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terça-feira, 8 de julho de 2014

Vítimas ou artífices dos nossos erros?


Por estes dias o Papa Francisco reuniu, em Roma, com pessoas vítimas de abuso sexual de alguns membros do clero, quando eram crianças ou adolescentes.

Com esta iniciativa o Papa quis dar continuidade ao pedido de perdão do seu antecessor àqueles/as que foram vítimas dos erros de membros da Igreja, sobretudo, enquanto responsáveis do cuidado de quem estava ao seu cuidado.

«Perante Deus e o seu povo, manifesto a minha dor pelos pecados e graves crimes pelo clero contra vós [disse às seis vítimas presentes na missa] e humildemente peço perdão… Faremos o possível para assegurar que tais crimes não voltem a acontecer na Igreja».

Este excerto da homilia do Papa Francisco é como que um gesto profético e também um sinal dos tempos, permitindo ainda que sintamos todos e cada um de nós a necessidade de refletir sobre os nossos erros – sejam eles quais forem – e as consequências destes tanto em nós mesmos como nos outros.

De fato, a nossa vida também é feita de erros e de pecados, uns facilmente percetíveis aos nossos próprios olhos e outros que vamos descobrindo, segundo a graça divina em nós e à luz do Espírito Santo na caminhada humana e espiritual de nós mesmos.

- Quantas vezes nos custa admitir os nossos erros, tanto por deficiência na descoberta deles mesmos, quanto por debilidade em reconhecermos que falhamos e por não termos a humildade suficiente para disso nos reconhecermos.

Dir-se-á que reconhecer-se pecador, é já graça divina, tanto no tempo como na forma e ainda na vivência de que é, nessa condição de pecadores, que podemos deixar Deus construir em nós o mais belo da nossa condição cristã: salvos por Jesus aceitamos a salvação d’Ele em nós!

- Quantas vezes só passado algum tempo – nalguns casos, demasiado! – se conseguem discernir as nossas falhas e até as consequências nos outros. Com efeito, estes são, em abono da verdade, quem melhor nos conhecem para nos poderem ajudar a corrigir. Mas nem sempre tal acontece, seja por uma espécie de falso respeito, seja por negligência em nos ajudarmos na caminhada mútua, seja ainda por desatenção aos outros.

Ora, será na medida em que nos formos ajudando a corrigir os erros uns dos outros – tenham eles a versão de falhas, tenham a versão de defeitos ou sejam ainda manifestação do nosso pecado – que os erros poderão ser menores, menos frequentes ou até menos escandalosos… em nós e à nossa volta.

Por que acreditamos na ajuda que os outros nos podem dar para irmos debelando os nossos erros, como que ousamos propor alguns aspetos nessa ajudar:

= Formação humana e espiritual nas áreas da psicologia e da espiritualidade, em ordem a nos conhecermos melhor a nós mesmos e aos outros com quem (con)vivemos;

= Enraizamento na Palavra de Deus, conhecendo a Pessoa de Jesus e o modo como Ele tratou com os erros dos outros, isto é, com verdade, humildade e compaixão;

= Proporcionar tempos e lugares de silêncio e de escuta, em ordem a vivermos etapas de caminhada em comunidade, cuidando e sendo cuidados;

= Criar oportunidades de vivência dos sacramentos de cura – penitência e unção dos doentes – em contexto comunitário e segundo a capacidade de entendimento dos sinais de Deus na vida dos crentes cristãos e católicos em particular.


Porque os erros nos fazem crescer, queremo-los conhecemos, amar e deixar perdoar por Deus e uns pelos outros… em Igreja.

Porque mais do que vítimas dos nossos erros desejamos que estes sejam artífices da nossa conversão a Deus e uns aos outros… Queremos permitir que os nossos erros sejam aproveitados para que Deus nos ensine a sermos humildes, verdadeiros e mais santos… de verdade e em humildade.

 

António Sílvio Couto

1 comentário:

  1. Grandes verdades nas quatro suas reflexões sobre a ajuda que os outros nos podem dar.

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