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terça-feira, 28 de julho de 2020

Paróquia: entre as casas, com as pessoas e as culturas


Com data de 29 de junho passado, foi tornada publica, em Roma, uma Instrução da Congregação para o Clero, intitulada: «A conversão pastoral da comunidade paroquial  a serviço da missão evangelizadora da Igreja».
Em cento e vinte e quatro números, divididos em dez temas (ainda subdivididos) fazem-se algumas observações sobre a temática da paróquia. Dada a extensão do assunto e a complexidade das questões, iremos debruçar-nos sobre estes temas nos próximos tempos. Agora restringimos a atenção aos assuntos dois e três, respetivamente, ‘a paróquia no contexto contemporâneo’ (n. os 6 a 10) e ‘o valor da paróquia hoje’ (n. os 11 a 15).
- ‘Casa no meio das casas’ é a origem etimológica de ‘paróquia’ e isso definiu, desde a origem esta forma de tornar os cristãos presentes no mundo, onde o ‘edifício de culto é presença permanente do Senhor Ressuscitado no meio do seu povo’ (n.º 7). Esta proximidade fazia da paróquia local e espaço de anúncio da fé e da celebração dos sacramentos.

- A mudança da configuração territorial da paróquia confronta-se, hoje, com ‘a crescente mobilidade e a cultura do digital’, nisso que é chamado de ‘território global e plural’. Efetivamente, esta cultura em mudança manifesta-se na ‘rapidez das alterações, a mudança dos modelos culturais, a facilidade para os deslocamentos e a velocidade da comunicação estão transformando a percepção do espaço e do tempo’ (n.º 8).
- Da conotação territorial estamos, hoje, numa outra de ‘paróquia como comunidade de fiéis’, acentuando a dinâmica da pertença em múltiplas facetas: sociais, profissionais, culturais e até emocionais, ‘num mundo virtual sem compromisso nem responsabilidade com o próprio contexto relacional’ (n.º 9). Se isto traz transtornos a algumas mentes também abre novas perspetivas, sendo ‘urgente envolver todo o Povo de Deus’ neste rejuvenescimento do rosto da Igreja (n.º 10).
- ‘A paróquia é chamada a acolher as instâncias do tempo para adequar o próprio serviço às exigências dos fiéis e das alterações históricas’ (n.º 11), deixando a etapa de cristandade massifccada à vivência da vocação de cada batizado, que seja discípulo de Jesus e missionário onde quer que se encontre.
- Os três últimos Papas (n.º 12) foram dando a sua interpretação de mudança do conceito e da necessidade do ser e do estar em paróquia: organismo indispensável e base de toda a pastoral (João Paulo II), farol que irradia e luz e vai ao encontro (Bento XVI), incentiva e forma agentes da evangelização (Francisco).
- Dando ‘centralidade à presença missionária da comunidade cristã no mundo’ (n.º 13), a paróquia deve mostrar o rosto de uma comunidade evangelizadora.
- Lendo os sinais dos tempos, a paróquia é ‘chamada a encontrar outras modalidades de vizinhança e de proximidade’ (n.º 14).
- ‘A comunidade cristã não deve ter medo de iniciar e acompanhar processos dentro de um território onde vivem diferentes culturas’ (n.º 15), na diversidade e na abertura a todos e com todos.
= Observações

a) A alteração/mudança da configuração da igreja-templo, destacando-se entre o casario da aldeia para a normalidade com outros edifícios exige uma aferição ao tempo onde a Igreja caminha com os outros homens, despojada, sincera e serva;

b) a perceção da mobilidade, fazendo cada um de nós uma itinerância  de aprendizagem, tentando saber estar com os outros e não aferrando a que os outros é que têm de aprender a lidar com a diferença;

c) um tempo de paróquia mais como instância de diálogo e menos como telónio de certezas inamovíveis, de portas abertas e braços estendidos a quem procura…para ser aconchego e lar seguro;

d) lugar de sensibilidade às tecnologias novas (digitais e afins), mas que não se deixa virtualizar com clichés estereotipados e ocasionais…sem maturidade de caminho de conversão;

f) instância que vai à procura – ‘em saída’ – entendendo os que saíram, sem os acusar por se quedarem na religião de sofá, confinada aos receios e medrosa nos anseios…

Ainda seremos paróquia com Jesus? Ainda temos espaço para Ele? Gostamos da nossa paróquia-família?   

 

António Sílvio Couto

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