Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Este belíssimo soneto de José Maria
Barbosa du Bocage pode ajudar-nos a ler, a interpretar e a colher sinais na
hora da despedida do ‘presidente dos presidentes’ do FCPorto.
Não está em causa qualquer julgamento mas antes uma apreciação de uma das figuras mais marcantes – despojados de cor clubística – dos últimos anos na esfera do desporto e do futebol em particular, qual ariete anti-centralismo na visão social, política ou mesmo económica.
Num tempo – e não é só ao nível desportivo no clube que sempre serviu – em que pululam sinais de não-unidade, torna-se importante que olhemos para as qualidades mais do que para os defeitos de quem procura estar ao serviço dos outros.
Sobre a figura em causa apareceram mais os substantivos do que os adjetivos. Estes costumam ser usados para adular, enquanto aqueles descrevem quem quis ou desejou incentivar outros, envolvendo-os num projeto. De facto, depois de JNLPC – na linha daquilo que preconizava o fundador do escutismo – algo mudou e ficou um pouco melhor, senão na forma ao menos no conteúdo, depois dele ter passado por este mundo.
Fique claro: não sou simpatizante nem adepto do clube a que presidiu, mas sinto que homens como este são necessários para tirar o nosso país de um certo cinzentismo acomodado e até de um cristianismo adormecido.
À semelhança do soneto de Bocage é preciso reconhecer os méritos e os erros, sem menosprezar aqueles e tão pouco negligenciar estes: o equilíbrio fará com que todos tenhamos uma missão a cumprir, enquanto estivermos nesta Terra e que saibamos acrescentar um pouco que seja à melhoria dos espaços em que nos movimentamos…
À boa maneira da vida provada pela história, que a memória desta personagem perdure na sociedade portuguesa, colhendo o que ele fez de bem em favor dos outros e que sejam purificadas as agruras próprias de quem é humano, logo frágil, limitado e (porque não) pecador.
RIP.
António Sílvio Couto
Num tempo – e não é só ao nível desportivo no clube que sempre serviu – em que pululam sinais de não-unidade, torna-se importante que olhemos para as qualidades mais do que para os defeitos de quem procura estar ao serviço dos outros.
Sobre a figura em causa apareceram mais os substantivos do que os adjetivos. Estes costumam ser usados para adular, enquanto aqueles descrevem quem quis ou desejou incentivar outros, envolvendo-os num projeto. De facto, depois de JNLPC – na linha daquilo que preconizava o fundador do escutismo – algo mudou e ficou um pouco melhor, senão na forma ao menos no conteúdo, depois dele ter passado por este mundo.
Fique claro: não sou simpatizante nem adepto do clube a que presidiu, mas sinto que homens como este são necessários para tirar o nosso país de um certo cinzentismo acomodado e até de um cristianismo adormecido.
À semelhança do soneto de Bocage é preciso reconhecer os méritos e os erros, sem menosprezar aqueles e tão pouco negligenciar estes: o equilíbrio fará com que todos tenhamos uma missão a cumprir, enquanto estivermos nesta Terra e que saibamos acrescentar um pouco que seja à melhoria dos espaços em que nos movimentamos…
À boa maneira da vida provada pela história, que a memória desta personagem perdure na sociedade portuguesa, colhendo o que ele fez de bem em favor dos outros e que sejam purificadas as agruras próprias de quem é humano, logo frágil, limitado e (porque não) pecador.
RIP.
António Sílvio Couto
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