Por
estes dias ocorreu o vigésimo quinto aniversário da queda do ‘muro de Berlim’,
que associado à cortina de ferro entre o mundo comunista e a sociedade
ocidental, na Europa, representaram o ‘muro da vergonha’. Tudo isto aconteceu
em 1989: ano simbólico de uma nova etapa da cultura de liberdade, de
solidariedade e de comunicação.
Tive, em
1986, a grata possibilidade de ter estado uma semana em Berlim… recebendo
informações políticas e sociais e vivendo na prática o garrote da ‘liberdade’
de Leste… onde o semáforo do homem a marchar era um símbolo mais do que decorativo
do lado de lá do muro, pois representava a militarização patente em tudo, mesmo
nos pormenores de trânsito e no mais subtil controlo dos movimentos dos
‘invasores’ ocidentais…
Voltei,
cerca de dez anos depois, a pisar o solo berlinense e vi as cicatrizes nas ruas
e nas mentalidades. À época de 1996, Berlim (antiga leste) estava invadida de
guindastes, de obras de reconstrução e de trabalhadores emigrados portugueses,
que, nessa tarde de outono dominical, em que os vi, se refugiavam nas estações de
caminho-de-ferro, abrigados do frio quase glaciar…
Foram
dois momentos muito sentidos da minha passagem por Berlim, onde pude perceber
que nesta parte ocidental da Europa, que é Portugal, vinte e cinco anos depois,
ainda podemos encontrar defensores daquele ‘muro da vergonha’ – como dizia, por
estes dias, um jornal partidário para salvaguardar dos ataques dos intrusos –
mesmo que, se eles até foram visitantes ocasionais, escaparam às filas para
comer ou se serviram de outros mercados para serem atendidos… Não entendo onde
têm estado ou por onde têm andado certos apaniguados do regime marxista: a
liberdade parece ser só é importante, se for a deles! Não percebo como pode
haver quem lhe custe fazer um processo de reformulação, se ainda não entendeu a
desadequação das ideias com a prática! Há, de verdade, ideologias que são tão
fixistas que nem entendem que o mundo avançou, embora usufruam das regalias do
avanço económico e social, mas esconjurem os seus mentores!
Vamos
tentar refletir sobre três (entre tantas) das ideias que motivaram, que
mobilizaram e que construíram o novo mundo saído da revolução de 1989.
Na
encíclica de João Paulo II, ‘Centesimus annus’, números 22 a 29, faz-se uma
análise muito profunda sobre o significado desta data de 1989 – repare-se que
são dois séculos precisos após a revolução francesa – destacando-se a falência
económica do sistema coletivista/comunista, o vazio espiritual provocado pelo
ateísmo, a recuperação da liberdade individual e a sua expressão política na
sociedade… em vista de um desenvolvimento integral da pessoa humana, onde Deus
tem lugar e a vivência da liberdade religiosa é fundamental.
- Cultura de liberdade – sentido profundo e essencial
da pessoa, onde cada um é tanto mais livre quanto mais viver desapegado de
tentáculos materialistas. Com efeito, não basta substituir os paradigmas – de marxista
para consumista – para que tenhamos já uma consciência correta da liberdade tanto
pessoal como comunitária… O caminho ainda não foi iniciado!
- Cultura de solidariedade – é digno de
registo que até ao início da década de 80 do século passado era difícil
encontrar um registo digno de mais do que poucas linhas deste termo ‘solidariedade’…
Muito por influência de experiências sindicalistas – algumas rebeldes
anticomunistas – foi possível perceber que a solidariedade era e é um conceito
de amplitude mais profunda do que a fraternidade da (velha) revolução francesa…
- Cultura de intercomunhão - agora os direitos de todos que
têm lugar na intercomunhão de povos, culturas, línguas e religiões… nesta
globalização de ideias e (até) de temores. Veja-se o que acontece nalguma das
vagas de doença, em que como que todos ficam em risco, mesmo que remoto.
O muro
da vergonha pode ainda subsistir no nosso coração e na conduta de tantos dos
nossos contemporâneos. Assim saibamos derrubá-lo em nós e à nossa volta!
António
Sílvio Couto
Derrubei o meu muro da vergonha. Não tenho mais defesas.
ResponderEliminar