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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Custo dos almoços/jantares a jornalistas


Corroborando um chavão mais ou menos aceite e conhecido – ‘não há almoços grátis’ – um treinador de futebol ousou enfrentar o setor dos jornalistas, lembrando-lhes tal façanha, bem como lançando a confusão nas hostes ínclitas da classe!          

Em reação corporativa, logo lhe foram fazendo o lastro para que a tarefa de treinador esteja em perigo, lançando ainda mais suspeitas sobre a veracidade dos factos aduzidos ou criando à volta do problema ainda mais burburinho de quem se sentiu denunciado e usa o ataque como arma de defesa.

Desde já uma declaração de interesses: sou simpatizante do clube do treinador em pré-despedimento, mas procuro ser racional; por isso, considero que o clube não tem condições para ser este ano campeão em futebol e, possivelmente, nos próximos dois anos, pois quem tenta imitar a confusão de outros só poderá colher os resultados deles!  

= Tentemos entrar nos meandros dos tais ‘almoço/jantares’ (ditos) grátis ou rotulados ‘de trabalho’ e quais os seus custos, sobretudo se envolverem os tais fazedores de notícias, que, por vezes, se acham no direito de cobrar a fatura, quando não lhes parece bem retribuído o que desejavam.

Daquilo que me foi dado viver, já há quase quatro décadas, nota-se que a tal classe dos noticiadores não enjeita ser adulada, mesmo que se diga independente ou com espírito crítico. Desde logo precisamos de saber quem lhe paga, isto é, quem lhe dá o suficiente para continuar a escrevinhar ou a mandar bitaites. Será, assim, tão difícil de compreender que tem de ser a voz do dono? Não haverá, mesmo que inconscientemente, o recurso ao filtro de quem manda, na hora de perspetivar o que se quer dizer ou aquilo que se quer mostrar? Não saber qual o grupo a que pertence um jornal, uma rádio, uma televisão, uma plataforma digital ou rede social é que como que andar a ser envenenado sem se dar conta…

Nada disto será tão repugnante desde que os pretensos ‘independentes’ assumam que não o são e que ainda não são tão incorruptíveis quanto desejam fazer crer…Como se diz na gíria: toda a gente tem um preço, depende do custo que se lhe queira pagar. 

= Não há profissão mais interesseira do que a daqueles que se dizem na ‘comunicação social’, pois fala de tudo e de todos, mas, quando lhe toca a arder em casa, ninguém sabe de nada e só pela concorrência se pode perceber o mal que vai na casa alheia. Nesta área que alguns consideram do ‘quarto poder’ há uma panóplia de intervenientes que se camuflam sob a capa de ‘jornalistas’, mas, na sua maioria, não passam de jornaleiros, isto é, que têm informações privilegiadas sobre a maioria dos casos e vão dando à estampa (quando se escrevia em jornal papel), ao escaparate (na diversidade da literatura amarela ou cor-de-rosa) e à tela (da tv, do écran do computador, do tablet ou noutra configuração) quando lhes convém, de preferência tendo um exclusivo… Isto não é comunicação, quando muito poderá ser rotulado de intoxicação… De facto, nota-se que falta seriedade no uso do público para atingirem os seus fins. Em quantas pretensas entrevistas se vê o preconceito para que possa satisfazer o ‘seu’ público, fabricado com critérios nem sempre humanamente respeitadores das pessoas e da sua privacidade.

No meio de tudo isto emerge uma forma de comunicação: a do estado/governo, hábil na forma, subtil na articulação e tendenciosa nos conteúdos. Quando se fizer a história da cobertura noticiosa desta pandemia – sem esquecer a componente de comentário – se saberá quanta estória ficou guardada porque não convinha à máquina de comunicação do poder… e isto desde o governo central até às autarquias e, por que não, às associações e coletividades ‘empenhadas’ no socorro das vítimas.

Uma simples palavra sobre essa outra forma de querer participar na barafunda do aparecer aliado ao parecer, que são as ‘notícias’ das redes sociais. Veja-se como uns segundos de filme se podem tornar – como agora se diz – virais, fazendo com que algo lateral possa saltar para a ribalta, sem se ter averiguado a verdade dos factos nem dos intervenientes e, uma vez mostrado, parece ser verdadeiro, logo digno de crédito.

Bom senso, capacidade de autocrítica e sentido do ridículo faria muito bem a alguns ‘jornaleiros/as’ da nossa praça. Não se defendam tanto, pois todos temos telhados de vidro. Cuidado com os resultados!   

 

António Sílvio Couto

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