Sem pretendermos condicionar a nossa leitura deste tempo que estamos a
viver social, religiosa e espiritualmente, vamos servir-nos da letra ‘pê’ para
caraterizar estes dias: passos (pessoas e peregrinação), perdão (pecado e paz),
paixão (presença e procura), páscoa (promessa e passagem), programa (palavra e
profecia)…Com estes itens poderemos, assim, fazer uma leitura de cada um deles,
na perspetiva da vivência dum tempo de graça e de comunhão… humanas e divinas.
1. Passos (pessoas,
percurso e peregrinação)
É comum, por estes dias viverem-se os designados ‘Passos’ do Senhor,
contemplando o Senhor dos Passos. Embora pareça simples é algo que nos faz
percorrer os Passos da Paixão de Cristo… tanto na dimensão histórica como
atualizados. Seria um erro ficarmos lá, no longe da história, a vermos os tais
‘passos’ de Jesus. Eles têm de ser vistos no hoje da nossa condição atual. Por
que não refletirmos, este ano, nos ‘passos’ da família, dado o contexto dos
sínodos sobre o tema? Deixo, pela positiva, alguns desses ‘passos’ – onde as
dores de Nossa Senhora poderão estar nos contrastes – a meditar: comunhão
(aceitação entre os membros da família), perdão (reconhecimento dos erros de
todos e de cada um), vida (pais/filhos, sexualidade), partilha (carinho,
crescimento, entendimento), confiança (diálogo inter-geracional e cultural),
trabalho (alimento, habitação), história (passado/presente, lugar de Deus),
etc. Que a emoção ao Senhor dos Passos não ofusque a nossa capacidade de
conversão, hoje!
2. Perdão (pecado e paz)
Este é o tempo favorável que nos convoca à conversão pessoal, familiar,
social e eclesial. Reconhecer-se pecador é uma grande graça, pois com
dificuldade aceitamos as nossas falhas e tão pouco as reportamos para com Deus,
os outros e nós mesmos. A celebração do perdão, através do sacramento da
penitência e reconciliação, permite-nos vivermos o acolhimento da misericórdia
divina – como nos fez questão de lembrar o Papa Francisco, ao convocar-nos para
a celebração do próximo jubileu, na Igreja católica – criando novos
relacionamentos de vida e de participação. Que não deixemos Deus esperar muito
tempo, pois pela nossa fidelidade a Ele poderemos acolher e fazer partilhar a
felicidade com os outros.
3. Paixão (presença e
perseverança)
É significativo que para exprimirmos o máximo da entrega de Jesus por nós
usemos a palavra ‘paixão’, essa mesma que usamos para nos referirmos à
envolvência total da nossa vida por alguém…apaixonadamente! Se recorrermos a S.
Agostinho – um apaixonado a sério – lemos: Deus é amor ‘para alcançar a paz que
é a sua’. É exponencial que para falar do momento mais trágico da vida de
Cristo se possa dizer simplesmente: a Paixão…como a vivência mais audaz do amor
de Deus para connosco. Como deverá ser forte a nossa paixão por Jesus, ao
vivermos reconhecida e silenciosamente a Paixão de Cristo por nós e em nosso
favor… em Igreja, sobretudo na sexta-feira santa!
4. Páscoa (promessa e
passagem)
O centro da Páscoa – com raízes judaico-cristãs – é a vivência da passagem
de Deus na nossa vida e da nossa vida em Deus. ‘Páscoa’ significa libertação da
escravidão para o cumprimento do tempo da promessa e ainda a própria passagem
de Deus na vida libertada… sobretudo do pecado e dos sinais da morte. Que
dizer, então, de tantos cristãos (católicos em particular) que trocam a
vivência da principal festa da sua fé, por umas férias de sol e praia?
5. Programa (palavra
e profecia)
Olhando o futuro poderemos comprometer-nos num programa que faça da nossa
vivência cristã um testemunho: da Palavra acolhida faremos anúncio profético de
Jesus vivo e ressuscitado. Com efeito, a alegria pascal deve transbordar em
gestos e sinais comunitários… Assim o tentemos viver, já!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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