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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Gafes, apartes e sugestões... inoportunas

 

A data do ’25 de abril’ – com a comemoração do cinquentenário da revolução em destaque – foi fértil em gafes, em apartes e em sugestões de algumas das altas figuras do nosso tecido político: se algumas como que vieram enriquecer o anedótico nacional, outras ainda não fizeram o percurso total sobre as consequências sociais, culturais e políticas... Bastou uma pequena chispa de falta de senso e logo surgiram ratos do esgoto.

1. De entre os mais notáveis em matéria de gafes, apartes e sugestões inoportunas, destacou-se o mais alto dignitário da Nação, não se percebendo em que papel se colocou, se como Presidente ou como comentador jornaleiro. Num jantar com jornalistas estrangeiros – segundo dizem ao longo de quatro horas – não se coibiu de comparar o anterior e ao atual chefe de governo, dando a um o epíteto de lento, por ser de ascendência oriental e ao outro o de ser de tendência rural, em razão do partido de onde é proveniente. Outra matéria em que o ‘professor’ se meteu, por estes dias, foi a sugestão de que os portugueses deveriam pagar indemnização aos povos que colonizou, considerando os custos da escravatura e dos crimes coloniais...

Breve apreciação destas ‘tiradas’ marcelistas: uma coisa é dizer o que se pensa e outra é pensar bem o que se diz e o que deve ser corretamente entendido! Algo é incentivar a reflexão sobre assuntos essenciais, outro é o de levantar questões sobre problemas que dividem, senão mesmo que acirram os ânimos de povos, culturas e nações! Quem pediu este menu de confusão? Terão sido os eflúvios revolucionários ou outros de narrativa menos clara ou obscura? Não haverá por aí uma deriva histórica de deficiente qualidade ou andaremos à boleia da ‘criação de factos políticos’ a destempo? Recordamos essa frase viral do rei de Espanha ao chefe venezuelano: por que no te callas? Sim, por veio isto neste tempo de derivas à deriva, senhor Presidente?

Usando o anedotismo humorístico nacional, seria de responder: ‘não havia necessidade’...

2. Outros episódios emergiram por ocasião da comemoração dos cinquenta anos da ‘revolução de abril’, onde podemos ver, julgar e agir – nesse velho e acertado método da ‘Ação da católica’ – aspetos nem sempre percetíveis à primeira vista. Desde logo a conexão entre a data de abril e a que ocorreu dezanove meses depois, o 25 de novembro, nesta corrigiu-se o que naquele intervalo se tinha manifestado de perigoso e problemático. Deixou-se cair o medo de que só uns tantos se apropriavam da celebração – na teoria e na rua – daquela data essencial à vivência em liberdade e em democracia: não há donos nem senhores de uma efeméride tão significativa para todos. Certos rituais – no parlamento e na rua – foram este ano mais ampliados senão mesmo exorbitados, com milhares de pessoas nas (ditas) manifestações, numa espécie de orgia coletiva pela liberdade e numa democracia à la carte...

3. Apesar de tudo ainda houve capacidade para introduzir detalhes que tinham escapado até agora: a lembrança dos quatro jovens que pereceram por ocasião da tomada da sede da polícia política. Tinham-nos vendido a informação quase em exclusivo de que fora uma ‘revoluçao sem sangue’, mas agora trouxeram à luz do dia essas vítimas esquecidas... e que o Presidente da AR colocou bem à vista ao convidar famílias dos falecidos para a sessão dos cinquenta anos...

4. Conta-se que uma tal Celeste que tinha preparado o aniversário de um restaurante na baixa de Lisboa – onde seriam oferecidos cravos às senhoras – mas como o resturante não abriu devido ao ambiente da revolução, ela voltava para casa com um ramo de cravos, quando se aproximou de um dos tanques militares que participava na revolta, então, um militar pediu-lhe um cigarro, mas como ela não era fumadora, ofereceu o que tinha, dando ao militar um cravo que ele colocou no cano da espingarda, de seguida os outros militares seguiram-lhe o exemplo e essa tal Celeste distribuiu os cravos que trazia da não-festa de aniversário do restaurante...

Ainda haverá inocência suficiente no uso do cravo vermelho/encarnado como símbolo do ‘25 de abril’?



António Sílvio Couto

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