«Vota na
mudança». Esta frase foi espalhada – como slogan partidário – por ocasião das
eleições para o Parlamento Europeu… que já foram há mais de um mês. Ao tempo
tal era entendido para que houvesse um voto de novidade sobre o que se vivia (e
vive) no espetro político/partidário… português, mas, bem depressa, o desejo de
mudança se transferiu para o interior do partido que tal desejava… dos outros.
= Pelo
que temos visto e ouvido, algo correu mal, desde a proposta de mudança até à
mudança que é proposta. Parece que já não basta vencer para continuar à frente
dos destinos de certos grupos e partidos. As posições estão a extremar-se,
gerando-se ataques e insinuações; (re)criando fações e golpes; acirrando as
hostes e menosprezando as vitórias…
= Quem
vê do exterior – não sabemos se será um partido de vidro ou com telhados de
vidro! – como que ficamos aterrorizados sobre as artimanhas da conquista do
poder e das múltiplas manobras para a ele chegar, derrubando tudo e todos,
desde que sejam os da minha simpatia a reinar… antes agora do que mais tarde.
Como é que um punhado de senhores e um conjunto de outras tantas senhoras –
atendendo à dita paridade – conseguem fazer valer a sua visão ideológica e não
têm na devida conta os interesses da grande Nação… dentro e fora dos limites
territoriais?
= Há
gestos e sinais que revelam alguma preocupação… sobretudo para quem deve ter em
vista o país e não o simples quadro partidário e ideológico. Ora, numa formação
partidária que oscila entre a rosa e o punho cerrado, qual será a mais
necessária (agora e no futuro) para o país? Num partido que vive ao ritmo da
ascensão ao poder, como saberemos se este é serviço ou não se torna numa mera forma
de conquistar para derrotar opositores e adversários?
= Ao
vermos certas figuras de um de outro lado da competição – dizer ‘barricada’
poderia ser mais correto, mas deixaria antever trincheiras, disparos e feridos –
como que sentimos que, em tempos de crise, as posições têm tendência a exagerar
a visão de cada qual dos competidores, mas – sabe-se lá os meandros da disputa
– acaba a batalha e todos vão confraternizar na expetativa de partilharem o
poder e os seus benefícios…num futuro mais ou menos próximo!
= Mutatis mutandis… outros farão
o mesmo percurso, brevemente!
Deixem
que termine esta espécie de reflexão com o recurso a uma leitura bíblica,
citada de memória mas colocando a alusão no texto sagrado (Jz 9,7-20): Quiseram
as árvores encontrar alguém que aceitasse ser seu rei. Falaram à oliveira para
que fosse ela a reinar e, desculpando-se, não aceitou renunciar à fragância de
seu óleo. Procuraram cativar a figueira para que reinasse sobre todas as
árvores e esta não quis renunciar à doçura dos seus frutos. Aproximaram-se da
videira para que fosse ela a reinar sobre todas as árvores e, também esta, não
quis perder o encanto do seu vinho para se sujeitar àquela honraria. Por fim,
«todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘vem tu reinar sobre nós’. Disse o
espinheiro às árvores: se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde
abrigar-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo
que há de devorar os cedros do Líbano».
É
verdade: ao vermos certas competições e lutas – muitas delas intestinas e
viscerais – como que sentimos que esta alegoria bíblica retrata o comportamento
de algumas figuras e denuncia o arranjo de outros tantos figurões, seja qual o
espaço que ocupem ou as instâncias em que desenvolvem suas (grandes) tarefas e
competências e/ou competições.
Perguntamos:
que mudança querem fazer – de atitude ou de personagens?
Com quem
querem fazer essa mudança: com novos atores ou com uns recauchutados e/ou
ressabiados?
Para que
querem fazer a tal mudança: para mudar as moscas ou o modificar o conteúdo?
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
Sem comentários:
Enviar um comentário