Foi com um misto de surpresa e de incredulidade que ouvi
esta frase: ‘não meta Deus nisto’… dito no contexto de uma conversa telefónica,
sobre um assunto que já não recordo e proferido por uma pessoa que acreditava
ter fé… esclarecida e com maturidade.
Nesse mesmo dia, num programa televisivo, onde era
solicitado às intervenientes (são só mulheres) falarem sobre votos de Natal,
uma delas afirmou-se antiteísta, sem precisar de Deus para nada e, portanto, o
Natal não tem, em seu entender, sentido como vivência religiosa e muito menos
cristã…
Fique, desde já, esta declaração de princípio: para mim
Deus está em tudo, envolve-me por dentro e por fora e aceitá-lo na vida tem
significado, absolutamente, em todos os momentos… mesmo os mais difíceis e
complicados, na dor como no sofrimento, com agrado, sem tanto fervor…ou mesmo
na provação.
= Deus tem
ocasiões?
É, efetivamente, recorrente encontramos pessoas para as
quais Deus não está sempre presente, mas em certas ocasiões Ele não tem – ou não
convém ter – espaço nem lugar. Dá a impressão que, nas situações mais
complexas, Deus parece não ter oportunidade. Há problemas onde Deus parece não
contar, seja pela presença, seja pela (aparente) ausência.
Até pode haver quem pretenda reduzir a capacidade de Deus
estar presente ao contexto do templo, sobretudo se for numa conjuntura
agradável e proveitosa, pois quando, nem tudo corre bem nem as pessoas estão
(totalmente) convertidas, Deus já não ter o mesmo significado nem compreensão.
Sem pretendermos vulgarizar o que estamos a tratar,
diríamos que há pessoas que querem um Deus ‘boca doce’ (era a marca de um pudim
instantâneo, noutros tempos) e o coração quente! Ora nem sempre isso é possível
viver e sentir, pois as agruras da vida deixam marcas e feridas, mas Deus cuida
de nós, muito mais do que sejamos capazes de imaginar.
Nada acontece fora do alcance de Deus, nem mesmo as
coisas más, as pessoas perversas ou os acontecimentos dramáticos e funestos.
Deus está aí…ou mais não seja pela ausência da sua revelação e pela aceitação
daquilo que Ele permita que aconteça.
Num tempo que se pretende sábio nas suas realizações
tropeçamos a cada hora como falhas da inteligência humana, das faculdades mais
elevadas da humanidade e das lacunas de cada um de nós, sobretudo quando o
orgulho não nos deixa ver as limitações como janelas por onde Deus espreita
para nos dar novas capacidades de construção dum mundo mais humano e mais
fraterno.
Para um crente a abertura ao divino faz-se em cada
milésimo de segundo da nossa existência, descobrindo as centelhas do amor de
Deus em cada ser vivo e nos vários elementos da natureza. O mal é que andamos
muito ocupados connosco mesmos e com os nossos interesses mesquinhos, vulgares
e egoístas.
Por vezes as pessoas só servem se estão ao nosso serviço.
Ouvir uma observação menos grata ao nosso eu faz-nos criar inimigos ou ao menos
adversários em cada canto das brechas da nossa cambaleante existência.
Custa-nos muito que descubram as nossas limitações. Encobrimo-las a toda a
força para que não saibam que a imagem que queremos dar aos outros não
corresponde à imagem que temos de nós mesmos e tão pouco da realidade que
inferioriza o conceito que temos de nós mesmos.
Há processos de conduta humana onde a presença de Deus
poderia parecer mais uma denúncia da nossa incapacidade em crescermos pela
aceitação e não pela efabulação do nosso eu ressentido e ciumento. Ora Deus em
nada nos acusa, antes nos levará a sermos amados como somos e não meramente
como gostaríamos de o ser. Ele toca as fimbrias da nossa mais recôndita vida e
engrandece-nos pela confiança que temos n’Ele. Com efeito, humildar-se
engrandece-nos no mais profundo do nosso ser e só Deus nos conhece e nos ama
sem nos acusar. Deus está e felicita-nos pelo dom da vida nas suas mais
diversas manifestações. Assim O aceitemos, hoje e para o resto dos nossos
dias!
António Sílvio Couto
Hoje em dia todos falam da palavra de Deus”. Outros andam visitando várias igrejas, mesmo sabendo que ensinam e praticam coisas erradas, porque “se sentem bem”. Ainda outros dão pouca importância ao estudo cuidadoso e constante da palavra de Deus, preferindo ler e ouvir as ideias e os ensinamentos de homens. Mas é isso o que Deus quer? Será que temos que meter Deus nisto?
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