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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Admiração e respeito versus vulgaridade e ofensa


Com o avançar da idade, certamente, fomos crescendo na admiração por pessoas que marcaram (e ainda marcam) a nossa vida. Essa admiração, que, normalmente, gera respeito não é só de quem é ainda novo, mas também como que percorre a nossa existência, deixando uma espécie de rasto sagrado no nosso itinerário de vida e uma espécie de memória divina e divinizadora em nós e à nossa volta!

Quem não tem na sua vida pessoas que se tornaram referência – de forma consciente ou até inconsciente – desde o seu modo de ser até à sua personalidade? Quem não tem ainda – infelizmente – pessoas que deixaram marcas um tanto negativas, tanto no modo de agir como nas atitudes que tiveram para connosco?

Por outro lado, talvez possa haver, naturalmente, quem nós possamos ter marcado – para bem ou para mal – mesmo sem disso nos termos apercebido!

Somos, assim, todos nós uma paleta de cores e de situações, que nos fazem viver numa profunda interdependência psicológica, cultural, espiritual e mesmo emocional.

Ainda, nestes dias, num salutar convívio, por ocasião de um aniversário de um companheiro padre, nos tentamos todos situar na evolução da nossa vida nos anos, recordando figuras comuns, quando tinham a idade que agora nós temos. Nessa época eles eram, à nossa vista, já velhos, agora somos nós, com a idade que eles então tinham, que nos tornamos velhos ao olhar dos mais novos… É a lei da vida, que se manifesta na maturidade e na maturação das nossas personalidades, numa simbiose de gerações e de experiências… sem nos deixarmos adaptar à rotina mental ou cultural.

 = Admiração – vulgaridade

Não é difícil que, quanto mais conhecemos os outros – e, por consequência, nos damos a conhecer – mais possamos pensar que já os percebemos… Com que facilidade podemos cair na vulgaridade de julgarmos os outros mais pelos seus defeitos do que pelas virtudes e qualidades, que nos levavam a admirá-los. Seria como que se, uma pintura bela à distância, se torna-se algo banal quando a vemos mais de perto… fixando-nos nos pormenores e não na arte!

Nada há de mais abjeto do que perdermos a admiração, seja por quem for, só porque lhe conhecemos os defeitos e lacunas, tanto de personalidade como de outra vertente qualquer.

É costume referir-se que ao dizermos: ‘gosto de ti’ nos centramos naquilo que nessa pessoa nos interessa… fazendo dessa pessoa algo como uma coisa, objeto e motivo de interesse; enquanto, quando dizemos: ‘amo-te’, nos reportamos à consideração abrangente daquilo que é bom ou menos bom nos outros, portanto, vendo-os como pessoas, com qualidades e defeitos, virtudes e pecados… amados e não meramente tolerados!

 = Respeito – ofensa

É verdade que nos devemos dar ao respeito, respeitando os outros e, por todas as formas, evitarmos ofendê-los seja de forma for. De fato, há ofensas que decorrem da desconsideração – explícita ou tácita – de uns para com os outros. Quantas vezes bastará um simples gesto de desprezo para manifestarmos ofensa para com tantos que pensávamos conhecer. Quantas vezes somos subtis na ofensa, mas tantas outras acontecem por palavras e por gestos… na maior parte dos casos nas costas de quem pretendemos desrespeitar. Quantas vezes as nossas relações estão envenenadas por ofensas e preconceitos, por agravos ofendidos e por ofensas agravadas. Quantas vezes não sabemos distinguir entre o erro e a pessoa que erra, pois vamos mais tolerando o erro, embora combatendo quem prevarica.

Numa espécie de exame de consciência, ouso deixar breves perguntas sobre esta temática: quem há que me tenha desiludido ou por quem perdi a consideração e estima? Considero que, por conhecer alguém um tanto melhor, isso me fez perder a estima e o respeito? Porquê?

A quem é que poderei ter desiludido? Foi por ser mais sincero ou por deixar de disfarçar? A quem possa ter desiludido ou mesmo escandalizado, peço, humilde e sinceramente, perdão!

 

António Sílvio Couto

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