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sábado, 15 de fevereiro de 2025

Educação no parlamento, precisa-se

 


Já se sabia que a dita ‘casa da democracia’ – epíteto dado ao parlamento nacional ou assembleia da república – não era grande escola de boas maneiras, mas que a educação – no sentido de civismo e de respeito pelos outros – andava tão pelas ruas da amargura… ficamos a sabê-lo nos tempos mais recentes. Quais pundonores ofendidos vimos saltitar de confusão quase todos…sem olharem a meios nem pouparem nos adjetivos, que os substantivos parece estarem em saldo.

1. Embora os factos por agora relatados sejam os mais repetidos, os apartes com o microfone desligado são frequentes e quase mais audíveis do que as intervenções. O mais agravado foi que, de um certo partido nitidamente mais provocador, saíram expressões e palavras ofensivas das limitações visuais de uma interveniente anterior. Eis que se espoletou uma onda de reações cada mais agressiva do que a outra e em breve trecho o hemiciclo tornou-se um par-lamento (isto é, um espaço de lamentar o que de lá vinha e quanto por lá se dizia, mais desabrido ainda do que o antecedente) à semelhança de um ‘jardim-de-infância com gente grande e pejado de queixas e queixinhas, casos e casinhos…

2. Pior do que um realty show vimos crescerem peripécias dignas de um pais de ‘quarto-mundo’ em desenvolvimento. A peixeirada soltou-se e temos ‘a novela da vida real’ sem guião nem rede, onde vemos pessoas com instrução – doutores e engenheiros, advogados e professores – que revelam que não têm nível cultural mínimo para serem os representantes do povo, que lhes confiou o voto com maior ou menor consciência…

3. Por vezes diz-se: cada um tem o que merece! É verdade. A qualidade dos nossos ‘parlamentares’ revela o país que somos. Ainda se admiram de constarmos no lugar 43.º da apreciação da corrupção…ao nível internacional. Tudo isto que temos visto e ouvido, vindo da tal ‘casa da democracia’, faz-nos pensar que não merecemos melhor e que os que por lá andam – saber-se-á com que interesses – afinal não passam de uns disfarçados, que, quando investidos de poder, perdem a autoridade, cavando o seu descrédito e má reputação.

4. Mais do que fazer remendos à última hora, importa conhecer quem são esses/as que chegaram ao parlamento, pois o verniz agora estalado já estaria em mau estado antes de tudo isto – e o pior que virá – acontecer. Só se admirará das façanhas noticiadas quem não conheça os meios utilizados nas agremiações para acederem ao poleiro. Com efeito, as lutas de interesses confiscaram os partidos políticos e as mesquinhezes mais sórdidas campeiam entre aqueles/as que se querem fazer ‘políticos’ (profissionais ou ocasionais).

5. Já nem as ideologias conseguem catequizar os pretendentes a irem para algum lugar de poder, pois, em muitos casos, misturam-se as correntes em luta, desde que se consiga um posto de relevo e bem pago. Não deixa, por isso, de espantar que vejamos como falantes figuras que não representam nada nem ninguém, para além da vontade de aparecerem e de continuarem a usufruir de regalias ofensivas dos votantes-eleitores. Atendendo ao escrutínio a que estão submetidos os eleitos, poderá ser fácil enganar durante algum tempo, mas não o tempo todo. Decresce deste modo o leque dos que aceitam entrar nesta dança quase-mortífera da dita ‘democracia’…

6. Até quando iremos aguentar este teatro de baixa-qualidade. Muitos dos ‘nossos’ representantes no parlamento precisam de lições de civilidade – essas que deviam ter tido na casa de família ou ao menos nas escolas por onde andaram – e de cidadania mais básica, pois não se aceita que faltem ao respeito uns aos outros, sobretudo se estiverem em causa menos boas eficiências, isto é, alguma deficiência. Onde está a inclusão? Como poderemos viver em igualdade de oportunidades sem que haja aceitação das debilidades ou incapacidades? Na diferença aprenderemos o respeito por todos, sem olhar ao que não é igual!



António Sílvio Couto

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