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sábado, 25 de abril de 2020

Há algum ‘milagre português’…nestas coisas do vírus?


Quem ouviu o presidente da república a falar na convocação para o 3.º ‘estado de emergência’ ter-lhe-á ficado no ouvido a referência em que ele acentuou o ‘milagre português’, naquilo que ele interpretava como a chave do (aparente) sucesso – ou melhor, no tão não-pior cenário – de combate à disseminação do ‘covid-19’ entre nós…

À boa maneira de outros momentos da nossa história coletiva há uns tantos mais habilidosos na arte do disfarce que procuram rejeitar qualquer alusão ao divino, seja naquilo que for e, particularmente, quando as coisas não forem tão dramáticas como seria expetável ou – pasme-se a subtileza! – na conveniência das suas ideias antirreligiosas. 

= Considero do mais elementar da nossa condição social e cultural denunciar que há forças – umas assumidas como braço dos aventalistas/maçónicos, outras como projeção de vários esquerdismos (marxistas, trotskistas e anarco/amoralistas) – para as quais lhes custa, minimamente, considerar, ao menos como hipótese, que não conseguem explicar logicamente o que lhes escapa…acham-se donos de tudo e do bastante, reduzem quem não seja como eles ao irrazoável de não-fé. É vê-los a pulular em programas televisivos, arvorados em intelectuais, de circunstância ou residentes no poleiro; jornalistas que precisam de afirmar a sua não-crença como se tal lhes desse mais estatuto ou superior credibilidade; intervenientes em programas de entretenimento – barato e subtil da manhã ou na versão arrastada da tarde – que puxam a conversa para a sua afirmação da descrença e não da sua posição profissional ou especialidade seja lá naquilo que for…e pelas (ditas) redes sociais é um estendal de agnósticos, de laicos (na versão de aversão ao fenómeno religioso) ou vendedores de ilusões bem mais patranhosas do que as que pretendem gatafunhar aos crentes… 

= Retornemos à leitura da situação de ‘milagre português’ nas palavras do presidente. Reportando-se aos números das vítimas do ‘covid-19’, o presidente fez-se eco, no seu discurso de 16 de abril, da forma como os portugueses foram ‘solidários e mobilizados, com disciplina, com zelo, com determinação, com coragem’, suportando fortes privações neste caminho a que tantos estrangeiros chamam ‘o milagre português’. Explicando esta expressão, o presidente considerou ainda que ‘se isto é um milagre, como lá fora dizem, então nós, povo português, somos um milagre vivo há quase nove séculos. Se isto é um milagre, o milagre chama-se Portugal’.

Este excerto da comunicação do presidente da república não nos pode fazer essa figura de inferiorizados com que tantas vezes nos apreciamos, nos catalogamos ou ainda nos golpeamos em jeito sadomasoquista.

Não será preciso recorrer ao imaginário religioso da nossa história coletiva para que não continuemos a mergulhar num tal pedantismo sem nexo que julga tudo conseguir e nada apreciar em si mesmo e nos outros. Talvez nos faltem líderes capazes de conduzirem este povo que, tantas e de tão variadas formas, faz das suas fraquezas as melhores das forças…e não é só no futebol. Nos mais diversos campos – inclusive no âmbito religioso – temos tido dirigentes lerdos, sem visão e pouco nível intelectual e cultural…não-dignos dos nossos antepassados heróis e santos.

Com facilidade nivelamos as conquistas pelo senso comum, sem ambição nem união. O servilismo das forças partidárias/ideológicas tem servido mais para promover uns certos nababos do que para reconhecer a competência e o mérito. Muitos dos ‘governantes’ – nos vários níveis e instâncias – mais parecem correias de transmissão e paus-mandados, onde só vinga quem melhor adula, onde só ascenda ao posto superior quem mais engana e mente, quem, afinal, nivela o chegar pela amarra do partir.

Porque será que em tantas das autarquias estamos a atingir a fasquia da governança do rotulado fascismo? Não haverá nessas terras gente melhor do que os da mesma cor, quarenta e tantos anos depois? Isso será democracia dinástica com direito a sucessão, sem interferência nem alternância?

 

= O milagre português começou com a lenda de Ourique, as loas de Aljubarrota, as ruturas anti-hispânicas… com horizontes e não com esses antolhos seguidistas. Portugal merece melhor!    

 

António Sílvio Couto

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