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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Piercings, tatuagens e beleza


O recurso à decoração do corpo sempre foi uma forma de embelezamento. Efetivamente é, sobretudo, através do corpo que nós comunicamos uns com os outros. A nossa realidade corporal revela quem somos muito para além daquilo que até gostaríamos. Para a cultura cristã o corpo é santuário da presença de Deus, que deve ser cuidado, respeitado e (sem falsos conceitos) amado na correta proporção daquilo que é também a idêntica consciência para com os outros.

Como poderemos entender – ligando causas a efeitos – esta onda de ‘embelezamento’ do corpo através dos piercings, das tatuagens e de tantas outras formas recentemente introduzidas na comunicação dos nossos dias? Serão tais adereços sinais de respeito ou de desprezo pelo corpo humano? Que mensagem/linguagem está subjacente a tais aspetos, hoje, como que vulgarizados? Será por moda ou estará envolvida qualquer outra filosofia e/ou cultura?

Desde já fique claro que não quero entrar na depreciação de tais formas de tratar o corpo humano, antes pelo contrário: gostaria de entender o que se está a passar… mas sem pensar, de forma alguma, em recorrer a essa moda de piercings, tatuagens e outros artefactos quase que civilizacionais…

É digno de ser referido ainda que piercings, tatuagens e outras artes decorativas corporais vivem numa lógica de exibição, pois esta como que faz parte da comunicação entre grupos, de setores afins de relacionamento entre sexos (uns dizem antes de ‘género’) e até em agrupamentos socio-religiosos mais ou menos influentes. 

= Porque será que o Cristiano Ronaldo não tem qualquer tatuagem, enquanto outros jogadores de futebol ostentam dezenas de desenhos, grafitis, inscrições, palavras e frases… no corpo, naquilo que é mais ou menos visível? O não ter entrado nesta moda – já que da exibição dos piercings e brincos não escapou – das tatuagens teve algo a ver com condicionamentos da publicidade que faz? Será esta contenção por consciência ou por mero recurso da manipulação que dele, frequentemente, fazem? 

= Bastará uma breve consulta, na internet, sobre piercings e poderemos encontrar interpretações muito diversificadas, atendendo à sua colocação no corpo humano, tanto de homens como de mulheres: em qualquer dos locais do corpo humano, um piercing tem algum significado – no nariz, na orelha, no umbigo, na língua… e em tantas outras partes do corpo. Cada um poderá considerar algo que possa determinar o uso de piercings, na maior parte dos casos serão mais para se fazer notar e/ou para destoar dalguma normalidade a influenciar… Sem com isto querermos fazer qualquer juízo valorativo, em muitas das situações de recurso a esta ‘arte’ de provocação poderemos encontrar algo que possa fazer-nos recuar a estádios ancestrais de afirmação nas tribos e classes sociais… Embora seja aceitável esta ‘arte’ teremos de nos situar quase sempre na evolução da cultura humana. Certas linguagens mais parece que nos fazem involuir de forma acentuada…   

= Nem que de forma sucinta poderemos encontrar na consulta sobre tatuagens um longo historial mais ou menos exotérico e com necessidade de ser lido, interpretado e discernido no contexto atual da complexidade de formulações de tantas das tatuagens…exibidas. Efetivamente muitas das tatuagens são como que um retrocesso a práticas pagãs um tanto difundidas no entendimento de que poderemos usar o nosso corpo como bem desejarmos… Nem mesmo a colocação de imagens e símbolos religiosos (cristãos ou não) fazem com que a tatuagem possa ser vista com uma certa leviandade com que vemos tratar o assunto e gravá-lo na pele por mais ou menos tempo.

Atendendo ao ‘espetáculo’ de certas figuras que exibem tatuagens – muitas delas em claro exagero e prolixa apresentação – dá a impressão que muitas pessoas aderiram a este movimento de forma acrítica e sem pensarem nas consequências. Já nem falamos dos locais onde as tatuagens são feitas e tão pouco o gosto que levou a recorrer a tal adereço de beleza. Parece que muitas das tatuagens pecam pelo mau gosto e até mesmo pela insensatez na sua colocação. Tal como outras modas ou modos de estar, respeitamos quem disso se socorre, mas como o pequeno neto dizia à avó, ao vê-la maquilhar-se: se é para ficares bonita, porque é que não ficas?    

 

António Sílvio Couto



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