Com o
avançar da idade, certamente, fomos crescendo na admiração por pessoas que
marcaram (e ainda marcam) a nossa vida. Essa admiração, que, normalmente, gera
respeito não é só de quem é ainda novo, mas também como que percorre a nossa
existência, deixando uma espécie de rasto sagrado no nosso itinerário de vida e
uma espécie de memória divina e divinizadora em nós e à nossa volta!
Quem não
tem na sua vida pessoas que se tornaram referência – de forma consciente ou até
inconsciente – desde o seu modo de ser até à sua personalidade? Quem não tem
ainda – infelizmente – pessoas que deixaram marcas um tanto negativas, tanto no
modo de agir como nas atitudes que tiveram para connosco?
Por
outro lado, talvez possa haver, naturalmente, quem nós possamos ter marcado –
para bem ou para mal – mesmo sem disso nos termos apercebido!
Somos,
assim, todos nós uma paleta de cores e de situações, que nos fazem viver numa
profunda interdependência psicológica, cultural, espiritual e mesmo emocional.
Ainda,
nestes dias, num salutar convívio, por ocasião de um aniversário de um
companheiro padre, nos tentamos todos situar na evolução da nossa vida nos
anos, recordando figuras comuns, quando tinham a idade que agora nós temos. Nessa
época eles eram, à nossa vista, já velhos, agora somos nós, com a idade que
eles então tinham, que nos tornamos velhos ao olhar dos mais novos… É a lei da
vida, que se manifesta na maturidade e na maturação das nossas personalidades,
numa simbiose de gerações e de experiências… sem nos deixarmos adaptar à rotina
mental ou cultural.
Não é
difícil que, quanto mais conhecemos os outros – e, por consequência, nos damos
a conhecer – mais possamos pensar que já os percebemos… Com que facilidade
podemos cair na vulgaridade de julgarmos os outros mais pelos seus defeitos do
que pelas virtudes e qualidades, que nos levavam a admirá-los. Seria como que
se, uma pintura bela à distância, se torna-se algo banal quando a vemos mais de
perto… fixando-nos nos pormenores e não na arte!
Nada há
de mais abjeto do que perdermos a admiração, seja por quem for, só porque lhe
conhecemos os defeitos e lacunas, tanto de personalidade como de outra vertente
qualquer.
É
costume referir-se que ao dizermos: ‘gosto de ti’ nos centramos naquilo que
nessa pessoa nos interessa… fazendo dessa pessoa algo como uma coisa, objeto e motivo
de interesse; enquanto, quando dizemos: ‘amo-te’, nos reportamos à consideração
abrangente daquilo que é bom ou menos bom nos outros, portanto, vendo-os como
pessoas, com qualidades e defeitos, virtudes e pecados… amados e não meramente
tolerados!
É
verdade que nos devemos dar ao respeito, respeitando os outros e, por todas as
formas, evitarmos ofendê-los seja de forma for. De fato, há ofensas que
decorrem da desconsideração – explícita ou tácita – de uns para com os outros.
Quantas vezes bastará um simples gesto de desprezo para manifestarmos ofensa
para com tantos que pensávamos conhecer. Quantas vezes somos subtis na ofensa,
mas tantas outras acontecem por palavras e por gestos… na maior parte dos casos
nas costas de quem pretendemos desrespeitar. Quantas vezes as nossas relações
estão envenenadas por ofensas e preconceitos, por agravos ofendidos e por
ofensas agravadas. Quantas vezes não sabemos distinguir entre o erro e a pessoa
que erra, pois vamos mais tolerando o erro, embora combatendo quem prevarica.
Numa
espécie de exame de consciência, ouso deixar breves perguntas sobre esta
temática: quem há que me tenha desiludido ou por quem perdi a consideração e
estima? Considero que, por conhecer alguém um tanto melhor, isso me fez perder
a estima e o respeito? Porquê?
A quem é
que poderei ter desiludido? Foi por ser mais sincero ou por deixar de
disfarçar? A quem possa ter desiludido ou mesmo escandalizado, peço, humilde e
sinceramente, perdão!
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário