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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Quando a Moita faz tremer o governo


Por estes dias tem sido recorrente ouvirmos que o município da Moita é um daqueles que se opõe à concretização do ‘aeroporto no Montijo’, criando com tal posição um imbróglio suficiente para vermos os responsáveis governativos a tremerem…ameaçando mudar a lei e fazendo crer que algo tem de ser modificado para que os objetivos – ditos essenciais, mas falidos de razões – possam não ser atingidos…

O que diz o tal decreto-lei? Identificação do documento: decreto-lei n.º 186/2007 de 10 de maio sobre ‘condições de construção, certificação e exploração dos aeródromos civis nacionais e respetiva classificação operacional’. Quando se fala da apreciação prévia de viabilidade da ‘construção, ampliação ou modificação’ de aeródromos civis, diz-se no artigo 5.º, n.º 3:

«Constitui fundamento para indeferimento liminar a inexistência do parecer favorável de todas as câmaras municipais dos concelhos potencialmente afectados, conforme previsto na alínea f) do número anterior [Parecer favorável de todas as câmaras municipais dos concelhos potencialmente afectados, quer por superfícies de desobstrução quer por razões ambientais], bem como a inexistência do parecer técnico mencionado na alínea g) do número anterior [Parecer técnico vinculativo, emitido pela autoridade nacional competente no domínio da meteorologia que define o tipo de informação meteorológica compatível com as características do aeródromo, nomeadamente o tipo de aproximação à pista]».

Isto foi feito por um governo socialista… há cerca de treze anos, com vários estudos e convénios de permeio… com partidos de outra coloração, mas com idênticos efeitos, senão teóricos ao menos práticos, isto é, de decidir com pompa e circunstância, mas nada fazer! Não esqueçamos o espetáculo dado com largueza e fartura de beberete antes das recentes eleições para o Parlamento Europeu, em maio de 2019! 

= Decorridos estes anos, porque se coloca, agora, a questão de querer modificar a lei? Por que razão se está a querer mudar as regras com o jogo a decorrer? Não teria advertido o legislador que se poderia verificar indeferimento do assunto por parte dos mais diversos intervenientes? Com tantos municípios envolvidos não se considerou que a construção/adaptação da base aérea n.º 6 no Montijo poderia ter quem se lhe opusse? Na diversidade e/ou divergência com os governos não se intuiu que alguma das autarquias se poderia opor? Não haverá algo de negligência ou mesmo incapacidade de prevenção, quando se quer mostrar serviço sem olhar a meios, mesmo que atropelando as leis vigentes? Não cheira a demagogia que se queira mudar a lei, pela simples razão de que a que está não serve os intentos mais populistas e com sabor a impreparação democrática? Não andarão por aí alguns tiques ditatoriais travestidos de pressa e de falta de rigor para consigo mesmo? 

= Dos dez municípios que se pronunciaram no processo para a construção/adaptação da base aérea n.º 6 a extensão do aeroporto de Lisboa, quatro foram a favor (por sinais todos da cor do governo central): Montijo, Barreiro, Almada e Alcochete) e os outros seis (com autarcas eleitos num dos partidos da antiga geringonça) pronunciaram-se contra: Moita, Seixal, Sesimbra, Benavente, Palmela e Setúbal.

De referir ainda que os dois municípios que mais têm contestado a decisão de transformar a base aérea em extensão do aeroporto de Lisboa são a Moita e o Seixal, segundo os respetivos autarcas traria afetação pelo ruído dos aviões a mais de 65 mil pessoas (30 mil no Seixal e 35 mil na Moita), podendo ainda mais 35 mil serem atingidas na convergência entre os concelhos de Sesimbra (Quinta do Conde), Barreiro (Lavradio) e Moita (Baixa da Banheira).      

Independentemente de haver diversas razões ideológicas subjacentes a esta questão do ‘aeroporto no Montijo’ seria de considerar se a solução tem futuro ou se não estará esgotada ainda antes de ser construída. Também será de perceber se queremos uma coisa que sirva de arma de arremesso de uns contra outros ou se é favorável a todos e, sobretudo, a todo o país. Se a lei previa aquele desfecho de poder se indeferida por algum dos municípios atingidos, deixará muito mal quem ouse fazer leis a gosto ou criar condições para ganhar o jogo, quando já estava a perder nos descontos. Será bom que os autarcas defendam os cidadãos e não sejam mera correia de transmissão dos partidos a que pertencem ou onde militam…acriticamente.

 

António Sílvio Couto

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