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quinta-feira, 19 de março de 2015

Novos intérpretes, obviamente!


«Com políticos antigos não haverá políticas novas. Tudo ficará enredado em calculismos, golpes, hesitações, sem elevação e sem futuro. Recusemos sebastianismos, populismos e justicialismos» -- disse António Sampaio da Nóvoa – putativo candidato à Presidência da República – no (auto) designado ‘congresso da cidadania’, promovido, recentemente, em Lisboa, pela ‘associação 25 de abril’. Sampaio da Nóvoa acentuou ainda que «quem gostar muito de dinheiro deve afastar-se da política. Se tiver as mãos atadas de promiscuidades, tramas e tramoias não terá condições para defender o interesse de todos».

Atendendo à plateia – e aferindo mesmos os promotores do evento – este discurso tinha, claramente, em frente os visados, pois muitos deles andam há cerca de quatro décadas pelos corredores do poder e as coisas continuam a degradar-se… pegajosamente!

Pelas reações vistas não foi esse o entendimento da sala, que – dizem as notícias – rejubilou de pé com a referência do interveniente a outros que não eles…e, claro, numa alusão com quem vai competir com eles em próximos atos eleitorais…

= Perante uma certa efabulação destas declarações surgiram-me algumas questões… onde nem todos estão imunes de acusação nem tão pouco podem dar lições a outros sem que não possam colher idênticos resultados:

- Que dizer, então, daquele ‘ilustre’ friso de personagens, que ocupam os primeiros lugares em certas bancadas do parlamento: não foram esses tais que originaram um certo descalabro das finanças públicas? Poderão ser eles os salvadores ou converter-se-ão, novamente, em coveiros… sociais e nacionais?

- Seremos um povo sem memória e vendível por um tal prato de lentilhas? Até onde irá a falta de senso e a irresponsabilidade em conferir o poder a quem não tem o mínimo de autoridade?

- Teremos de ter de aceitar que nos queiram vender um produto político de baixa qualidade, quando em latitudes próximas – como França – já percebemos a inoperância das ideias e dos ideólogos?

- Como poderemos levar a sério as soluções apresentadas, se elas enfermam de mera verborreia e pouca capacidade económica de vingarem… para além duma nova miséria social e de subsidiodependência?

= Vivemos, efetivamente, uma crise de liderança, seja nas coisas públicas, seja nas que (dizem) são de expressão privada. É um tanto recorrente vermos que há uns alguns/as que pretendem ascender a cargos de (co)mando, mas que não reúnem o mínimo das condições. Por outro lado, percebemos que quem deveria assumir esses lugares, apresenta escusa porque não quer ver a sua vida exposta ou devassada e muito menos correndo o risco de ter de enfrentar a oposição duma certa arruaça. Deste modo vemos que, quem quer mandar não devia, e que, quem devia estar nos lugares de autoridade, vão deixando que suas qualidades não sejam desenvolvidas… muitas das vezes por inveja, maledicência e má-fé.

= Urge que seja desenvolvida uma regeneração da democracia – no pensamento de grandes figuras, o menos mau dos regimes – por forma a que não sejam colocados no poder os mais incompetentes, os protegidos (e protetores) por interesses e lóbis, os arietes de forças subterrâneas e paus-mandados de ideologias transnacionais e tantos outros bem-falantes, mas ocos de ideias e de atitudes de serviços aos outros.

A prova de que é mais fácil dar lições do que colhê-las foi a atenção de soslaio com que foram escutadas – mas não refletidas – as advertências do senhor professor jubilado… pois quem o ouviu, não escutou e, talvez, nem ele mesmo quererá seguir o que disse, pois, se assim fosse, dada a sua idade, deixaria campo aberto para outros intérpretes e não se perfilharia ele mesmo na grelha das soluções, pois fez e faz parte do problema… ideológico de outros tantos aventalistas.

= Em tudo isto vimos e registamos o desfasamento cultural em que vivemos, pois as críticas são mais ou menos boas se atingem os adversários, mas não colhem se nos atingem… suficientemente. Assim, não!    

 

António Sílvio Couto

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