Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sábado, 1 de fevereiro de 2025

Para uma mentalidade de poupança – ‘50-30-20’

 

Por que será que se fala (publicamente) tão pouco de poupança e se prefere exaltar o gastar? Como podemos sobreviver se gastamos mais do que ganhamos? Até onde irá esta mentalidade consumista de ‘chapa-ganha-chapa-gasta’? Estaremos a salvaguardar o futuro pessoal e familiar? Quem está tão interessado em que não poupemos, ao menos de forma consciente e prevenida? Num tempo que joga mais na sorte do que no trabalho, terá lugar ainda a poupança?

1. Fui educado – para o bem ou para o mal – segundo um princípio talvez minimalista: se tens compras, se não tens esperas até ter... Mesmo ainda de forma a contra-a-corrente parece que falar de poupança ou de algo que preveja privar-se até se conseguir os meios soa a menos ambição ou quase a roçar quedar-se pelos pés, quando tantos outros se lançam a voar mais alto, mesmo que não tenham asas para surtir o tão desejado efeito. De forma um tanto clássica procuremos a definição de ‘poupança’.

Colhi da consulta feita: poupança ou aforro é a parcela da renda ou do património que não é gasto ou consumido no período em que é recebido e, por consequência, é guardado para ser utilizado num momento futuro. Poupar exige que não se consuma todo o rendimento.
O conceito de poupança está intimamente relacionado com a redução de despesas, em particular dos gastos recorrentes. No contexto de finanças pessoais, poupar geralmente refere-se à preservação do capital em aplicações de baixo risco (confrontando a segurança de manter o saldo em uma conta de depósitos contra aplicá-lo num investimento financeiro, onde o risco é maior). Para a economia, poupança é um conceito amplo que se refere a toda receita não destinada ao consumo imediato.

2. A principal regra da poupança é pagar-se a si mesmo em primeiro lugar. O que é que isto significa? Quando receber o seu salário, deve logo separar uma parte para a poupança, antes de considerar os seus gastos. A dúvida é: quanto deve colocar de parte?
Uma das sugestões mais conhecidas é a regra dos 50-30-20, que propõe uma divisão do rendimento líquido da seguinte forma: 50% para as despesas essenciais (habitação, alimentação, transportes, entre outros); 30% para os gastos discricionários (lazer, entretenimento, compras não essenciais); 20% para poupança e investimento.

3. Diante deste panorama de conduta, será de questionar quem assim procede – ou deseja conduzir-se – e com que resultados. De facto, hoje vivemos numa espiral de gastos onde pouco ou nada fica para ‘coisas’ necessariamente previstas e muito menos para acorrer a situações imprevistas e/ou não-programadas. Talvez devamos encarar assuntos como a habitação, a educação (escolaridade e aproveitamento), vida social e aspetos de afirmação pública ou mesmo as formas de vestir, de adquirir carro ou até de sair para comer fora neste âmbito da poupança mais do que da pretensão em querer dar nas vistas, mesmo que isso possa significar falência económica ou andar coberto de dívidas, socorrendo-se de créditos para pagar outros empréstimos… De facto, ser honesto consigo mesmo e com os outros implica restrições e poupanças bem geridas. Andar de cabeça levantada, sem ter de se encolher ao passar pelos credores implica boa gestão e não mera aparência e faz-de-conta até que se descubra.

4. Enquanto vivermos nesta fachada do parecer e não do ser, continuaremos a não sairmos da cauda da Europa, mesmo que sejam deitados milhões em subsídios nas nossas contas, pois tudo isso terá de ser pago e com juros. As gerações mais novas e certos setores da sociedade estão mais vulneráveis à flutuação das contingências e com dificuldade levantaremos cabeça se nos continuarem a manipular com o espicaçar do consumo e não a sabermos deixar-nos ser educados para a poupança mínima e audaz. Basta, como diz o povo, de ‘ter boca de rico e bolso de pobre’…deste é que são pagas as contas, as dívidas, os créditos e os investimentos. Como sempre a boa educação começa em casa e nos exemplos que nos são dados e que damos aos vindouros!



António Sílvio Couto