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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Renovar o ‘novo Pentecostes’


Após setenta e tal dias em que estivemos com as igrejas (casas) fechadas ao culto e sem assembleia celebrante, neste Pentecostes voltamos a ter irmãos e irmãs nos nossos espaços celebrativos. Se bem que a Igreja não tenha estado fechada – o que esteve interrompida foi a presença física, pois a virtual foi exercida e a de dimensão espiritual ainda mais afirmada – agora voltamos a re-unir-nos, isto é, voltamos a unir-nos de forma física e simultaneamente presencial.

Se no Pentecostes de At 2,1-12, o Espírito Santo fez sair a Igreja do confinamento do Cenáculo, agora o Pentecostes de 2020 fez-nos reunir em assembleia de Igreja para que a mesma Igreja seja reenviada ao mundo.  

– Para escrever este texto quis viver as celebrações das eucaristias do Pentecostes deste ano, que teve tanto de novo quanto de significativo. Com efeito, em quase trinta e sete anos de padre, foi a primeira vez que recorri – legítima, humilde e sinceramente – à faculdade que o Ritual da Penitência nos confere de celebrarmos ‘a reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição geral’ – cf. Ritual da Celebração do Sacramento da Penitência, n. os 61 a 62. Efetivamente, decorridos mais de dois meses sem participação/presença de fiéis na missa, pareceu-me que seria bom, à luz de um exame de consciência comunitário, que todos pudéssemos fazer a experiência do reconhecimento de pecadores perdoados… Quem tiver tempo e oportunidade ser-lhe-á muito útil reparar na tríplice vertente da oração de absolvição – como dizia um padre que fez idêntica experiência – parece uma fórmula adequada ao dia do Pentecostes.  

– Com data de final dos anos setenta do século passado, surgiu um livro simples e programático do cardeal Joseph Suenens, ‘Um novo Pentecostes’, onde são traçadas as linhas gerais disso que estava a delinear-se na Igreja católica como sendo o que haveria de designar-se como ‘renovamento carismático’. ‘Corrente de graça’ – como disseram vários Papas, quando se referiram ao renovamento carismático na Igreja e no mundo – decorrente do espírito do Concílio Vaticano II incendiou o mundo com a vivência, agora no âmbito católico, daquilo que se falava nos Atos dos Apóstolos.

Efetivamente, foi pela consciencialização da ação do Espírito Santo que milhões de cristãos reatualizaram aquilo que se dizia no ‘evangelho do Espírito Santo’, tal como é salientado por tantos autores sobre o livro dos Atos dos Apóstolos: tudo o que ali se dizia foi tornado vida e deu sentido ao nosso viver.

Dou graças a Deus por ter vivenciado, à minha proporção e com a minha capacidade humana e teológica, tanto daquilo que se foi espalhando pela face da Terra. De facto, ao escutar a multiplicidade das línguas, numa só linguagem na narrativa do Pentecostes, vem-me à lembrança momentos de comunhão ecuménica em Viena ou Praga, onde a diversidade das línguas e de culturas – algumas antagónicas ao nível político – se unia na mesma expressão de glossolalia atualizada em gestos, palavras e sinais. Talvez falte a muitos dos atuais responsáveis dos grupos ou de equipas diocesanas e/ou nacionais essas humildes experiências para que possam ser marcantes as iniciativas e não como coroamento de ações de natureza humana, mas talvez denunciando poderem ser sem a marca divina!  

= Àqueles que foram jovens e que viveram momentos significativos das suas vidas na dinâmica do Espírito Santo queremos considerar que não podem colocar a lâmpada sob o alqueire, mas colocando-a sobre o candelabro para que vibre e dê testemunho. A geração dos que estão na fase da adolescência precisa de encontrar quem lhe fale de Jesus, lhe mostre a ação do Espírito Santo e, sobretudo, que queira viver isso em Igreja. Eis três vertentes que nos deveriam ocupar, tanto na oração como na ação, por exemplo nos próximos cinco anos, por forma a termos uma Igreja mais dinâmica, pela aceitação do Espírito Santo e na adesão pessoal e comunitária a Jesus. Se tal fizermos estaremos a contribuir para a renovação do ‘novo Pentecostes’ na Igreja e no mundo. Assim o cremos e o desejamos.

Nota: na noite do domingo de Pentecostes, na Moita, percorremos, em procissão-caravana automóvel, as três localidades que compõem a paróquia – foi um manifestar que Maria faz connosco Pentecostes, sempre!

 

António Sílvio Couto

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