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terça-feira, 19 de maio de 2015

Combate à pobreza


A ‘rede europeia antipobreza’ na componente portuguesa quer colocar, mais claramente, o tema da pobreza na agenda dos partidos políticos...desde a mentalização até à legislação, passando por medidas concretas de combate ao flagelo da pobreza no nosso país.

A partir do manifesto «compromisso para uma estratégia nacional de erradicação da pobreza» preconiza-se uma espécie dum pacto em ordem a fazer da erradicação da pobreza ‘a primeira e a mais urgente prioridade nacional’.

A taxa de pobreza no nosso país teve uma evolução negativa: de 19,9% em 2009 para 19,5% em 2013, tendo a expressão em euros de 434 para 411 neste mesmo período de tempo...tão somente em quatro anos.

Políticas sociais, económicas e financeiras podem e devem esmerar-se no combate à pobreza, sendo mesmo proposto pela rede europeia antipobreza – Portugal a que, nada que possa aumentar a pobreza, saía do Parlamento, querendo com isso significar que se passaria da prática à teoria, isto é, que a erradicação da pobreza estaria, desde logo, na mente do legislador, criando um observatório no âmbito legislativo e na prossecução de iniciativas de saída do espaço social e psicológico da pobreza e da marginalização.

1. Pobreza alimenta muita gente

Parece um contrassenso, mas o estado de pobreza vai alimentando muita gente, desde o nível político até à dimensão sindical, sem esquecer imensas associações e iniciativas (ditas) socio-solidárias...mesmo no âmbito das igrejas.

Que seria dos partidos políticos, se lhes retirassem os pobres, como público-alvo? Efetivamente, os partidos políticos – seja lá a cor ou ideologia que for – perderiam a possibilidade de venderem ilusões e de intentarem promessas mais ou menos exequíveis...na verborreia de campanha eleitoral.

Idêntica necessidade têm os sindicalistas, pois, sem a contestação às condições menos boas dos seus filiados, perderiam a capacidade de mobilização, que, às vezes, se nivela mais pela riqueza do que pela insuficiência de meios e de proventos... Valeria a pena intentar saber as fortunas de certos sindicalistas para percebermos melhor a rotina com que fazem greve, o modo como condicionam a vida dos que trabalham e até os meios que mobilizam nas contestações...onde eles quase nunca perdem, pois são pagos pela estrutura sindical!

Não será ainda de menosprezar que sejam conhecidas as faturas de certas entidades que trabalham com os mais pobres. Com efeito, há situações para quem a miséria alheia é um certo fator de promoção social e mesmo profissional. Hoje, já não se discute quem são ‘os meus pobres’ – como faziam as senhoras de caridade em tempos mais recuados – mas em quantos gabinetes parece que se equacionam como os pobres são instrumentalizados para que estejam à nossa porta nos dias de avio e em circunstâncias de atendimento... Nem tudo muda, à exceção dos figurantes mais ou menos cadavéricos ou obesos!

2. Pobreza: circuito poderá ser corrigido?

Há uma pergunta que nos deveria inquietar, a todos, seja qual for a nossa condição económica, profissional, etária ou social: como poderemos corrigir o percurso de tantos dos pobres do nosso tempo? Efetivamente, há pessoas que nasceram na pobreza e, como que de forma irremediável, reproduzirão pobreza...seja ela psicológica, económica ou até em condições espirituais. Imensas situações são de tal forma graves que só uma revolução estrutural e/ou civilizacional poderá modificar as causas e atenuar as consequências de certas situações de pobreza...manifesta ou envergonhada.  

Como referem alguns peritos – sociólogos, antropólogos e pensadores – mesmo ligados à Igreja católica, temos de tentar modificar a matriz de onde parte esta onda de pobreza, que, atendendo às dificuldades mais recentes, continuam a pulverizar a nossa sociedade...atingindo, segundo alguns números disponíveis, um em cada cinco portugueses...num total de dois milhões de pessoas em dificuldade explícita ou intentada.

Temos de ser honestos e verdadeiros: não serão certas propostas eleitorais, que irão vencer esta tendência...até porque em momentos idênticos no passado só criaram ilusões e mais tarde fraude e bancarrota, que ainda estamos a pagar. Haja verdade em todos e para todos, já!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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