Chegou-me, por estes dias, à caixa de correio eletrónico,
a informação de uma petição intitulada: ‘súplica dos filhos a sua santidade
Papa Francisco sobre o futuro da família’.
Apresentando-se como tendo já recolhido mais de cento e
vinte mil assinaturas, manifesta – diz-se o email – que ‘esta petição é fruto
da confusão instalada pelo próprio Papa Francisco no último sínodo. Os
católicos estão apreensivos com as palavras e os atos do Papa’.
Nos objetivos desta petição ‘Súplica filial’ refere-se
ainda que ‘a sua assinatura é uma forte oração para Francisco não criar um
cisma na Igreja de Cristo’… propondo – citamos ainda palavras do dito email –
pedir ‘a Francisco para ser fidelíssimo e verdadeiro católico’.
Consultando, posteriormente, o tema na internet
percebemos que o assunto reveste-se de outra amplitude com uma certa conotação
‘conservadora’ – os proponentes assim se autoapelidam – e fazem uma razoável
lista de ‘desvios’ da Igreja católica, tais como a supressão da missa
tridentina, a forma de comungar (na mão e de pé e ministrada por leigos),
momentos de contacto e de diálogo ecuménico e inter-religioso… à mistura com
acusações de âmbito teológico, tendo em conta a questão do diabo (pessoal ou
institucional) e um pretenso menosprezo – na visão destes críticos – para com
Nossa Senhora e os santos… Recorrem ainda a ‘manifestações’ de Nossa Senhora…
tentando encontrar a confirmação das suas teses condenatórias para com a Igreja
pós-Vaticano II e, sobretudo, do Papa Francisco, naquilo que lhes soa a menos
correto… segundo o quadro semântico das suas leituras… chegando até à ousadia
de classificar algumas intervenções e gestos do Papa atual como ‘fumaça de
Satanás’!
Quem conhece, minimamente, a história da Igreja sabe que
sempre se verificou esta tensão entre setores – nalguns casos bastante
extremados – que criaram etapas de cisma. Este comporta, normalmente, mais
facetas de disciplina e menos de doutrina, embora a heresia possa vir a dar
forma a estes movimentos refratários. Digamos que para se ser ‘herege’ é
preciso ser inteligente, pois aspetos de natureza doutrinal têm de estar bem
fundamentados e intelectualmente consistentes… até para poderem seduzir outros
participantes. Por seu turno, para se ser ‘cismático’ bastará ser rebelde e
teimoso, pois dessas qualidades pode até inferir-se a falta de inteligência… e
a conveniência em resistir à mudança.
Ora, o que podemos considerar desta petição – ‘súplica
filial’ – insere-se mais no quadro de rebeldia – para ser cisma não bastarão
umas centenas de milhares de assinaturas – pois talvez não sejam capazes de
compreender o Papa Francisco (como pessoa e como responsável máximo de quase
dois biliões de crentes) que o Espírito Santo deu à Igreja católica há cerca de
dois anos. Com efeito, foi a 13 de março de 2013 que o arcebispo de Buenos
Aires foi escolhido por Deus para conduzir a Igreja neste tempo…
Deixem que pergunte com algum incómodo eclesial:
- Com estas divisões a quem servirmos? A Deus,
certamente, não é. Então, o diabo não se estará a aproveitar do
descontentamento duns tantos para ser fazer presente numa pseudo-ortodoxia?
- Como poderemos ser semeadores e servidores da Verdade
se intentamos combatê-la, usando a mentira e a manipulação?
- Até onde irá a falta de senso se pretendermos fazer-nos
defensores das nossas posições contra a autoridade do Papa e dos bispos?
- Será correto usar palavras de santos/as – desfocadas algumas
do contexto histórico e espiritual – para inferir que a nossa posição está
certa e a da Igreja hierárquica está errada?
Dizia-se, na Roma antiga, que a república não paga a
traidores! Quem se volta contra o Papa que classificação – humana, cultural e
espiritual – poderá ter?
Que Deus nos ajude a entender o profetismo do Papa
Francisco com humildade e esperança.
António Sílvio Couto
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