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sexta-feira, 6 de março de 2015

Uma petição… ao Papa Francisco


Chegou-me, por estes dias, à caixa de correio eletrónico, a informação de uma petição intitulada: ‘súplica dos filhos a sua santidade Papa Francisco sobre o futuro da família’.

Apresentando-se como tendo já recolhido mais de cento e vinte mil assinaturas, manifesta – diz-se o email – que ‘esta petição é fruto da confusão instalada pelo próprio Papa Francisco no último sínodo. Os católicos estão apreensivos com as palavras e os atos do Papa’.

Nos objetivos desta petição ‘Súplica filial’ refere-se ainda que ‘a sua assinatura é uma forte oração para Francisco não criar um cisma na Igreja de Cristo’… propondo – citamos ainda palavras do dito email – pedir ‘a Francisco para ser fidelíssimo e verdadeiro católico’.

Consultando, posteriormente, o tema na internet percebemos que o assunto reveste-se de outra amplitude com uma certa conotação ‘conservadora’ – os proponentes assim se autoapelidam – e fazem uma razoável lista de ‘desvios’ da Igreja católica, tais como a supressão da missa tridentina, a forma de comungar (na mão e de pé e ministrada por leigos), momentos de contacto e de diálogo ecuménico e inter-religioso… à mistura com acusações de âmbito teológico, tendo em conta a questão do diabo (pessoal ou institucional) e um pretenso menosprezo – na visão destes críticos – para com Nossa Senhora e os santos… Recorrem ainda a ‘manifestações’ de Nossa Senhora… tentando encontrar a confirmação das suas teses condenatórias para com a Igreja pós-Vaticano II e, sobretudo, do Papa Francisco, naquilo que lhes soa a menos correto… segundo o quadro semântico das suas leituras… chegando até à ousadia de classificar algumas intervenções e gestos do Papa atual como ‘fumaça de Satanás’!

Quem conhece, minimamente, a história da Igreja sabe que sempre se verificou esta tensão entre setores – nalguns casos bastante extremados – que criaram etapas de cisma. Este comporta, normalmente, mais facetas de disciplina e menos de doutrina, embora a heresia possa vir a dar forma a estes movimentos refratários. Digamos que para se ser ‘herege’ é preciso ser inteligente, pois aspetos de natureza doutrinal têm de estar bem fundamentados e intelectualmente consistentes… até para poderem seduzir outros participantes. Por seu turno, para se ser ‘cismático’ bastará ser rebelde e teimoso, pois dessas qualidades pode até inferir-se a falta de inteligência… e a conveniência em resistir à mudança.

Ora, o que podemos considerar desta petição – ‘súplica filial’ – insere-se mais no quadro de rebeldia – para ser cisma não bastarão umas centenas de milhares de assinaturas – pois talvez não sejam capazes de compreender o Papa Francisco (como pessoa e como responsável máximo de quase dois biliões de crentes) que o Espírito Santo deu à Igreja católica há cerca de dois anos. Com efeito, foi a 13 de março de 2013 que o arcebispo de Buenos Aires foi escolhido por Deus para conduzir a Igreja neste tempo…

Deixem que pergunte com algum incómodo eclesial:

- Com estas divisões a quem servirmos? A Deus, certamente, não é. Então, o diabo não se estará a aproveitar do descontentamento duns tantos para ser fazer presente numa pseudo-ortodoxia?

- Como poderemos ser semeadores e servidores da Verdade se intentamos combatê-la, usando a mentira e a manipulação?    

- Até onde irá a falta de senso se pretendermos fazer-nos defensores das nossas posições contra a autoridade do Papa e dos bispos?

- Será correto usar palavras de santos/as – desfocadas algumas do contexto histórico e espiritual – para inferir que a nossa posição está certa e a da Igreja hierárquica está errada?

 

Dizia-se, na Roma antiga, que a república não paga a traidores! Quem se volta contra o Papa que classificação – humana, cultural e espiritual – poderá ter?

Que Deus nos ajude a entender o profetismo do Papa Francisco com humildade e esperança. 

  

António Sílvio Couto

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