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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Eleições sem futebol?


Mais uma vez – já aconteceu noutros casos recentes – vão realizar-se jogos de futebol na data das próximas eleições autárquicas, a 1 de outubro. A comissão nacional de eleições ainda recomendou que tal coincidência fosse evitada, mas os calendários futebolísticos intra e extra a isso obrigam, dado que não haveria os tais tempos de descanso entre os diferentes jogos a disputar.

Para o imediato nada ou com pouco efeito. Mas no futuro há quem sugira – sobretudo na área de quem governa – que tais ‘diversões’ podem prejudicar a participação dos eleitores, dando azo a que a abstenção cresça. Mas, quando têm marcado as datas em tempos de veraneio, quem ousou sugerir que se fechassem as praias para que os cidadãos tenham a obrigação de ir votar? Também alguém irá proibir as pessoas de irem às compras e de passearem pelos centros comerciais, canalizando os votantes para as mesas eleitorais vazias? Quem iria sugerir que fossem fechados os cinemas – e porque não, teoricamente, as igrejas! – ou teatros que assim distraíssem de ir votar?

Sim, este condicionamento reduzido aos jogos de futebol sofre duma visão bastante míope e um tanto controladora da população, senão mesmo uma espécie de infantilização dos milhões de eleitores que têm de ser encarreirados para votar, mesmo que possam estar mal esclarecidos ou pouco motivados para se pronunciarem sobre assuntos – embora importantes – secundarizados para uma imensa maioria dos cidadãos.

Fique claro: defendo – já há bastante tempo por escrito e de forma oral – o voto obrigatório, dado que não podemos continuar a permitir que haja pessoas que não se pronunciem nas urnas de voto e depois se armem em reclamantes sem decisão. No entanto, a vida continua como noutros dias e só uns tantos arregimentados para a causa dos seus favores se aprontam para quererem manipular quem com eles não concorda. Basta de vermos eleitos a ocuparem lugares com mais de dois terços dos inscritos não-votantes e com isso prolongarem-se no poder de forma legítima, mas um tanto ilícita! 

= Mesmo que este escrito possa entrar pela época da (dita) campanha eleitoral, sugerimos alguns aspetos que exigem reflexão urgente, séria e amadurecida…até mesmo depois dessa etapa:

* Quem nos governa – ou vai governar – são (mesmo) os melhores? Dado que os diretórios partidários e os gabinetes de promoção dos (pretensos) independentes são quem escortina os lançados à eleição, não seria de incrementar a escolha dos mais capazes e não só dos mais fiéis ao sistema e à ideologia? Porque se vai esfumando da vida pública quem tem mais qualidade e capacidades de servir e não de servir-se?

* Como poderemos acreditar em quem não se credita a si mesmo? Certas atitudes de candidatos aos postos de mando levam-nos a questionar essa espécie de malmandados, isto é, de quem quer que os outros façam aquilo que eles não sabem como fazer nem têm a mínima preparação para mandar fazer. 

* Perante o que já vimos nas lideranças passadas fica-nos uma amarga sensação sobre um presente e até alguma apreensão sobre o futuro, dada a incapacidade de haver uma substituição adequada e com visão mais abrangente do que o perímetro da sua própria imagem. Estamos como que órfãos de líderes e reféns da inutilidade dos que se aprestam para exercerem tais funções…   

= Não será com distrações de desencontro entre eleições e jogos de futebol que iremos recuperar a verdadeira cidadania e o interesse pela vida política na sua expressão mais digna, elevada e correta. É urgente dignificar quem está na vida política. Os primeiros a fazê-lo devem ser os próprios atores dessa mesma política. Ora, se vemos que nem eles mesmos se fazem creditar, como poderemos levar quem os julga – desde a votação até à ação – a acreditarem que são, acima de tudo, pessoas de bem?

De facto, como portugueses temos a propensão em julgarmos os outros por nós mesmos, mas nem assim será menos sério que se exija aos fazedores da ação política – seja qual for a instância em que se coloquem – uma conduta ética/moral o menos má possível.

Talvez seja o que merecemos, nesta fase social em que nos encontramos, mas devemos pugnar para que sejam os melhores aqueles/as que estão no exercício das tarefas sociais e públicas. Só, deste modo, estaremos salvaguardados no presente e para o futuro!

 

António Sílvio Couto




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