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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Agressividade social em crescendo

 


Os sinais estão aí e são bastante perigosos: crianças vítimas de bulliyng nas escolas e não só; preparação (descoberta) de atentados numa universidade; assaltos a lojas e transeuntes em várias partes do país; distúrbios em jogos de futebol… com horas e horas a dissecar os casos, à procura de encontrar culpados e, sobretudo, a intoxicar o meio sociocultural.
Onde podemos encontrar os focos deste crescendo da agressividade social? Que podemos dizer das intervenções políticas dos ganhadores das últimas eleições? O que foi dito e propagandeado será fator dissuasivo ou antes promotor do pior que já vivemos e ainda poderá vir? Quem se arvora em ostracizar os adversários não andará a plantar, à sua volta, inimigos, reais, virtuais ou ficcionados?

1. Não sei se a minha leitura não será a de alguém que já vê o mundo com óculos de menos-boa aceitação, dada alguma idade, mas parece-me que a sociedade atual se manifesta mais agressiva – nas relações pessoais, grupais, familiares e sociais – do que em tempos não muito recuados. Uns dizem que isso manifesta reação ao confinamento destes dois últimos anos. Outros introduzem a componente reivindicativa mais exacerbada com os constrangimentos da pandemia. Mas porque será que uns reagem de uma forma e outros não seguem por essa condicionante? Qual o clique que faz a diferença para, hoje, vejamos pessoas que agridem mesmo sem agressão e outros não respondem dessa forma, quando confrontados com tais provocações?

2. Mesmo assim recordo, há três ou quatro décadas, como tempos agressivos, nalgumas partes da Europa e da América Latina com movimentos extremistas – ‘brigadas vermelhas’, ETA, IRA, Baader-meinhof… imensos grupos espalhados pelo mundo, muitos deles interligados ou correligionários. Foram tempos marcados e marcantes pelas contestações políticas e sociais, económicas e laborais, que pretendiam que fossem cívicas, mas tornavam-se mortíferas e quase desumanas. Desses tempos ficaram tiques, nalguns dos dirigentes em funções, sobretudo ligados a uma certa esquerda marxista-trotskista ressabiada…

3. Atendendo à acentuada influência da internet e das redes sociais, hoje, torna-se extremamente difícil perceber o que boa parte das pessoas faz, mesmo que pareça sossegada. Dizia, por estes, um especialista na arte de educar: muitos pais ficam contentes que os filhos estejam ocupados e talvez em casa, só que não sabem por onde eles andam, quando navegam na internet, isto é, sossego não significa ausência de perigo… Talvez seja necessário estarmos mais de atalaia para que não aconteçam surpresas ou mesmo atitudes indesejadas. A ocupação das crianças e adolescentes não pode ser feita à custa de ingredientes de intoxicação e, talvez sem disso nos darmos conta, de dependências e de desequilíbrios a curto e a médio prazo.

4. São preocupantes os sinais – verbais, de grupo ou de partidos, de fações – de intolerância na nossa vida coletiva. Aquilo que devia quedar-se pelo combate no campo das ideias, está em efervescência na luta política. Parece-me inadmissível que dirigentes e sequazes pretendam erguer barreiras sanitárias em volta de resultados eleitorais expressivos. O país parece tornar-se uma imensa barricada, onde as trincheiras ofendem e como que revelam os intentos de muitos democratas…no seu conceito.
Não precisamos de incendiários que criem mais fatores de desestabilização. Urge refazer a comunicação social, rejeitando quem se entretém com o escarafunchar das mazelas da sociedade, explorando quase até à exaustão fenómenos de agressividade e exacerbando mais o que divide do que aquilo que une. O comando do aparelho pode fazer cair as audiências e as publicidades!

5. A sabedoria popular considera: quem semeia ventos, colhe tempestades! Certas posições são de ventania, queira Deus que recebam a paga que merecem… Não vale tudo para atingir os fins em vista!

António Sílvio Couto

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