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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Saloiice encriptada


Numa tentativa de interpretar alguns dos momentos mais significativos e esquisitos da nossa ‘res-publica’, ousamos servir-nos de uma palavra em dinâmica denotativa – ‘saloio’ (do árabe ‘sahroi’ (deserto), como identificativo de quem vive no norte litoral de Lisboa, alguém um tanto grosseiro) – com o sufixo ‘ice’, no sentido de ato prolongado no tempo e num certo espaço… ‘saloiice’, numa palavra composta e complexa de compreender… ‘onde alguma esperteza pretende enganar os outros como se fossem ignorantes, usados e manipuláveis’!

Esta atitude/comportamento/ambiente cultural consideramo-la ‘encriptada’ – isto é, a precisar de ser desmontada, explicada ou entendida – dado que nem sempre os dados disponíveis ajudam a entender o que é dito, aquilo que é percebido ou mesmo quanto se pretende atingir com as atitudes, os gestos e as soluções propostas.

Vejamos alguns factos e acontecimentos:   

* Crise – solução da TAP

Pela enésima vez a transportadora aérea portuguesa andou nas bocas do mundo com mais uma crise de identidade, de capital…à mistura com dinheiro a rodos lançado sobre aquele sorvedouro incontido. Troquem os figurinos e mudem até as datas, que os discursos serão quase sempre os mesmos, pretendendo mais e mais fundos para tentar salvar um náufrago inveterado.

As soluções propostas andaram entre duas grandes vertentes: a renacionalização ou a continuidade com maioria de pendor privado. Na ocasião recente como noutros momentos anteriores emergiram defensores ideológicos de uma ou de outra parte… agora respaldados os da nacionalização num (dita) maioria de esquerda – os da geringonça e adstritos – em confronto com os da pretensa direita mais favoráveis aos privados e, por conseguinte, avessos à intervenção estatal… Travou-se uma dura batalha e podemos ver as oscilações no barómetro das notícias, tendo em conta quem era o patrão da estação ou qual o ‘servidor’ do canal em agência. Nesta questão da transportadora aérea foi claro que muitos setores se ergueram para defenderem os seus interesses mais ou menos explícitos…embora nem sempre totalmente assumidos.  

* Turismo – da ilusão à realidade

Desgraçadamente continuamos a insistir num setor tão vulnerável quanto inconsequente, que é o turismo. Se há um ano atrás era uma fonte de receita, hoje é um caso de desgraça. Se uns tantos iam vivendo da exploração da ‘galinha de ovos de ouro’, agora foi extinta a obra de sucesso etéreo. Se os cofres públicos e privados iam prosperando sem haver quem questionasse a faturação, agora vemo-los a fechar sem glória nem riqueza.

Dá a impressão que os nossos políticos têm vivido numa bolha fictícia, pois não se aperceberam que a imagem difundida lá fora continua a ser a ruralista, senão na tela ao menos na mentalidade. Bastará observar um canal de notícias europeu ou mais americano e veremos que ‘lisboa’ não consta nem sequer na informação meteorológica, quanto mais para poder ser lugar aprazável desde o centro da velha Europa ou da leitura transatlântica.

A mais recente polémica com as restrições de vários países à entrada de passageiros procedentes de Portugal mostra assazmente que pouco valemos e raramente somos levados a sério…pelos nossos pares. Até os ditos aliados (ingleses) nos destratam com laivos de negligência, faltando coragem para que haja retaliação a condizer. Cresce a sensação de que não passamos de uns saloios… 

As figurinhas de serviço nesta época de pandemia – essas do alto setor do estado – deveriam assumir que não têm dito totalmente a verdade ou, então, não passam de figurantes em filme de baixa categoria. Isto mostra à saciedade que o nível de liderança anda muito arredio daquilo que seria desejável. Não passamos, afinal, de uns saloios que entram pela porta dos fundos, pois os outros têm vergonha das figuras caricatas que fazemos…na sala do baile! Quando começarem a falhar os jogos e vier a falta o pão, veremos como vai reagir o dito povo cordato e pacífico, entretido e manipulado, vergado e iludido… Acordem!

 

António Sílvio Couto

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