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terça-feira, 29 de julho de 2014

Quem é e onde está o verdadeiro ‘pobre’?


Fruto das circunstâncias sócio/económicas vivemos, hoje, uma espécie de exploração da condição de ‘pobre’: uns porque se fazem passar por tal situação e com isso vão equilibrando a vida; outros porque atentos ao fenómeno dos pobres deles se aproveitam para surgirem como beneméritos de causas sociais mais ou menos ideológicas; outros ainda porque, sabendo as brechas da aferição ao verdadeiro significado de ‘pobre’, jogam conforme as circunstâncias com a representação do ‘pobre’ e o usufruir da negligência do controle sobre a exploração do que se quer e das pretensões nas conquistas…

Defender os ‘pobres’ ainda vai captando (mais ou menos) a atenção duma boa parte da população… seja porque se revê no epíteto, seja porque, ideologicamente, isso favorece sê-lo nem que mais não seja por não (a)parecer… nas estatísticas e nas leituras políticas.

Só, em Portugal, um por cento dos habitantes acumula a riqueza equivalente a 25% do resto dos (ditos) cidadãos. Assim sendo, ser ‘pobre’ parece que mais vale parecê-lo do que sê-lo… pois aquela vertente tem mais-valias que esta nem sempre conquista… ao menos a curto prazo.

Alguns dos setores da nossa dimensão coletiva vivem muito da real ou ficcionada apresentação do ‘pobre’. Como dizia, recentemente, um comentador jornalístico: alguma esquerda ralha com os ricos, enquanto a Igreja católica trata dos pobres. De fato, não fossem tantas e tão diversificadas ações de várias entidades e associações da Igreja (sobretudo católica, mas muitas outras de teor cristão) em favor dos pobres – sobretudo dos da relação de proximidade – e essa onda de excluídos seria ainda mais acentuada… desde a reivindicação até ao aproveitamento, passando pela circulação de expedientes de exposição da dignidade mínima de pessoas e de famílias até à proliferação da pobreza psicológica e emocional.

= Pobres sempre os tereis convosco!

Nos tempos mais recentes temos ouvido – ou melhor tem sido dado eco – múltiplas e insistentes afirmações do Papa Francisco a reportar-se à necessidade de irmos ao encontro das periferias onde se encontram tantos dos pobres dos nossos tempos.

Sem reduzir o conceito de ‘pobre’ à dimensão material, temos ainda escutado o Papa a denunciar o aproveitamento duma certa franja comunista da temática dos pobres, sem deles mais não terem feito do que espicaçarem as suas debilidades com denúncias e reclamações, azedumes e animosidades…

Francisco sabe do que fala e tem condições para ensinar, pois ele mesmo se tem feito pobre na condição dos empobrecidos, isto é, despojando-se das categorias heráldicas e dos penachos de comando…

De fato não basta levantar a voz em denúncia, é preciso sujar-se com aqueles que são o alvo da nossa visão e da vivência profética, pois a Palavra tem de ter em nós e à nossa volta consequências de compromisso e não só de utopia e de idealismo.

= O verdadeiro pobre é e tem de ser cada um de nós, na perspetiva da sua vida e na condução da sua existência, pois pouco basta para vivermos com o mínimo de dignidade e de conforto. A ‘qualidade de vida’ é tão subjetiva que uma pequena dose de Evangelho pode mudar a nossa mentalidade e o nosso comportamento… radicalmente.

= Muitos dos pobres são pessoas fragilizadas pela falta de sentido para a vida… mesmo que pareçam ter sucesso económico e razoáveis proventos de sobrevivência…quantas vezes, estão tristes e empobrecidos em seu interior quase oco e vazio.

= Outros pobres precisam de serem elevados na dignificação humana e cultural, aprendendo a pensar por mesmos, a saberem conduzir-se por critérios e valores éticos que coloquem os outros no centro e a não si mesmos num fechamento egoísta e hedonista.

= A melhor e mais autêntica forma de combater a pobreza é a de dar às pessoas ferramentas para saberem conduzir-se segundo o que há de mais autêntico: a dedicação aos outros e ao serviço destes como presença em amor por Jesus, com Jesus e para Jesus… Ele o ‘Pobre’ por antonomásia, mas o mais livre de todos porque desapegado das ligaduras materialistas. Com Ele venceremos a pobreza, seja ela de que natureza for!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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