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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quem vos recebe a Mim recebe…



Lemos nos evangelhos que Jesus prometia àqueles que fossem enviados em seu nome, que seriam recebidos como Ele seria recebido e que falariam na força do Espírito Santo, quando estivessem em missão.

Esta passagem bíblica veio-me mais intensamente à lembrança por ocasião da presença de sessenta jovens universitários – concretamente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Lisboa – que estão a ‘missionar’ na Moita, desde 22 deste mês até 1 de março. Este é o segundo ano do conjunto de três com que a ‘Missão país’ quis investir nesta paróquia ao sul do Tejo.

Mais do que falar do método da ‘Missão país’ e da sua implantação no tecido socio-eclesial português gostaria de centrar a atenção na disponibilidade de tantas pessoas – bem mais do que julgamos, embora possam parecer menos do que seria preciso – para se colocarem à disposição com tempo e qualidade para esta tarefa da evangelização.

Há um largo e salutar leque de pessoas – muitas delas jovens (masculinos e femininos) – que responde aos desafios de se unirem para o anúncio de Jesus e do seu evangelho. Outros há que entregam a vida em totalidade para que essa missão seja projeto de toda uma existência. Mas diante do amorfismo de uma parte significativa da Igreja católica, algo nos deverá questionar e até fazer pensar sobre o futuro da vida eclesial. E neste âmbito que gostaria de situar a função dos ministros da mesma Igreja, pois dá a impressão que nem sempre eles conseguem falar de si mesmos com a necessária propriedade de entrega e de serviço a Deus e aos outros ou pelos outros em Deus.  

= Desde logo talvez possa ser útil colocar algumas questões sobre o afrouxamento das vocações à vida religiosa e ao sacerdócio. Será que Deus não continua a chamar? Ou será que não conseguimos escutar a sua voz, porque andamos demasiado ocupados nas coisas urgentes e não centrados no essencial? Como se explica, de forma clara, sucinta e capaz, que algumas congregações, institutos ou até ordens religiosas – tanto masculinas como femininas – tenham entrado em crise e corram o risco de desparecerem em breve? Terá sido pela adulteração do carisma ou já cumpriram a sua missão em tempo e espaço, dentro e fora da Igreja? Não se terão voltado tantas ‘comunidades religiosas’ mais para o fazer (social) do que para o ser eclesial e espiritual? Mesmo os/as que surgiram com incidências educativas, de saúde ou de ensino não terão preferido as implicações do imediato mais do que as tarefas de promoção integral a longo prazo? A denominada ‘crise de vocações’ não será reflexo da ausência de testemunho ou até pelo impacto de algum mau testemunho? 

= No âmbito mais específico da vida sacerdotal não teremos andado a correr para tratar coisas que competem ao Estado em vez de cuidarmos da vida espiritual – pessoal, comunitária e eclesial – como seria recomendável? O tempo dedicado aos ‘centros paroquiais’ não deveria ser entregue a quem saiba do assunto e não aos padres/párocos? Porque há tantos padres que menosprezam os momentos de encontro, de reunião, de formação e de convívio com os que lhes são próximos (vigararia, arciprestado ou diocese) e privilegiam mais as confluências com movimentos não-eclesiásticos? Haverá uma correta e clara formação do espírito diocesano entre os padres da mesma diocese? Até que ponto não se anda a investir mais nas coisas transversais e menos nas transcendentais? Certos trajes eclesiásticos servem para afirmar-se (como é ou pretende ser visto socialmente), para assumir-se ou para defender-se? 

= De tudo quanto me tem sido dado ver e viver, considero que só pela entrega a Deus se pode compreender tanto daquilo que nos é dado apreciar. Com efeito, aquele texto que prometia cem vezes mais a quem tenha deixado tudo por amor do Reino é, na minha perspetiva e vivência, bem entendido e realizado por quem assuma este desafio. De facto, quantas oportunidades são dadas a quem se entrega numa vida de serviço a Deus e aos outros. Desde as mais insignificantes coisas até às consideradas mais complexas, tudo se torna relativo e abençoado no trato com as pessoas e na gestão das coisas. Com toda a humildade se pode e deve reconhecer que aquilo que nos fazem e proporcionam é porque o querem fazer e dar a quem dá a vida por Jesus. Quem tiver dúvidas tente experimentar…juntamente com incompreensões e até perseguições!       

 

António Sílvio Couto

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