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segunda-feira, 23 de março de 2015

Época de vários ‘pês’


Sem pretendermos condicionar a nossa leitura deste tempo que estamos a viver social, religiosa e espiritualmente, vamos servir-nos da letra ‘pê’ para caraterizar estes dias: passos (pessoas e peregrinação), perdão (pecado e paz), paixão (presença e procura), páscoa (promessa e passagem), programa (palavra e profecia)…Com estes itens poderemos, assim, fazer uma leitura de cada um deles, na perspetiva da vivência dum tempo de graça e de comunhão… humanas e divinas.

1. Passos (pessoas, percurso e peregrinação)

É comum, por estes dias viverem-se os designados ‘Passos’ do Senhor, contemplando o Senhor dos Passos. Embora pareça simples é algo que nos faz percorrer os Passos da Paixão de Cristo… tanto na dimensão histórica como atualizados. Seria um erro ficarmos lá, no longe da história, a vermos os tais ‘passos’ de Jesus. Eles têm de ser vistos no hoje da nossa condição atual. Por que não refletirmos, este ano, nos ‘passos’ da família, dado o contexto dos sínodos sobre o tema? Deixo, pela positiva, alguns desses ‘passos’ – onde as dores de Nossa Senhora poderão estar nos contrastes – a meditar: comunhão (aceitação entre os membros da família), perdão (reconhecimento dos erros de todos e de cada um), vida (pais/filhos, sexualidade), partilha (carinho, crescimento, entendimento), confiança (diálogo inter-geracional e cultural), trabalho (alimento, habitação), história (passado/presente, lugar de Deus), etc. Que a emoção ao Senhor dos Passos não ofusque a nossa capacidade de conversão, hoje!

2. Perdão (pecado e paz)

Este é o tempo favorável que nos convoca à conversão pessoal, familiar, social e eclesial. Reconhecer-se pecador é uma grande graça, pois com dificuldade aceitamos as nossas falhas e tão pouco as reportamos para com Deus, os outros e nós mesmos. A celebração do perdão, através do sacramento da penitência e reconciliação, permite-nos vivermos o acolhimento da misericórdia divina – como nos fez questão de lembrar o Papa Francisco, ao convocar-nos para a celebração do próximo jubileu, na Igreja católica – criando novos relacionamentos de vida e de participação. Que não deixemos Deus esperar muito tempo, pois pela nossa fidelidade a Ele poderemos acolher e fazer partilhar a felicidade com os outros.

3. Paixão (presença e perseverança)

É significativo que para exprimirmos o máximo da entrega de Jesus por nós usemos a palavra ‘paixão’, essa mesma que usamos para nos referirmos à envolvência total da nossa vida por alguém…apaixonadamente! Se recorrermos a S. Agostinho – um apaixonado a sério – lemos: Deus é amor ‘para alcançar a paz que é a sua’. É exponencial que para falar do momento mais trágico da vida de Cristo se possa dizer simplesmente: a Paixão…como a vivência mais audaz do amor de Deus para connosco. Como deverá ser forte a nossa paixão por Jesus, ao vivermos reconhecida e silenciosamente a Paixão de Cristo por nós e em nosso favor… em Igreja, sobretudo na sexta-feira santa!

4. Páscoa (promessa e passagem)

O centro da Páscoa – com raízes judaico-cristãs – é a vivência da passagem de Deus na nossa vida e da nossa vida em Deus. ‘Páscoa’ significa libertação da escravidão para o cumprimento do tempo da promessa e ainda a própria passagem de Deus na vida libertada… sobretudo do pecado e dos sinais da morte. Que dizer, então, de tantos cristãos (católicos em particular) que trocam a vivência da principal festa da sua fé, por umas férias de sol e praia?

5. Programa (palavra e profecia)

Olhando o futuro poderemos comprometer-nos num programa que faça da nossa vivência cristã um testemunho: da Palavra acolhida faremos anúncio profético de Jesus vivo e ressuscitado. Com efeito, a alegria pascal deve transbordar em gestos e sinais comunitários… Assim o tentemos viver, já!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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