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segunda-feira, 22 de abril de 2024

‘25 de abril’ foi corrigido no ‘25 de novembro’?

‘Faz inteiramente sentido’ que o 25 de Novembro de 1975 seja celebrado, tal como o 25 de Abril de 1974, pois quem quer separar as duas datas está ‘a cometer um erro histórico’.

Foi António Ramalho Eanes - estratega do ‘25 de novembro’ e o primeiro presidente eleito após a (dita) ‘revolução do cravos’ - por ocasião desta efeméride que estamos a viver. Segundo Eanes ‘há uma data fundadora da democracia, é o 25 de Abril, que assume perante o povo português o compromisso de honra de lhe devolver a soberania e a liberdade, de fazer com que os portugueses façam aquilo que entendem para viver o seu presente e desenhar o seu futuro... O 25 de Novembro reassumiu esse compromisso original’.

1. Dezanove meses separaram as duas datas, por sinal tendo ambas o numerário ‘25’, mas com um significado que ainda incomoda certas forças paladinas do ‘processo revolucionário em curso’ (PREC) e que criou até hoje feridas em milhões de portugueses, dentro e fora do território europeu. Advertindo da sua experiência de nonagenário, Eanes considera que seria um erro histórico separar as duas datas e, segundo ele, ‘os erros históricos nunca são convenientes, porque a história quando é apresentada na sua totalidade, permite-nos que a ela voltemos, para nela aprender e evitar cometer erros que foram cometidos no passado’.
Claro que a disfunção das duas datas nos coloca perante uma leitura ideológica de certos historiadores marxistas - de serviço na maioria das televisões e vendendo o seu produto nas cátedras - para quem a História se pode reescrever segundo os interesses em consonância... Mas eles passam e se perceberá o ridículo (científico) em que se colocaram...

2. Habilidosamente têm estado a ir ao baú das recordações para que não se esqueça o fervor de há cinquenta anos. A maioria dos deputados assentados no parlamento eram, pelo menos imberbes, à data da revolução de abril. Uns tantos - e no feminino também - são filhos dos que desenvolveram o PREC, entre assaltos e atentados, com brigadas revolucionárias e acusações de capitalismo... afundando empresas e atirando para o desemprego os seus apaniguados. Alguns contestam a adesão à União Europeia e a pertença ao euro, mas usufruem boas maquias quando são deputados no Parlamento Europeu.
Datas como o ‘11 de março’ ou o ‘28 de setembro’, sem esquecer os comícios inflamados em certas zonas da ‘margem sul’ do Tejo, a destruição da Rádio Renascença... com a resposta das manifestações em Braga, em frente à Sé catedral, a cadeia de limpeza de certas sedes partidárias, a avalanche de cidadãos (rotulados) de ‘retornados’, as emboscadas e rusgas arbitrárias em várias zonas do país, as perseguições e confrontos por ocasião da ordenação do primeiro bispo de Setúbal, em outubro de 1975... são alguns dos acontecimentos que perfizeram o hiato entre o ‘25 de abril de 74’ e o ‘25 de novembro de 75’. Varrer para debaixo do tapete da História esses factos - nalguns casos com forte repercussão em famílias e sociedades - seria esconder algo que traumatizou o país...irremediavelmente.

3. A quem interessa não enfrentar esses fantasmas? Não haverá muita gente que acusa os outros para que não lhe descubram as mazelas e as tropelias praticadas? Não é chegada a hora de que certas forças deixem de fazer tanto barulho e se reduzam ao que, afinal, valem: não chegam, no conjunto, a uma dúzia de deputados?
Não adianta quererem desviar a atenção para as falhas dos seus projetos políticos, que já faliram nos países onde foram impostos e mais cedo do que tarde também por cá deixarão de ter sentido e expressão...

4. Um dos símbolos mais significativos da ‘revolução abrilina’ é essa de vermos um cravo espetado no cano de uma espingarda - com o romantismo da criancinha a protagonizá-lo. Calaram e bem as armas, mas fizeram das palavras piores disparos do que as armas. Uma sugestão: coloquem os cravos na boca e assim se calarão muitos dos disparates que lhes saem pela boca fora... Não será essa a lição que ainda não colhemos do ‘25 de abril de 74’?



António Sílvio Couto

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