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domingo, 9 de fevereiro de 2020

‘Não’ ao referendo sobre a eutanásia…


Lamento que tenham vindo a ganhar algum significado as movimentações em ordem a solicitar, ao parlamento, um referendo sobre a eutanásia. É preciso que sejamos ponderados e argutos naquilo em que nos – os que são contra a eutanásia – queremos meter.

Desde logo é preciso afirmar sem rodeios nem meias palavras: a vida não se referenda…nunca.

Mesmo que já tenham sido realizados dois referendos sobre a matéria do aborto…nenhum deles deu resultados representativos, à luz das regras previamente estabelecidas, em que só seria vinculativo o resultado se votassem mais de metade dos eleitores inscritos.

Tenha-se ainda na devida conta, que, quando se põe em marcha um processo, se devem ponderar quais serão as consequências daquilo em que nos envolvemos. Ora, os responsáveis sobre o hipotético referendo a propósito da eutanásia precisam de saber ler os sinais ‘favoráveis’ – fora e dentro do quadro da fé cristã – para com uma tal mentalidade pró-eutanásia. Os mentores da iniciativa a partir dos gabinetes têm de ouvir as ideias da rua. Os proponentes do (pretenso) referendo necessitam de vir para os espaços de opinião – internet, redes sociais, conversas e atitudes de vida – e de lerem o que se diz e não o que gostaríamos, cristãmente, que fosse dito. Não podem ser defraudados os subscritores do (hipotético) referendo, se a onda pró-morte está a ganhar mais espaço do que a sensibilidade à vida…na sua totalidade.

Tentemos, ainda que de forma abstrata, considerar a possibilidade de referendar a vida – entre a conceção e a morte natural – e de vermos diversos fatores não-aceitáveis dessa hipótese. Não basta aduzir o ‘endeusado’ tal tema da qualidade de vida para fazer da opção pela morte assistida uma imprescindível referência ideológica, pois muitas vezes quem, aparentemente, pode não manifestar essa tal qualidade de vida, à luz dos conceitos mais utilitários, talvez não seja compatível com a dedicação de outras pessoas que possam estar a precisar de mais atenção e de sincero cuidado.

Há, no entanto, na minha perspetiva, uma solene reserva para com o referendo sobre a eutanásia: uma grande maioria das pessoas – mesmo dos ditos praticantes mínimos – não subscreve a inquestionável defesa da vida humana, pois pela linguagem e, sobretudo, pelo comportamento há um ambiente bastante favorável para com a tendência eutanásica e uma derrota, em referendo, sobre a matéria tornaria o assunto enterrado – como aconteceu no aborto – enquanto a maioria sociológico/política para com a eutanásia, no parlamento, pode modificar-se, fazendo, assim reverter a matéria, quando as condições forem mais favoráveis…à vida.  

= Uma questão tenho e que me aflige: como foi possível passar com razoável facilidade a termos uma sensação de que há, no nosso país, uma maioria sociológica mais propensa para com a eutanásia? Que falhou por parte de quem tem a missão de proclamar a vida como valor? Não teremos andado mais a falar de coisas secundárias, deixando o essencial para espaço e oportunidade laterais? Não teremos andado mais a atender ao social – preocupados em dar o pão, mas não a educação – do que ao ético/moral? Dá a impressão que se quis moralizar, mas não formar as pessoas na sua consciência e na assunção das responsabilidades inerentes à vida…em todas as suas etapas de vivência.

Como dizia um prelado: a eutanásia não acaba com o sofrimento, acaba com uma vida! Ora, uma boa parte dos defensores da eutanásia fazem-no por pseudo-defesa dos direitos dos doentes, pois querem impor aos outros a sua forma de ver e de viver, mesmo que se esforcem por não sofrer. Atendendo à evolução dos meios técnicos e humanos postos ao serviço da saúde, seria aceitável que se quisesse facultar as melhores condições de médicas e assistenciais, mas não, uns tantos acham que esses meios devem ser usados para tirar a vida, mesmo que usando termos e expressões eufemísticas para dizer matar de forma irreversível.

Pior ainda é a tentativa de considerar o tema da eutanásia como se fosse um assunto religioso e não antes um assunto cultural e civilizacional. Estão, de facto, em confronto visões, entendimentos e comportamentos nos quais perpassam questões de âmbito ideológico, de antropologia e mesmo de postura onde Deus conta ou não. Será, por isso, essencial cada um de nós questionar-se sobre quem é e aquilo que anda por cá a fazer, respeitando os outros, sem lhes impor uma decisão não-desejada nem necessária.

Fique claro: embora seja contra o referendo, se este acontecer, direi: não à eutanásia…sempre!

 

António Sílvio Couto

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