Por
estes dias ouvimos – e talvez até digamos – palavras e expressões um tanto
rotineiras e (quase) numa expressão de vivência coletiva de cristandade pagã ou
mais ou menos paganizada: boas festas, bom natal, feliz natal, próspero ano
novo, bom ano… E nem o desejado santo natal ou um novo ano abençoado me
satisfazem… minimamente!
Não sei
bem porquê, mas este ano não me apetece sequer responder a este tipo de
palavras, não as usando nem ripostando com outras – um tanto mais cristãs – que
até poderiam colidir com os (pretensos) desejos do interlocutor.
Este
ambiente de faz-de-conta como que percorre tantos momentos da nossa vida… mas,
nesta época da verdade, que é o tempo de Natal (celebração religiosa cristã e
vivência de balanço sobre o passado), tudo se torna mais acutilante na denúncia
e na incongruência, desde o que se sente até àquilo que se percebe estar
desfasado do projeto de vida mais profundo… Aquelas palavras e frases soam-nos,
então, a algo que não corresponde ao verdadeiro sentido do Natal nem tão pouco
aos desafios que um Natal cristão exige e merece. Por vezes aquelas palavras
mais parecem estribilhos de circunstância do que desejos sinceros e
verdadeiros.
= Entrar na onda ou destoar?
O viver
em sociedade exige-nos uma grande capacidade de adaptação, tanto àquilo que se
pensa e propõe como àquilo que são os motivos norteadores da nossa conduta.
Quem não terá já tido a necessidade de aprender a estar com outros, dado que
está deslocado do seu habitat de origem. A cultura humana faz-nos saber
aprender a relacionar-nos com os outros, respeitando-os e sendo nós também
respeitados.
Há quem
tente medir a inteligência de uma pessoa pela sua capacidade da adaptação a
novas realidades, muitas vezes, adversas… muito mais do que pela compreensão a
problemas de natureza abstrata ou metafísica. Quantas vezes uma pessoa simples
se desenrasca – perdoando o termo popular – muito melhor do que um doutor ou um
engenheiro, cuja capacidade intelectual se afunilou noutras questões que não as
da vida do dia-a-dia.
É digno
de registo que os portugueses têm uma inigualável capacidade de se adaptarem a
novas realidades como outros povos não são capazes. Dir-se-á que é uma força de
sobrevivência em momentos de adversidade…isso como que nos está inato no
sangue… Somos, deste modo, muito mais versáteis do que outros povos e culturas.
Por
outro lado, somos ainda um povo que se adapta com grande facilidade às modas
mais diversificadas, podendo parecer que sabemos as razões, mas antes nos situamos
nos benefícios mais do que nas causas de sermos desse modo. Dado que estamos no
cruzamento geográfico entre a Europa e o resto do mundo recebemos influências
de todos e parecemos estar ao ritmo de tantos outros, mas, na maior parte das
vezes, isso só se verifica pela fachada. Se quiséssemos encontrar uma imagem
destes dias: somos um bom papel de embrulho (vistoso, atrativo e ilusório), mas
o conteúdo nem sempre se adequa ao que parece mostrar!
= Coerência na linguagem… cristã
Mesmo
que de forma simples gostaríamos de apresentar breves sugestões para que o
nosso linguajar seja minimamente coerente. Para isso citamos o Papa Francisco,
na sai mensagem para o próximo dia mundial da paz: ‘praticando no dia-a-dia
pequenos gestos como dirigir a palavra, trocar um cumprimento, dizer ‘bom dia’
ou oferecer um sorriso…Estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam
nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa’.
Talvez
tenhamos de tentar exercitar algum destes aspetos, pois com facilidade nos
podemos fechar no circuito das nossas relações circunstanciais, servindo-nos de
frases-feitas sem conteúdo ou de expressões cujo nexo de coerência pouco mais
não dizem do que palavras ocas e vazias… de nós mesmos e aos outros.
Que o
nosso Natal seja em louvor d’Aquele que é a razão da festa e não dos apêndices
mais ou mesmo artificiais… com que nos entretemos!
António Sílvio Couto
Hoje em dia todos falam da palavra de Deus”. Outros andam visitando várias igrejas, mesmo sabendo que ensinam e praticam coisas erradas, porque “se sentem bem”. Ainda outros dão pouca importância ao estudo cuidadoso e constante da palavra de Deus, preferindo ler e ouvir as ideias e os ensinamentos de homens. Mas é isso o que Deus quer? Será que temos que meter Deus nisto?
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