Depois
de, no ano passado, ter dedicado a sua mensagem à necessidade de ‘ir e ver’,
este ano, o Papa Francisco dedicou a sua mensagem para o dia mundial das
comunicações sociais à atenção ao ‘escutar’, como algo decisivo na gramática da
comunicação e como condição para um autêntico diálogo.
‘Escutar
com o ouvido do coração’ – é o tema do 56.º dia mundial das comunicações
sociais, que ocorre, cada ano, no domingo da Ascensão. Com três aspetos
progressivos e complementares a mensagem papal aborda: escutar com o ouvido do
coração, a escuta como condição da boa comunicação e escutar-se na Igreja.
Vejamos
cada um destes aspetos…até pelo confronto com tanto barulho, por dentro e por
fora.
1. Escutar com o ouvido do
coração
A escuta é pedra de toque da relação dialogal entre
Deus e humanidade... A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus... Deus que
sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é
pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta...Jesus convida os seus
discípulos a verificar a qualidade da sua escuta... Ouvidos, temo-los todos;
mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o
outro. Pois existe uma surdez interior,
pior do que a física. De facto, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do
ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração...A
primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a
escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no
íntimo de cada pessoa.
Partindo
destas palavras da mensagem do Papa Francisco podemos compreender que de um bom
ouvido depende uma salutar comunicação. Efetivamente gritamos uns com os outros
porque, mesmo estando perto, nem sempre estamos sintonizados pelo coração em
escuta, pelo silêncio e no diálogo.
2. Escuta como condição da boa
comunicação
Aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação
é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face, a escuta do
outro abeirando-nos dele com abertura leal, confiante e honesta... A boa
comunicação não procura prender a atenção do público com a piada foleira
visando ridicularizar o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e
procura fazer compreender a complexidade da realidade... A escuta é o primeiro
e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação... A capacidade de
escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa
pandemia... É preciso inclinar o ouvido
e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo
abrandamento ou cessação de muitas atividades económicas.
Destas
palavras do Papa podemos perceber que ser capaz de deixar o outro falar é
exigência para que se passe de um ‘duólogo – monólogo a duas vozes – para um
verdadeiro diálogo, naquilo que se poderá apelidar de ‘martírio da paciência’,
escutando antes de ser escutado. Urge termos tempo e critérios verdadeiramente
cristãos para sabermos escutar as histórias de vida de tantos dos nossos
contemporâneos, sem nos quedarmos por estórias laterais sem gosto nem nexo…
3. Escutar-se na Igreja
Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de
nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos
outros... Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de
escutar o próprio Deus... Na ação pastoral, a obra mais importante é o «apostolado do ouvido». Devemos
escutar, antes de falar... Recentemente deu-se início a um processo sinodal... Como num coro, a
unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade
das vozes, a polifonia.
Precisamos
de aproveitar esta oportunidade de escuta recíproca, onde todos temos algo a
aprender, num apurado processo de intercomunhão fraterna sinodal, que é muito
mais do que solidária. Temos consciência de que somos uma ‘Igreja sinfónica’?
António Sílvio Couto
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