«Com políticos antigos não haverá políticas novas. Tudo
ficará enredado em calculismos, golpes, hesitações, sem elevação e sem futuro.
Recusemos sebastianismos, populismos e justicialismos» -- disse António Sampaio
da Nóvoa – putativo candidato à Presidência da República – no (auto) designado
‘congresso da cidadania’, promovido, recentemente, em Lisboa, pela ‘associação
25 de abril’. Sampaio da Nóvoa acentuou ainda que «quem gostar muito de
dinheiro deve afastar-se da política. Se tiver as mãos atadas de
promiscuidades, tramas e tramoias não terá condições para defender o interesse
de todos».
Atendendo à plateia – e aferindo mesmos os promotores do
evento – este discurso tinha, claramente, em frente os visados, pois muitos deles
andam há cerca de quatro décadas pelos corredores do poder e as coisas
continuam a degradar-se… pegajosamente!
Pelas reações vistas não foi esse o entendimento da sala,
que – dizem as notícias – rejubilou de pé com a referência do interveniente a
outros que não eles…e, claro, numa alusão com quem vai competir com eles em
próximos atos eleitorais…
= Perante uma certa efabulação destas declarações
surgiram-me algumas questões… onde nem todos estão imunes de acusação nem tão
pouco podem dar lições a outros sem que não possam colher idênticos resultados:
- Que dizer, então, daquele ‘ilustre’ friso de
personagens, que ocupam os primeiros lugares em certas bancadas do parlamento:
não foram esses tais que originaram um certo descalabro das finanças públicas?
Poderão ser eles os salvadores ou converter-se-ão, novamente, em coveiros…
sociais e nacionais?
- Seremos um povo sem memória e vendível por um tal prato
de lentilhas? Até onde irá a falta de senso e a irresponsabilidade em conferir
o poder a quem não tem o mínimo de autoridade?
- Teremos de ter de aceitar que nos queiram vender um
produto político de baixa qualidade, quando em latitudes próximas – como França
– já percebemos a inoperância das ideias e dos ideólogos?
- Como poderemos levar a sério as soluções apresentadas,
se elas enfermam de mera verborreia e pouca capacidade económica de vingarem…
para além duma nova miséria social e de subsidiodependência?
= Vivemos, efetivamente, uma crise de liderança, seja nas
coisas públicas, seja nas que (dizem) são de expressão privada. É um tanto recorrente
vermos que há uns alguns/as que pretendem ascender a cargos de (co)mando, mas
que não reúnem o mínimo das condições. Por outro lado, percebemos que quem
deveria assumir esses lugares, apresenta escusa porque não quer ver a sua vida
exposta ou devassada e muito menos correndo o risco de ter de enfrentar a
oposição duma certa arruaça. Deste modo vemos que, quem quer mandar não devia,
e que, quem devia estar nos lugares de autoridade, vão deixando que suas
qualidades não sejam desenvolvidas… muitas das vezes por inveja, maledicência e
má-fé.
= Urge que seja desenvolvida uma regeneração da
democracia – no pensamento de grandes figuras, o menos mau dos regimes – por
forma a que não sejam colocados no poder os mais incompetentes, os protegidos
(e protetores) por interesses e lóbis, os arietes de forças subterrâneas e
paus-mandados de ideologias transnacionais e tantos outros bem-falantes, mas
ocos de ideias e de atitudes de serviços aos outros.
A prova de que é mais fácil dar lições do que colhê-las
foi a atenção de soslaio com que foram escutadas – mas não refletidas – as
advertências do senhor professor jubilado… pois quem o ouviu, não escutou e,
talvez, nem ele mesmo quererá seguir o que disse, pois, se assim fosse, dada a
sua idade, deixaria campo aberto para outros intérpretes e não se perfilharia
ele mesmo na grelha das soluções, pois fez e faz parte do problema… ideológico
de outros tantos aventalistas.
= Em tudo isto vimos e registamos o desfasamento cultural
em que vivemos, pois as críticas são mais ou menos boas se atingem os
adversários, mas não colhem se nos atingem… suficientemente. Assim, não!
António Sílvio Couto
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