros e diversa nas suas formas de presença em cada tempo e nos variados lugares.
    

António Sílvio Couto

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