Indiscutivelmente o humor é uma arte e exercê-la não é para quem quer, mas para quem sabe...dado que é muito mais do que jeito, habilidade ou aceitação popular. De vez em quando surgem razoáveis humoristas: uns com talento, outros bem promovidos e outros ainda com subtil catapultação (sabe lá de quem, mas com suficiente auréola que faz desconfiar)... O humor – tenha a expressão visível, cultural ou social que tiver – é preciso. No entanto, nem tudo o que faz rir é humor, antes poderá ser rumor de outras questões e intenções...
Estas
questões – e tantas outras – não resumem nem aglutinam questionamentos sobre o
humor. Tentarei abordar algumas, deixando a quem ler, sugestões para procurar as
suas respostas...
A
forma de exprimir o bom humor pode ser variada e variável, talvez mais em
função de com quem se está do que de quem tenta manifestar esse (bom) humor.
Quem não conhece a distinção entre o palhaço triste (por dentro) que tenta fazer
rir (os outros), mesmo na sua íntima tristeza?
Na
abertura do seu livro, de 1968, o teólogo Joseph Ratzinger, no excelente livro
‘Introdução ao cristianismo’, deixou uma estória digna de nos fazer refletir.
Certo dia houve um incêndio num
circo ambulante. Quando o diretor se apercebeu de que algo estava a arder,
chamou o palhaço – era o único que já se encontrava vestido e maquilhado a
preceito – para que fosse à vila mais próxima, à procura de ajuda, avisando a
população de que havia um incêndio no circo e que, se não viessem ajudar, todos
corriam perigo.
Ao verem o palhaço neste estado
os habitantes acharam que desta vez o circo se tinha esmerado em inventar uma
forma de chamar gente para o seu espetáculo.
Mas quanto mais o palhaço apelava
para que fossem acudir ao incêndio mais a população se ria, pois o palhaço
chorava para que todos fossem ajudar e eles consideravam que aquilo fazia parte
da propaganda.
Todos se riam, mas o palhaço
sentia ainda mais vontade de chorar, procurando convencer todos de que o
assunto era mesmo sério: havia, de facto, um incêndio.
Mas o seu desempenho ainda
deixava a população mais a rir... Ora, o fogo atingiu a vila. Já era tarde... E
o fogo consumiu o circo e a vila.
Não
andaremos compungidos demais a querer apelar a uma conversão demasiado séria e
que já poucos levam a sério? Como poderemos aliviar a mensagem sem a vulgarizar
nem nos ridicularizarmos?
Cheira
a quase-insuficência inteletual que, alguns setores da Igreja católica,
recorram a comediantes em maré de sucesso para irem ‘pregar’ a encontros
eclesiásticos. Será que eles retribuiriam tal simpatia nos seus quadros e
iniciativas. Fareja-se algo de indisfarçável incompreensão que certas
comediantes usem o espaço de atividade ‘católica’ para se promoverem e lançarem
as suas atoardas desconexas e ridicularizantes...
António Silvio
Couto
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