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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Preconceitos (de) mascarados


A pandemia do coronavírus ‘covid-19’ alterou a mente e o comportamento de muitas pessoas, levando-as a dizerem, a fazerem e até a insinuarem coisas que, numa fase normal, não teriam dito ou feito… A mais recente situação que me deixou a pensar se não andaremos todos confundidos nas ideias e nas práticas foi a de um polícia a quem terá sido movido um processo por usar uma ‘máscara social’ de cor preta. A razão prende-se com a ‘regra’ de que só poderem ser usadas, na corporação, máscaras de cor branca ou de cor azul.

Por muito que possa ser plausível tal situação fica-se com a sensação de que há mentes suficientemente conspurcadas para lerem muito do que acontece numa grelha mais racista do que seria pensável. Dá a impressão que, para muitos dos nossos contemporâneos, o preconceito rácico é mais forte do que a leitura simples, franca e sincera com que podemos/devemos viver a vida.

Tal atitude preconceituosa como que se pode tornar uma ideologia, onde, sem nos dar conta totalmente, fazemos essa figura ridícula com que nos vão envenenando as relações humanas e os critérios de julgamento. Aliás, outra coisa não será de esperar de formulações dialético-marxistas de onde germinam muitas das posições sociais, económicas e culturais (ditas) antirracistas. Sempre estão à espreita de algo em que possam pegar para, durante largos dias, se entreterem com manifestações, contestações e até violência como aconteceu nos tempos mais recentes. Não há justificação alguma para terem sido prolongadas as imagens racistas com que se foram entretendo ao longo de quase um mês… 

= Fervilham, no entanto, na nossa sociedade sinais preocupantes de agressividade. O tempo de confinamento, por ocasião do coronavírus ‘covid-19’, fez com que muita gente fosse recalcando muito daquilo que fez sair as pessoas da rua: reduzidas a quatro paredes durante semana a fio, até os pobres animais pagaram com as pretensões dos ‘donos’ desejosos de subverter a lei de não sair de casa senão para as compras e passear o bicho de estimação. Não esquecerei um dia em que vi um cão aos saltos e a ladrar em todas as direções na rua, pois o dono para ter cobertura de andar na rua àquela hora da manhã, soltou, prendendo o animal e este estava à deriva… Esta pode ser uma das imagens de marca do abuso sobre os animais ao longo dos dias de confinamento… servirem de suporte para as tropelias humanas.

Outro tanto se pode dizer do apego ao telemóvel e a outros apetrechos eletrónicos, que foram a salvaguarda de comunicação nesses longos. Deste modo agravou-se o isolamento das pessoas, que se têm vindo a refugiar cada vez mais nesses artefactos e dão cada vez menor importância aos outros. É urgente recriar espaços livres de material de comunicação que tem agravado o que ainda ia havendo de trato das pessoas umas com as outras. Estamos excessivamente dependentes do tlm, da internet, das redes sociais…de tudo quanto nos pode isolar na multidão. 

= Agora que perdemos a visualização total do rosto – próprio e alheio – com o uso obrigatório da máscara, precisamos de inventar formas de comunicar com qualidade e com tempo. Não podemos deixar que os cuidados sanitários venham a prejudicar o mínimo de proximidade sem exagero nem desperdício de humanismo.

Há posturas no uso da máscara que servem mais para diluir o (possível) confronto com as pessoas do que para se defenderem mutuamente. Se bem avaliarmos todo o processo de salvaguarda da saúde podemos ir percebendo que, senão tivermos cuidado, poderemos fazer de cada outro/a uma espécie de inimigo e até de possível perigo para os meus interesses. É, portanto, fundamental sermos educados para o acolhimento e a capacidade de sabermos receber tanto conhecidos como desconhecidos. Não estraguemos com a segurança da saúde o equilíbrio entre as pessoas… Mais uma vez bom senso precisa-se!        

 

António Sílvio Couto

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