Por
estes dias o Papa Francisco reuniu, em Roma, com pessoas vítimas de abuso
sexual de alguns membros do clero, quando eram crianças ou adolescentes.
Com esta
iniciativa o Papa quis dar continuidade ao pedido de perdão do seu antecessor
àqueles/as que foram vítimas dos erros de membros da Igreja, sobretudo,
enquanto responsáveis do cuidado de quem estava ao seu cuidado.
«Perante
Deus e o seu povo, manifesto a minha dor pelos pecados e graves crimes pelo
clero contra vós [disse às seis vítimas presentes na missa] e humildemente peço
perdão… Faremos o possível para assegurar que tais crimes não voltem a
acontecer na Igreja».
Este
excerto da homilia do Papa Francisco é como que um gesto profético e também um sinal
dos tempos, permitindo ainda que sintamos todos e cada um de nós a necessidade
de refletir sobre os nossos erros – sejam eles quais forem – e as consequências
destes tanto em nós mesmos como nos outros.
De fato,
a nossa vida também é feita de erros e de pecados, uns facilmente percetíveis
aos nossos próprios olhos e outros que vamos descobrindo, segundo a graça
divina em nós e à luz do Espírito Santo na caminhada humana e espiritual de nós
mesmos.
-
Quantas vezes nos custa admitir os nossos erros, tanto por deficiência na
descoberta deles mesmos, quanto por debilidade em reconhecermos que falhamos e
por não termos a humildade suficiente para disso nos reconhecermos.
Dir-se-á
que reconhecer-se pecador, é já graça divina, tanto no tempo como na forma e
ainda na vivência de que é, nessa condição de pecadores, que podemos deixar
Deus construir em nós o mais belo da nossa condição cristã: salvos por Jesus
aceitamos a salvação d’Ele em nós!
-
Quantas vezes só passado algum tempo – nalguns casos, demasiado! – se conseguem
discernir as nossas falhas e até as consequências nos outros. Com efeito, estes
são, em abono da verdade, quem melhor nos conhecem para nos poderem ajudar a
corrigir. Mas nem sempre tal acontece, seja por uma espécie de falso respeito,
seja por negligência em nos ajudarmos na caminhada mútua, seja ainda por
desatenção aos outros.
Ora,
será na medida em que nos formos ajudando a corrigir os erros uns dos outros –
tenham eles a versão de falhas, tenham a versão de defeitos ou sejam ainda
manifestação do nosso pecado – que os erros poderão ser menores, menos
frequentes ou até menos escandalosos… em nós e à nossa volta.
Por que
acreditamos na ajuda que os outros nos podem dar para irmos debelando os nossos
erros, como que ousamos propor alguns aspetos nessa ajudar:
=
Formação humana e espiritual nas áreas da psicologia e da espiritualidade, em
ordem a nos conhecermos melhor a nós mesmos e aos outros com quem (con)vivemos;
=
Enraizamento na Palavra de Deus, conhecendo a Pessoa de Jesus e o modo como Ele
tratou com os erros dos outros, isto é, com verdade, humildade e compaixão;
=
Proporcionar tempos e lugares de silêncio e de escuta, em ordem a vivermos
etapas de caminhada em comunidade, cuidando e sendo cuidados;
= Criar
oportunidades de vivência dos sacramentos de cura – penitência e unção dos
doentes – em contexto comunitário e segundo a capacidade de entendimento dos
sinais de Deus na vida dos crentes cristãos e católicos em particular.
Porque
os erros nos fazem crescer, queremo-los conhecemos, amar e deixar perdoar por
Deus e uns pelos outros… em Igreja.
Porque
mais do que vítimas dos nossos erros desejamos que estes sejam artífices da
nossa conversão a Deus e uns aos outros… Queremos permitir que os nossos erros
sejam aproveitados para que Deus nos ensine a sermos humildes, verdadeiros e
mais santos… de verdade e em humildade.
António
Sílvio Couto
Grandes verdades nas quatro suas reflexões sobre a ajuda que os outros nos podem dar.
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