Em tempos não muito recuados esta frase – qual é a pressa? – fez algum furor nos meios políticos.
Valerá
a pena recordar o texto e o contexto, até para captarmos o que esta mesma frase
pode significar nos nossos dias... e quais as implicações se não respeitarmos
não o andar (mais) devagar, bem como a compreensão e a vivência que pode estar
subjacente ao sem-pressa... que não é indiferença.
No
início de 2013, um ex-ministro do governo-Sócrates e ajudante privilegiado da
estratégia de António Costa para substituir o então secretário-geral socialista
lançou um desafio para a realização de um congresso extraordinário do partido
com o objetivo de escolher um novo líder. Com serenidade António José Seguro –
eleito secretário-geral em 2011 e reeleito em 2013 – repetiu várias vezes: qual é a pressa?
Entretanto, realizaram-se eleições para o Parlamento Europeu e o tal
ex-ministro foi eleito. Essas eleições foram ganhas pelos socialistas, mas a
facção opositora ao secretário-geral em funções considerou que foi ‘por
poucochinho’... e, depois de várias peripécias, foram convocadas ‘eleições
diretas’, em 2014, nos socialistas, tendo António Costa ganho a António José
Seguro... Como consequência disso, e depois de um congresso, António Costa fez
o seu caminho e desde 2015, numas eleições que perdeu (e não foi por
poucochinho), mas que se fez governar através da geringonça, durante 2178
dias... até à mais recente vitória. Aquela pressa de 2013 deu nítidos
resultados...
«Portanto, quem ouve estas minhas palavras e
as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela
casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas
minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa
sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda" (Mt 7,
24-27).
Eis
a escolha, mesmo que nem sempre clara e efetiva: o alicerce diz muito do
edifício, quanto mais alto se pretender fazer mais fundo deverá ser... Teremos
ainda de ter em conta o terreno onde queremos erguer a ‘casa’. Nota-se que, ao
nível humano, se vai negligenciando o fator cultural mínimo, mesmo no âmbito de
compromisso de vida, como no casamento ou na vida sacerdotal...
Sem
pressa haveremos de aprender a amadurecer os mais básicos princípios da nossa
vida simples e leal.
António Silvio
Couto
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