Numa entrevista a um jornal económico, um deputado – ex-governante e
responsável duma comissão de inquérito a um banco que faliu – referiu que o
colapso dessa instituição bancária ‘marca uma época no nosso país’ endividado e
‘que vivia acima das suas possibilidades’, alimentando desigualdades sociais e
favorecendo as elites.
Haja alguém que ponha a claro o país que somos! Pois, muitos tentam
disfarçar o incómodo de termos de assumir as nossas façanhas de pretendermos
ser aquilo que não temos possibilidade de ser… verdadeiramente. O tempo do
dinheiro barato acabou e a realidade é bem mais séria do que uns tantos
pretendem vender… nem que para isso tenham de mentir aos outros e, sobretudo, a
si mesmos.
= Numa outra polémica que tem envolvido o atual responsável do governo
português, este viu-se na necessidade de se autodeclarar um cidadão que não é
perfeito, mas que tenta cumprir as suas obrigações para com o fisco e a
segurança social. Os valores ainda não foram devidamente apurados e as
infrações parece que não foram todas corretamente detetadas!
Na tal declaração de intenções e/ou de desculpas, o PM quis lançar uma
espécie de labéu sobre o seu antecessor, rejeitando que tenha enriquecido,
favorecido e promovido outros…no exercício do tempo de poder… Ora, o visado
(sem nunca ter sido nomeado) logo veio a terreiro defender-se e acusar as
referências subtilmente emitidas a seu respeito e dos demais envolvidos…
= Vivemos, de facto, num tempo e num país que se pretende nivelar pelo
sucesso de outros países e nações europeias, nem que para tal se tente
subverter os meios para atingir os tais fins… Olhamos para o sucesso de povos
que conseguiram recuperar em meio século o que ficou destroçado no final da II
guerra mundial… Só que nos esquecemos que foi através do trabalho e não dos meros
subsídios para a preguiça que tal foi alcançado. Malgrado a nossa participação
nessa epopeia económica, através da ação de milhões de emigrantes, que venderam
a sua força de trabalho para escaparem à míngua de pão com que fomos
espezinhados… nessas mesmas décadas.
= Efetivamente nós, os que ficamos por cá, temos de aprender a lidar com a
mentalidade – muitas vezes pequenina na forma e no conteúdo – que pulveriza a
nossa sociedade e mesmo a nossa cultura. Com efeito, os sentimentos de inveja e
de maledicência estão inscritos na nossa génese mais profunda. Quantas vezes,
se alguém tem sucesso – muitas vezes sem trabalho que se veja – logo está sob a
alçada da suspeita pela forma como enriqueceu… Como é viral a observação de que
‘com o mal dos outros, podemos nós’ em vez de conjugarmos essoutra posição de
que ‘com o bem dos outros todos beneficiamos’!
= Parece que os mais de três anos de ajuda do exterior à nossa recuperação
não serviram para nos educarmos para uma contenção de despesas… pessoais,
familiares, autárquicas, estatais… Quem tem medo da ‘austeridade’ prova que
aprendeu pouco com o passado recente, julgando que tudo vai ser igual ao antes
da crise, que vivemos desde 2008. Se tudo voltar a ser igual, então, perdemos o
tempo e a forma de sermos bons aprendizes com os erros cometidos… Os gastos
supérfluos não podem voltar… As benesses dos bancos não podem surgir novamente…
As despesas incontidas e ilógicas precisam de ser cortadas, pois todos não têm
de suportar os desvarios duns tanto, que pretendiam viver acima das suas posses
e pretensões… megalómanas.
= Há valores que se aprendem no berço e não na escola. Há critérios de
conduta que se bebem com o leite materno e não na cantina. Há vivência que se
fazem em determinadas épocas da nossa educação que não se recebem nos bancos da
universidade… Falta, verdadeiramente, capacidade de transmissão desses valores,
de tais critérios e de experiências amassadas com o suor e não com a mesada…
Cristãmente dizemos: temos de aprender a ser e a viver como pobres, o que é
muito mais do que ser empobrecido… Este sentimento azeda, aquela conduta
liberta!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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