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segunda-feira, 8 de junho de 2020

Rastilho do racismo…


Mais uma vez – pela enésima possibilidade – vemos incendiarem-se múltiplas manifestações populares contra aquilo que se vai designando de ‘racismo’. Isto começou nas terras da América e já foi exportado para outros continentes…mesmo que desfocando a questão (facto, circunstâncias e consequências) e alterando a pretensão…mais ou menos subtil.

  * O facto e a narrativa possível – Depois da morte, a 25 de maio passado, de um cidadão americano de cor negra foi-se espalhando numa nova onda crescente de protestos, primeiro nos EUA e posteriormente noutras paragens… O pagamento de um maço de tabaco com aquilo que foi julgado ser uma nota falsa de vinte dólares desencadeou uma ação policial com detenção algo agressiva e o colapso total do detido…depois de ter estado a ser sufocado durante – dizem os relatórios – oito minutos e quarenta e seis segundos.

Bem depressa foram confundidos violência policial com combate ao crime, mas sobretudo emergiu a labareda crepitante do racismo, de um modo especial na sociedade americana e na forma mais explorada da agressividade dos brancos sobre os negros e de tudo quanto pode parecer ‘supremacia’, ‘perseguição’, ‘escravatura’ e tantos outros mitos desgraçadamente mortíferos nas várias culturas e/ou quase civilizações.

* Perguntas e outras interrogações – Isto que nos tem sido dado a conhecer noticiosamente não estará um tanto ideologizado? Não estaremos a ser explorados por lóbis transnacionais? O que nos é dado saber não será mais fruto da proliferação de informações? Isto que vemos não será apenas a ponta de um icebergue mal escondido? Porque não foi ainda resolvido o problema ‘racista’ nos EUA? O sangue derramado de Luther King não merece mais respeito por parte de todos? Será à pedrada que se resolverão os problemas? A quem interessa desautorizar quem estabelece a ordem? Estes da ordem pública não serão também resultado de circunstâncias históricas e culturais?

* Ponto da situação…lá fora – Há dez anos atrás, os censos apontavam nos EUA que quarenta por cento da população se declarava negra (afro-americanos e negros hispânicos) numa composição delicada, tanto nas origens como na forma de se exprimir. De entre estas especificidades nota-se alguma crispação no âmbito económico – terreno fértil para contestações, lutas e conflitos – e nos aspetos culturais. Por isso, qualquer pequeno rastilho pode incendiar a torcida racista que sempre fumega. Tal como temos estado a assistir, nestas duas semanas, o tema torna-se transversal, tanto mais que a maior parte das vítimas do coronavírus, lá como cá, encontra terreno propício para se propagar e, consequentemente, fazer vítimas na população mais desfavorecida ao nível económico, social e até cultural.

* Repercussões… por cá – Não deixa de ser sintomático que boa parte dos combatentes do racismo, cá nas terras lusas, sejam simpatizantes de ideias sociopolíticas ancoradas nalgum esquerdismo já abandonado noutras paragens – esse caldo de influências que mistura marxistas, trotskistas, anarquistas e tantos outros afins – e surjam como promotores da contestação… de rua e na comunicação social. Ora, o que não deixa de ser ‘admirável’, é que não vemos essa defesa antirracista verter-se nos eleitos ao parlamento – com três ténues figuras na última eleição – e tão pouco nas intervenções visíveis na vida pública. Serão aquelas iniciativas de reivindicação algo só de diversão e para distrair? Não estarão a ser usadas as (ditas) vítimas do racismo como instrumentos de arremesso barato e sem consequências práticas?

* Enfrentar outros racismos…camuflados – Pelo que se pode perceber há hoje outros racismos bem mais profundos do que o da cor da pele. O racismo economicista, onde uns tantos se acham senhores da imensa maioria sem meios de subsistência, sobrando os problemas para outros que se arvoram em voluntários do próprio interesse. O racismo da ostentação, onde uns habilidosos usam os outros para se promoverem sem pejo nem vergonha. O racismo clubístico, onde alguns se consideram senhores do fenómeno desportivo (e do futebol em particular), abusando da paciência de quem não vai na sua cantiga. O racismo partidário, que pulula em maré de crise, favorecendo os que têm o cartão de quem governa – ao nível geral ou local – e arvorando-se em benfeitores daquilo que não produziram nem conquistaram… E tantos outros campos onde se nota desigualdade prática, quando ela deveria ser combatida pela devida educação, cultura e civilização.

Sou contra toda a forma de racismo, pois não se pode usar o termo e o conceito só quando nos convém, mas devemos combatê-lo nas pequenas como nas grandes coisas e causas…          

 

António Sílvio Couto

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