Um estudo recente, publicado na revista da academia americana das ciências
(PNAS), referia que os pais a cujos filhos é dito que são ‘mais especiais do
que as outras crianças’ ou ainda que ‘merecem algo extraordinário na vida’ tinham
maior probabilidade de serem mais narcisistas do que outras crianças que não
recebiam tantos elogios…
O mesmo estudo valoriza ainda a estratégia dos pais em influenciarem os
filhos com palavras e gestos de apoio e carinho… mas na correta medida, tendo
em conta a correlação entre autoestima e o narcisismo, pois este pode criar
pontos de conflito com os outros, enquanto aqueles ‘não acreditam serem
melhores do que os outros’…a todo o custo.
= Dos pundonores… à
autoestima
Ser recorrermos à linguagem cultural e espiritual de autores e santos
veremos que usam, muitas vezes, a necessidade de que o nosso ‘eu’ seja
corrigido, tendo em conta os nossos ‘pontos de honra’, que com alguma (ou
bastante) dificuldade aceitamos que toquem, pois como que são intocáveis, senão
na forma ao menos no conteúdo. Com efeito, há pessoas que não admitem – nalguns
casos até mesmo por atitude inconsciente – que as melindrem naquilo que lhe é
muito estimado… há facetas que são essenciais na sua ‘personalidade’ e que se
ofendem se tal parecer invadir a sua (pretensa) identidade.
Santa Teresa de Ávila faz-se eco, em si mesma, desses pundonores que a
vulnerabilizavam, embora fossem aspetos da sua vida a corrigir pelas mãos
daqueles/as que com ela caminhavam… De facto, seria como que podar as excrescências
do seu eu mais inchado e a precisar de correção.
Nos tempos mais recentes surgiu a vaga – muito por influência da visão
holística da ‘nova era’ – da promoção, incentivo e culto da autoestima: aí onde
cada qual não pode ser tocado porque invadido pelos outros…e, portanto,
violentado no que há de essencial e mais identitário.
Ora, muita de promoção da autoestima – mesmo em contextos cristãos e
católicos – tem trazido uma razoável confusão à educação segundo os valores
mais básicos. Quantas vezes a autoestima se confunde com defeitos de
personalidade, mas porque intocáveis têm de ser respeitados, embora sejam
dispensáveis e a exigir correção. Quantas vezes essa autoestima colide com
outras autoestimas e criam-se conflitos de interesses senão mesmo de egos mais
ou menos sob a capa de fortaleza disfarçada ou encapotada de virtudes… embora
defeituosa.
A autoestima resolveu, em certas situações, alguns problemas psicológicos, mas
trouxe-nos outras questões interiores e de relacionamento entre as pessoas…
Muitos egos em confrontos colidem pela conquista de protagonismo, senão claro,
ao menos tácito!...
… Passando pelo
reconhecimento dos seus erros… perdoados
Ora, um cristão, que procura conhecer-se, sabe (ou deve saber) que tem dons
e qualidades, mas também defeitos e pecados. Estes não podem ser resguardados
pela autoestima, mas reconhecidos, confessados e convertidos… mesmo pelo
sacramento da Penitência e reconciliação.
Nós sabemos e aceitamos que o perdão dado e recebido faz com que os nossos erros
e pecados sejam submetidos à misericórdia de Deus e, por seu turno, assumimos a
decisão de os corrigirmos com a ajuda de Deus e dos outros em Igreja. É isso
que nos distingue da mentalidade da ‘nova era’, pois não é na nossa confiança
exacerbada pela autoestima que cremos, mas na força de perdão do amor de Deus
derramado em nós, sobretudo, pelo e no sacramento da compaixão de Jesus.
Num tempo tão ávido de vitórias pessoais, torna-se exigente ser humilde,
deixando-nos corrigir pelas mãos uns dos outros e pela palavra de carinho dado
e recebido.
Quais são, afinal, os meus pundonores que precisam de conversão?
António
Sílvio Couto
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