Neste
tempo de verão – nada tem de simbologia dos frutos amadurecidos e/ou em
maturação – vemos (ainda) surgirem nas notícias – sobretudo em circuito interno
– dos jornais diocesanos que há ordenações de padres…um pouco por todo o lado.
Já não na quantidade de outras épocas e talvez nem sequer na qualidade de
tempos de cristandade… Mas, aqui e acolá, ainda há padres (e nalguns casos até
bispos) que são ordenados… para o serviço do povo de Deus, na sua concretização
em Igreja católica.
Sem
querer fulanizar – como agora se diz, quando se pretende falar de um caso,
extrapolando para o conjunto dos outros – em ninguém, parece-me que o
ministério sacerdotal está muito fragilizado, tanto na aceitação como na
prossecução do mesmo em terreno do mundo.
Já
passou o tempo em que o padre – fosse qual fosse o atributo ou a função e até
mesmo a condição de exercício – era considerado uma figura social e quase
culturalmente de destaque. E, nem sequer, a veste eclesiástica, lhe dá, hoje,
estatuto de proeminência cultural e figuração social… antes pelo contrário. Pois,
se se quiser ridicularizar um padre, a vestimenta (tanto da batina como do
colarinho) surge como involucro de chacota e/ou de riso…do povo ou, sei lá, da
suspeita de ser ou não ser, de verdade!
Não é
ainda habitual que alguém como padre – sobretudo se faz uma a autoavaliação –
seja bem entendido se questiona a forma e um tanto o conteúdo do seu exercício
ministerial ordenado… Ainda há uns meses tive a ousadia de escrever sobre
alguém (padre em exercício) que estava em pré-desânimo e, logo, surgiram
suspeitas sobre a possibilidade de estar em crise, tanto de âmbito pastoral,
quanto de identidade…Ora, se isto acontece com aqueles que pensamos que estão
na (nossa) onda e nalguma proximidade, quanto mais poderá ocorrer com quem não
é capaz de sintonizar o que quer que seja ser padre… num mundo mundanizado, nos
critérios e na conduta.
Por
estes dias, se Deus quiser, completarei trinta e um anos de ordenação
sacerdotal. Não é muito tempo, mas já é algum; não é uma data redonda de
jubileu, mas pode ser oportunidade acrescida de dar graças a Deus e de Lhe
pedir perdão; não significa muito, mas poderá representar bastante… na aferição
ao projeto divino e à sua concretização na realidade humana de cada lugar e de
tempo.
Neste contexto, sem pretender dar qualquer lição
eclesiástica, transcrevo o ‘Decálogo do
sacerdote’, apresentado por um bispo alemão já falecido, D. Klaus Hemmerle,
bispo de Achen, numa jornada de estudo da Conferência Episcopal Alemã:
- É mais importante como eu vivo o sacerdócio, do que
aquilo que faço enquanto sacerdote.
- É mais importante o que Cristo faz através de mim, do
que aquilo que faço eu.
- É mais importante que eu viva a comunhão no
presbitério, do que lançar-me até à exaustão sozinho no ministério.
- É mais importante o serviço da oração e da palavra, do
que o das mesas.
- É mais importante seguir e ajudar a formar, espiritual
e culturalmente, os colaboradores, do que fazer eu mesmo e sozinho o mais
possível.
- É mais importante estar presente em poucos, mas
centrais sectores de ação, com uma presença que irradie vida, do que estar em
tudo à pressa ou a meias.
- É mais importante agir em comunhão com os
colaboradores, do que sozinho, mesmo que me considere capaz; ou seja, é mais importante
a comunhão do que a ação.
- É mais importante, porque mais fecunda, a cruz do que
os resultados muitas vezes aparentes, fruto de talentos e esforços simplesmente
humanos.
- É mais importante ter a alma aberta sobre o “todo”
(comunidade, diocese, igreja universal, humanidade), do que fixada em
interesses particulares, ainda que me pareçam importantes.
- É mais importante que a fé seja testemunhada a todos,
do que satisfazer todos os pedidos habituais.
Padres, irmãos no sacerdócio, tentemos rever-nos com
humildade diante de Deus e dos outros, pois Aquele defende-nos, mas estes, na
hora da verdade, falham e desertam… ontem, como hoje e amanhã!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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