De entre
tantas simbologias para falar do Natal, o coração é um dos mais simples e
significativo… na medida em que será (ou deverá ser) no nosso coração que
devemos acolher Jesus, particularmente neste Natal.
Numa
proposta de caminhada de Advento o tema deste ano da paróquia, onde estou há
mais de quatro anos, é: ‘Jesus tem lugar
no meu coração?’ Esta pergunta ir-se-á desenvolvendo ao longo desta
preparação para o Natal através do recurso para todos os participantes,
sobretudo, na missa, na composição da palavra Jesus, atendendo ao desenrolar da
purificação dos cinco sentidos corporais e criando melhores condições de
acolhimento de Jesus no nosso (meu) coração.
Por
muito que possa desagradar às pessoas mais conservadoras de certas tradições
natalícias, o Natal não é a festa da família… embora se pretenda reunir a
família por ocasião do Natal. O Natal é a celebração do nascimento de Jesus,
que poderá dar sentido à reunião familiar, se esta não esquecer O festejado. A
família pode reunir-se – nem que seja de forma nostálgica e recordativa –
sempre que quiser, tanto por ocasião de um aniversário, como em memória de algo
importante que lhe seja conveniente. Claro que quem não tem fé é-lhe mais favorável
recorrer ao epíteto de ‘festa de família’ do que centrar a celebração do Natal no
essencial. Neste como noutros fenómenos de cristandade, há que usufrua das
datas sem lhes viver o sentido correto e verdadeiro. Uma coisa é o que é a
celebração do Natal, outra é aquilo que pretendemos que seja. Natal sem Jesus é
efeméride, não é Natal!
Por
muito que se clame contra a marca de consumismo no Natal, este pouco
significado terá se continuarmos a fazer-de-conta que o vemos e vivemos sem que
O festejado tenha espaço em nós e à nossa volta. Mais uma vez queremos que o
Natal seja aquilo que não pode ser: cheio de coisas materiais e O festejado a
sobrar, pois não tem espaço nem oportunidade por entre tanta tralha
materialista e hedonista. A tropelia de prendas e presentes pode afogar a
capacidade de perceber que a nossa felicidade não estar em ter, mas em ser,
isto é, não será pela quantidade de coisas que damos ou recebemos, mas pela
qualidade do modo como nos acolhemos dentro e fora de casa, no trabalho ou na escola,
na rua ou na igreja… Jesus está no outro e espera o meu acolhimento fraterno e
sincero.
Quando
tanta gente passa necessidades – materiais e económicas, psicológicas e
emocionais – não podemos deixar-nos levar pela desculpa de que só se interessam
por eles no Natal… Sim, mal iríamos se já nem no Natal atendêssemos aos outros.
Com efeito, o egoísmo conquista cada vez mais terreno na cultura dos nossos
dias, pois os outros não passam de coisas bem menos valiosas do que os animais
e ou até do que os interesses em ter algo que se possa exibir como troféu de
valorização social… Aqui talvez não haja Natal!
= Coração de Natal
Diante
destas leituras daquilo que o Natal não é, parece-nos oportuno deixar breves
referências ao que o Natal deve ser, desde que seja vivido com o coração
evangelizado em Jesus e por Jesus:
- Um
coração onde Jesus tenha lugar e os outros tenham oportunidade de serem
reconhecidos como pessoas com direitos e deveres, onde lhes fazemos o que
gostaríamos que nos fizessem a nós.
- Um
coração que sofre com os sofrimentos dos outros, estendendo-lhes a mão e dando
sem nada esperar em troca… talvez nem um obrigado, desculpando até os
esquecimentos.
- Um
coração que levanta os que vivem prostrados pelas agruras da vida, dando-lhes
resposta no devido tempo e não esperando ou fazendo esperar pelo nosso ritmo de
compreensão.
- Um
coração que seja plural, isto é, que entenda os outros com olhos purificados, que
escute os outros com ouvidos atentos, que fale com boca capaz de dizer só o que
deve e com um olfato que exale o perfume das coisas divinas em si e à sua
volta, tocando e deixando-se tocar pela presença amorosa de Jesus, hoje.
É
verdade, se vivermos o Natal com o coração, o mundo será menos frio, se o nosso
coração tiver sido aquecido em Jesus e por Jesus. Um santo Natal de coração
quente em Deus!
António
Sílvio Couto
Amén.
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