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domingo, 30 de novembro de 2014

Não há direito de ridicularizar a desgraça


No discurso final do responsável máximo do Partido Socialista, ontem, domingo, entrou em cena uma atriz a ler aquilo que foi apelidado uma lista das trintas e tal mulheres vítimas de violência doméstica…
O assunto é demasiado trágico para ser usado em jeito de populismo, sobretudo se a assumi-lo uma figura do teatro e da televisão… sabe-se lá em que época de atual carreira. As pessoas que sofrem não podem ser instrumentalizadas por políticos em maré de campanha e num circo tão mediatizado.
Noutros tempos e noutro partido um ator leu uma mensagem do líder doente e fez-lhe todos os salamaleques como se ele estivesse na tribuna. Agora este inciso às vítimas da violência doméstica foi uma espécie de desonestidade intelectual e emocional, pois pareceu querer fazer da dor de tantas pessoas um respigo ideológico… e bandeira partidária. Ou será que aquilo foi uma forma de tentar exorcizar o fantasma do ausente, criando fait-divers de circunstância duvidosa?
No congresso, não interessa o que foi dito… até porque quem divergia foi afastado. Não interessa um certo triunfalismo… em surdina. De pouco importa haver quem desenterre figuras sinistras dum passado recente… a quem pouco devemos, antes pelo contrário. De pouco vale a pena vir tentar fazer a ponte sobre a austeridade… se nada muito pouco se fez para ser parte da solução. De pouco vale varrer para debaixo do tapete os erros não assumidos.
Se é, assim, que pretendem ganhar o poder – fazendo populismo com a desgraça alheia – temos de pensar melhor que país queremos!
Desta forma, não, obrigado!

Anónio sílvio couto
(asilviocouto@gmail.com)


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