Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Em queda…livre


Imensas coisas estão a acontecer que planam numa espécie de ‘queda livre’…

Desiluda-se quem ousasse pensar que estava a referir-me a uma tal formação partidária autoapelidada de ‘livre’, pois, pelo que lá se vê e ouve, o adjetivo não condiz, quanto seria desejável, com o substantivo…Diz o povo e com razão; quanto mais alto se sobe (ou quer subir), maior é o trambolhão ou a queda.

* Reparemos nos casos de justiça – denúncias, insinuações, acusações, tentativas de julgamento, condenações – e da comunicação social, nalgumas situações arvorada em detive, sob a alçada duma pretensa investigação. Com que facilidade se promove um delinquente cibernético/hacker em quase herói…só porque trouxe ilegalmente à luz do dia assuntos e coisas que interessavam a uns tantos ditos quase-impolutos/as… 

 * Por breves momentos olhemos para os tentáculos do fenómeno desportivo, com o futebol em particular, por entre tantas negociatas quem terá ainda capacidade para ser dizer incorrupto…dependendo do preço. 

* Campos como a saúde – e nem será preciso deixar-se tomar pelo pânico do coronavírus – ou a educação caem de uma forma tão abrupta que o lamaçal das intrigas será o palco mais do que previsível…à mistura com laivos de resolução adiada, por parte de quem tutela as áreas em apreço.

* Questões como a vida – não nascida, ainda não morta e a que pretende sobreviver – perdem importância no quadro dos valores – éticos/morais, sociais ou culturais – fazendo com que pareça mais fácil decidir quem morre (agora ou no futuro) do que quem há de ser digno de suplantar tantas das conjeturas e conjunturas da legislação e da ocasião. Não deixa de quase ser sintomático da desconformidade total que fautores do serviço à vida, como médicos e enfermeiros, entram na propagação deste clima anti-vida, reinante e inconsequente.  

* Espaços onde se exercia o mínimo de fé religiosa vão ficando vazios e menos agradáveis do que em ocasiões de antanho. A queda vertiginosa com que declinaram os praticantes faz (ou deve fazer) questionar os responsáveis, tanto da organização, como da difusão. O número de ateístas cresce a olhos vistos, senão na teoria ao menos na prática: só no nosso país serão já vinte por cento da população…com uma larga maioria a dizer que teve raízes cristãs.

* Um outro campo em progressiva degenerescência de queda livre é o das (ditas) artes – teatro, cinema, televisão, ‘stand up comedy’ em particular, rábulas e cançonetismo – pois o fácil recurso à ofensa – em especial com o recurso ao léxico religioso/cristão – denota encolhimento da imaginação, senão mesmo pelo estafado recurso a clichés nem sempre dignos e tão pouco respeitadores da prática religiosa/cristã alheia… O humor exige inteligência e capacidade de inovação, mas nos tempos que correm ela passou pelos autores/atores em maré de tempestade…improvisada!

* O modo como se enfrentam temas tão essenciais como a doença, a perda ou a morte, vai-se percebendo que a forma de estar, sobretudo nesses momentos, nem sempre questiona o como se vive, ficando numa certa apatia quase negacionista ou mesmo destruída pelo sem-nexo. Mais depressa do que seria desejável – digo desde uma postura de crente cristão – entramos em círculos vivenciais nem sempre articulados com uma cultura ou ética judeo-cristã. Dá a impressão que passamos, rapidamente, de um quase fideísmo acrítico para uma outra visão agnóstica pela indiferença…pessoal e social.  

= Como poderemos suster e até inverter esta catadupa de quedas em campos, espaços e situações onde já algo houve de bom e até de muito bom? Por onde se pode e deve começar a investir para que esta queda vertiginosa de qualidade dos intervenientes possa ser revertida? Ainda iremos a tempo de não cairmos na fossa total e mortífera?

Desde logo é preciso investir na descoberta e preparação de lideranças, pois sem pessoas capazes de porem os seus dons ao serviço dos outros andaremos a rastejar pela mediocridade. Urge elevar a qualidade daquilo que é feito e apresentado, não bastando entreter, mas questionar, educar, gerar (e não só gerir) cultura, onde os valores, princípios e virtudes sejam tidos em conta e não nos deixarmos explorar pela mera brejeirice e a malcriadez reinante. Temos de ultrapassar, urgentemente, essa nota medíocre do tanto vale o que tem interesse como aquilo que não presta, expurgando este sem medo nem receio. Temos de saber escolher entre a qualidade educada e a vulgaridade barata…até no preço.    

   

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário