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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Assédio não-culpado?


 De forma quase acintosa têm surgido, grosso modo na última década, nas notícias sobre a Igreja católica, casos de abuso por parte de membros do clero – uns de cariz sexual e outros de tendência de ‘género’ – numa confusão quase intencional de desacreditação de todos, a partir das partes.

A onda tem varrido várias instâncias eclesiais e sociais. No contexto pontifício teve maior desenvolvimento com Bento XVI – sussurrando-se que foi esta ferida que o foi consumindo até à sua renúncia em fevereiro de 2013 – e tem percorrido o magistério de Francisco. Os países ‘mais’ católicos estiveram sob especial escrutínio deste flagelo – humano, psicológico, espiritual e social – de longa data. Esta nova-inquisição revolveu quase tudo, desde que cheirasse a escândalo…real ou presumido. Em países mais endinheirados, choveram processos de indemnizações suficientemente chorudas às vítimas; noutros – como em Portugal – parece que se pretende ficar pelo escândalo quanto baste, desde que o assunto percorra o caminho adestrado sabe-se lá por que forças… As comissões – diocesanas ou independentes – empossadas servirão para apurar a verdade séria? Mais do que os resultados será preciso compreender os efeitos…a curto e médio prazo.      

 1. Para publicitar os apanhados na teia foi usada – até agora – uma panóplia de meios, desde a denúncia até à acusação, passando pelos pormenores mais ou menos sórdidos, que, de tão detalhados, quase deixam a suspeita de poderem ser cozinhados a contento, hoje como ontem… sobretudo se for tida em conta a possibilidade de discrepância dos ‘acontecimentos’. Não se está, nem por sombras, a questionar as boas intenções de encontrar os prevaricadores – seja qual for o enquadramento jurídico-canónico – talvez possam ser – isso sim – objeto de análise os meios de prova…

Com que alarido foram noticiados alguns dos casos, deixando, inexoravelmente, um rasto de suspeita e de quase-anátema sobre os denunciados/acusados, mas com que acobardamento não foi referida a não-acusação e até a absolvição dos mesmos intervenientes… Vimo-lo – na última década – em mais do que um caso nalgumas dioceses, dentro e fora da Europa, e nem as autoridades eclesiásticas se diferenciaram no comportamento e nas notícias. Assim se pode inferir que nem todos querem a verdade, mas privilegiam, pelo contrário, ‘sua’ versão, desde que seja populista… por agora.

 2. Irremediavelmente temos de considerar que é grave toda e qualquer ofensa em abusos – sexuais, morais ou de consciência – aos mais novos ou as pessoas com outras debilidades. Quem tal praticou deverá ser responsabilizado, seja qual for a instância jurídica, canónica ou ética…   

 3. Ora, nesta amálgama de condições socioculturais, parece-me que tem faltado um item, que, na minha compreensão, não deveria não ser excluído: têm sido apresentados muitos eclesiásticos como os réus de situações sobre menores e fragilizados. É digno de registo tal intento. E as vezes em que aqueles ou outros eclesiásticos foram – tácita, insinuada ou explicitamente – assediados em funções ou fora delas, mas tendo em conta a sua pessoa e ministério, não deveriam constar nos parâmetros da equação? Por que não se ouve falar desta vertente do problema? Será que o ‘sigilo profissional’ dos padres tem de abafar os casos e problemas, quando os atinge na sua honorabilidade?

Dizia alguém com propriedade e sabedoria: vós, os padres, não penseis que vos ‘atacam’ por serdes, enquanto homens, com bom aspeto, mas por serdes padres! Efetivamente há casos em que os assédios se verificam com tal subtileza – tanto no feminino como no masculino – que será preciso estar muito atento às insídias e ciladas do mal. Até as crianças – consideradas sem maldade – podem tornar-se focos de insinuação mais ou menos explícita. Quem acreditará, hoje, que um simples aceno de uma criança para um padre não poderá conter alguma carga menos sincera ou simplória? Pior: e se isso é comandado por algum adulto – pessoa ou conjetura – tal gesto, aparentemente, infantil poderá, afinal, ser uma cilada…

 4. Temos um problema em curso e não parece ser fácil discernir quem nos quer bem, pois, hoje, tem uma leitura e daqui a dias (ou anos) não sabemos as implicações de tais gestos, palavras e sinais. Cuidado, já!  

 

António Sílvio Couto

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