Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Maldito dinheiro, a quanto obrigas!


As notícias mais recentes, no âmbito da justiça, percorrem o caminho mais ou menos comum do dinheiro, particularmente, na abundância ou na tentativa dela: passaportes dourados (visa gold), subvenções vitalícias dos políticos, detenção dum ex-governante… e, já anteriormente, falência dum banco, turbulência na saúde ou nos transportes, greves/manifestações/austeridade… O dinheiro circula por tudo isto: umas vezes a falta dele, noutras a ganância em o conseguir e subjacente a (quase) tudo o querer ser rico – ou, ao menos, parecê-lo – a todo o custo!

= Se fossemos para a rua perguntar às pessoas por que razão trabalham, a maioria diria que é para ter dinheiro. Se questionássemos o esforço diário de vida de tanta gente, obteríamos por resposta: ganhar dinheiro. Se tentarmos explicar muita da criminalidade – contra pessoas ou contra bens – novamente o dinheiro poderá ser a principal motivação.

= Não é por acaso que Jesus Cristo adverte: «não podeis servir a Deus e ao dinheiro». Isto é tanto mais provocador, quanto ao tempo de Jesus o ensinamento religioso dos fariseus apontava o sucesso e o ganhar muito dinheiro como uma espécie de bênção divina, misturando Deus que seria mais benéfico a quem tivesse muito dinheiro e quem fosse pobre poderia ser visto como um amaldiçoado e quase castigado por Deus.


= Hoje vivemos numa sociedade marcadamente materialista e onde o culto do dinheiro reveste múltiplas manifestações, desde as mais subtis e ‘inocentmes’ até às mais elaboradas e fraudulentas… tanto na forma como no conteúdo. De fato, o deus dinheiro tem uma religião muito bem estruturada – desculpem a apropriação de termos, de figurações e de simbolismos – que é o consumismo, com os seus patriarcas e purpurados, gurus e mentores, sacerdotes e acólitos, lacaios e servidores. A economia em grande medida fez do dinheiro o motor e inspirador de tudo, criando santuários e catedrais, nichos de culto e estátuas de grande veneração… Torna-se quase impossível sair imaculado do contato com o dinheiro – em moeda, em nota, em cartão ou noutra apresentação mais ou menos ritual – pois ele fascina e seduz, cria hábitos e faz-se atrativo… desde a mais tenra idade e em todas as circunstâncias da vida pessoal, familiar, social e cultural.

= Não ter, poder ter e perder a capacidade de ter

Quem passasse, há tempos atrás, pelas nossas cidades e vilas veria que, em cada canto, emergia uma loja de ‘compra e venda de ouro’. Este fenómeno poderia ser escolhido como um exemplo da exploração da debilidade do nosso povo, que, em maré de dificuldade, levava ‘ao prego’ – era a expressão doutros tempos idênticos aos que vivemos recentemente – o que podia dar alguma ajuda imediata nas economias. Ora, segundo dados divulgados por entidades oficiais, nos últimos dois anos fecharam quase mil dessas lojas de compra/venda de ouro…

De fato, temos vivido fenómenos de contínua mudança na nossa sociedade: pessoas e famílias que viviam nalguma miséria – repare-se na migração – melhoraram com esforço a situação económica. A geração seguinte foi educada sem ter de passar dificuldades e a nova geração tem quase tudo sem esforço e, em muitos casos, recebe o que não pediu nem trabalhou para ter, por isso, não aprecia e desperdiça.

Tudo isto aconteceu com muita velocidade e criou pessoas nem sempre gratas para com aquilo que hoje usufruem, gerando um certo poder reivindicativo sem nexo nem razão… O mais grave é perder a capacidade de ter, depois de já ter tido. Temos estado a viver nesta etapa da nossa história humana e cultural… e isto trará consequências muito gravosas para a paz social e económica. Há empresas que nasceram, cresceram e morreram no espaço de três gerações: o avô trabalhou, o filho cuidou e o neto esbanjou… Se passarmos este sistema para o âmbito do país poderemos perceber porque estamos no estado socio-financeiro atual e com tendências para (ainda) se agravar…se não mudarmos de paradigma a curto prazo.

O dinheiro é importante, mas não dá total felicidade. Esta não se mede pelo só material, mas pela dimensão psicológica e espiritual… que têm estado a faltar em excesso!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário