A segurança social só se reequilibra, criando emprego ou cortando nas
pensões... E para criar emprego é vital pôr a economia a mexer... Não há
milagres, se se baixar a taxa social única e a economia não pegar, a segurança
social fica péssima...
Quem disse isto, por estes dias, foi o mentor económico do programa
socialista a apresentar às próximas eleições legislativas, Mário Centeno,
consultor ainda do Banco de Portugal.
= Torna-se um tanto claro que quem quiser ser levado a sério nas próximas
eleições legislativas terá de ser honesto naquilo que diz e, sobretudo, na
forma como pretende conseguir aquilo que propõe... Será mesmo de evitar a
palavra ‘promessas’, pois que está tão desgastada que poucos a acreditarão,
tanto na forma como no conteúdo. Basta de malabarismos de fim de feira, pois
outros (mais cedo do que tarde) terão de pagar a fatura mesmo sem disso ser
responsáveis.
= Poderá soar a demagogia – agora usa-se mais o termo populismo – contrapor
austeridade a crescimento... seja económico, seja na estabilidade social e de
emprego. Com efeito, quiseram-nos vender a ideia de austeridade era só um
regime temporário e que, passado esse tempo de dificuldades, voltaríamos (ou
voltaremos) a poder gastar sem olhar a meios, pois alguém pagará a conta...
Nada de mais errado e mentiroso. A austeridade tem de ser (por mais tempo) um
sistema de vivência das pessoas, das famílias, das empresas e mesmo do
Estado... Não podemos viver num despesismo que não tenha controlo nem podemos
pensar e, sobretudo, viver como se as nossas opções, atos e comportamentos não
tenham de ser equilibrados com os meios de que dispomos... O resto será mentir
ou iludir incautos e/ou preguiçosos.
= Já não volta mais o tempo dum emprego estável e muito menos para toda a
vida. A capacidade de adaptação a novas realidades torna-nos muito mais
vulneráveis, pois podemos deitar-nos com um posto de trabalho e na manhã
seguinte sermos dos dispensados ou mesmo despedidos...por maior ou menor
duração. E isto não é só no campo das atividades produtivas, também nas de
dimensão humana e social estamos em permanente indecisão sobre o futuro. Aqui
se adequa a expressão bíblica: a cada dia as suas preocupações! E nem o setor
da função pública estará defendido desta incerteza, pois o empregador também
tem de gerir os custos e gastos.
= Há, no entanto, quadros de leitura que nos fazem ser realistas, pois o
emprego não cresce por decreto – como alguns parecem fazer crer – nem a
disponibilidade de investimento surge sem garantias de estabilidade social,
económica e até política. A natalidade é, por isso, um dos itens mais sensíveis
para o crescimento... no próximo futuro. Quando no nosso país se preferiu
investir no aborto – até como método anticoncetivo – do que em políticas de
natalidade!... Teremos de pagar as consequências de tais desvarios. Somos dos
países da Europa onde o ‘inverno demográfico’ mais consequências tem provocado.
Se isto aconteceu em duas décadas, para recuperarmos o perdido levaremos pelo
menos três décadas, isto é, só por volta de 2040 é que poderemos voltar ao
ponto de partida, recompondo o que foi estragado com tanto egoísmo e
insensatez...
= Atendamos ainda à fase da velhice. Cresce a longevidade – ainda bem – mas
criaram-se novos problemas para os quais não estávamos preparados. Continuou-se
a viver num estilo de família que perdeu o respeito pelos mais velhos. O afã do
emprego de todos para conquistar melhores condições de vida não foi avaliado
nem cuidado. Surgiram novos desafios à família em ordem a atender aos mais
velhos, vulgarizando os ‘lares’ de velhos e potenciando problemas de
relacionamento entre gerações... É preciso ter meios para sustentar as pensões
de velhice – bem como outras regalias sociais mínimas – e os meios escasseiam.
Por isso, as propostas feitas pelos agentes partidários podem ser boas ao
ouvido, mas serão amargas na vida se não se modificarem as ideias em
ebulição... Sejamos sérios, serenos e sábios no tratamento destes problemas,
já!
António
Sílvio Couto
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