Como é habitual com a aproximação ao Natal – entraremos
dentro de dias na reta final, com a única ‘novena’ litúrgica que temos oficialmente
– vão surgindo votos e desejos para esta época, onde se exprimem, na maior
parte das vezes os nossos interesses (por vezes mesquinhos e egoístas) mais do
que apresentamos uma visão com alcance para com os outros e para a construção
dum mundo mais humano porque mais fraterno e cristão.
= Quando vemos tanta gente, sofregamente, a invadir os
espaços comerciais para fazerem as designadas ‘compras de Natal’ como que
sentimos que algo parece reduzir este momento celebrativo de índole cristã para
ser, essencialmente, duma espécie de aliciante para engordar a sociedade de
consumo, onde O festejado não tem lugar nem oportunidade de ter espaço ou
tempo.
Diante deste afã de coisas materialistas, como eu desejo
que se possa dar mais tempo a acolher a Pessoa de Jesus, sentindo e vivendo as
diversas etapas dessa renovação e conversão. Há, no entanto, uma larga margem
de pessoas da nossa convivência que desconhece Jesus, como O festejado do
Natal. Temos de usar múltiplas estratégias para O fazermos conhecer com gestos
e palavras, sinais e desafios, pois muita gente perdeu as referências mínimas a
Jesus, verbo encarnado e redentor… até muitos dos nossos cristãos mais ou menos
rotineiros…nesta época de festas, engolem a sua religião com as comezainas e
bebereiras mais ou menos exageradas.
= Quando vemos tantas pessoas a acentuarem o Natal como sendo
a ‘festa da família’, parece-nos que estamos a distrair-nos com aspetos
secundários… mesmo que possam ser apresentados como importantes… sobretudo se
nos situarmos nesta cultura laicista e tendencialmente agnóstica.
Perante essa vertente mais ou mesmo nostálgica – onde se
fala mais de uma família que foi do que de uma família que é e que pretende ser
de verdade – temos de referenciar-nos ao modelo da Família de Nazaré, pois
nessa discrição sumária se atribuem faculdades e atributos que a família de
hoje não acolhe, não vive nem aceita, pois está mais assente na base do
interesse do que da dádiva, na confluência de vidas do que laços de ternura
dada e recebida.
Há aspetos da Família de Nazaré (Jesus, Maria e José) que
não se coadunam com modas nem com ressabiamentos, sejam de experiências mal
resolvidas, sejam de episódios de infelicidade (ou até de infidelidade) onde as
vítimas se podem confundir com os agressores. De fato, a família precisa de
princípios e de estabilidade, tanto das pessoas como dos compromissos… E Deus
deve fazer parte destas dimensões mais simples e essenciais… ontem como hoje.
= Quando percebemos que certas ocorrências se sobrepõem
ao fundamental, não podemos acreditar que o espírito de Natal possa ser vivido
com injustiças e ofensas, com falta de emprego e má habitação, com desonestidade
e aldrabice, com acusações e suspeitas, com mentira e corrupção, com intrigas e
bisbilhotice, com má-fé e maledicência, com intrujice e conluios, com
protagonismos que ofendem e que aviltam a dignidade humana… Quando tudo isto
acontece, não há Natal!
Só quando retomarmos o verdadeiro e sincero espírito de
Natal nada poderemos ter a esconder, antes a anunciar; nada teremos a perder,
antes a ganhar; nada imporemos para vencer, mas antes seremos servos da
Verdade, do Perdão e da Paz… que Jesus, no Natal, nos veio trazer.
- de acolher mais e melhor Jesus no meu coração e também
naqueles com quem vivo e convivo;
- de aprender a celebrá-Lo em família à maneira da
Sagrada Família de Nazaré;
- de viver o compromisso de construir – por entre
tentativas e falhanços – um mundo mais humano, mais fraterno, mais
solidário…porque mais cristão.
Assim o cremos e o desejamos, já!
António Sílvio Couto
Boa noite, Padre
ResponderEliminarA propósito da sua prosa, permita uma breve reflexão.
Tenho como católico na Sagrada Família de Nazaré a minha referência, o modelo de família a seguir. É na família que, na minha opinião, está o sustentáculo fundamental de uma vivência de partilha, paz e amor, de entreajuda nos bons e maus momentos, para uma convergência humanística em consonância com os ensinamentos que Jesus nos deixou.
Infelizmente, nas últimas décadas, a família tem vindo sistematicamente a degradar-se, sendo quase desconhecida para a geração atual o seu norteador conceito fundamental. É a própria sociedade que está a criar as condições para a sua própria degradação, para o seu esvaziamento e consequente vivência sem sentido.
Os pais idosos são abandonados ou nas suas casas ou nos lares ou ainda deixados sem documentos nos hospitais; aos filhos, para que não chateiem, é dado dinheiro para irem, ainda menores, para a noite ou vulgo, saírem com amigos. A família tradicional portuguesa está em vias de extinção, se já não estiver extinta.
Alçada Baptista escreveu um magnífico texto sobre o abandono dos idosos a quem chamou de despojos humanos; também se escreve sobre a juventude alegando ser geração perdida. A verdade, na minha opinião, é a degradação da sociedade e consequentemente a degradação da família.
Termino, desculpe Padre ter alongado a prosa, com a frase de um amigo que adapto a propósito : “PARECE QUE NADA APRENDEMOS COM O HOMEM QUE MORREU NA CRUZ POR NÓS”.
Boa noite Padre Silvio.
Orlando J.C. Martins