Considerada por muito como a ‘casa da democracia’, a Assembleia da República ou o Parlamento português tem vindo a tornar-se um espaço onde, uns tantos contra outros mais, vão fichando palavras que não devem ser proferidas naquele hemiciclo. Para já conhecem-se na lista: vergonha e hipócrita, mas outras surgindo, bastando que sejam proferidas por um determinado setor politico-ideológico.
Quase cinco décadas após a revolução que quis
instalar a liberdade no país vemos que nem tudo foi nessa linha e que alguns se
acham donos da democracia, senão de direito ao menos de facto.
Desse tempo temos memória de que algo correu mal e
foi preciso pôr ordem na casa, isto é, no país, com todas as consequências daí
advindas. Talvez hoje não haja nem capacidade e tão pouco intérpretes para
fazer o que devia ser feito!
*
Vergonha (12 de dezembro de
2019)
O debate era sobre amianto nas escolas. O deputado único do Chega comentava um
projeto de resolução socialista e utilizou a expressão "é uma
vergonha" sobre o Governo e o PS. Ferro Rodrigues (presidente da AR)
ripostou: "O senhor deputado utiliza a palavra vergonha e vergonhoso
com demasiada facilidade, o que ofende muitas vezes todo o parlamento e
ofende-o a si também".
Depois de aquele deputado ter abandonado o parlamento, uma deputada do BE
voltou ao tema e disse: "É uma vergonha que o Movimento [Escolas sem
Amianto] tenha de se substituir ao governo na divulgação e na publicidade
destas escolas e é uma irresponsabilidade porque é a falta de transparência
sobre esta lista que cria o alarmismo nas comunidades escolares". Aqui não houve repreensão do presidente da
AR... dizem as crónicas da época.
* Hipócrita (25 de maio de 2022)
Estava-se na discussão na especialidade do OE/2022 e um deputado também do
Chega personalizou as acusações, apontando o caso de um membro do governo em
funções sobre a discrepância entre o que defende para a saúde pública e a prática
desse mesmo governante em atos médicos, dizendo o tal deputado: “Os socialistas
caviar são uns hipócritas. Querem hospitais de luxo para eles”... Apenso a esta
tensão o grupo parlamentar socialista fez distribuir por todos os parlamentares
uma folha com a definição de hipócrita no dicionário.
No dia seguinte (26 de maio) novo conflito: mais um deputado do Chega
classificou de ‘hipócrita’ a deputada única do PAN naquilo que era uma discussão
sobre a redução dos impostos quanto aos atos tauromáquicos...
António
Sílvio Couto
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