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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Numa certa pilantropia


É isso mesmo. Não é erro ortográfico...embora o dicionário não reconheça, imediatamente, a palavra... A intenção é lançar dados sobre uma certa cultura dos pilantras...ocupem eles os lugares em que estejam ou se insinuam, não deixarão de ser isso mesmo, pilantras!

Se consultarmos a internet lemos que definição de pilantra significa pessoa desonesta ou vigarista, sendo usado, ao nível popular, para designar alguém com comportamento enganador, que pratica ações em que colocam em causa a sua própria honestidade. Usa-se ainda o termo ‘pilantra’ para referir-se a alguém que aparenta ser diferente daquilo que é na realidade... associando-se, neste aspeto, a alguém que pode viver ou fomentar a corrupção, a mentira, a vigarice ou até o roubo...onde ele é, normalmente, o mais beneficiado.

Embora este termo tenha uma conotação um tanto de telenovela à brasileira, esta cultura vai ganhando foros de cidadania no nosso mundo à portuguesa.

= Digamos que a pilantropia pode ser vista como uma mentalidade em que se promove – de forma ativa ou passiva, por si ou por outrem – quem menos vale, mas que se faz valer, usando o espaço de intervenção como nova oportunidade de capitalizar algo em seu benefício, proveito e beneficiação. Quantas vezes vemos uns tantos colocarem-se em ‘bicos de pés’ – pois a estatura mais moral do que física – não os deixa verem e serem vistos, tanto nos seus ambientes como nas suas razoáveis pretensões.

= Esta pilantropia perpassa quase todos os setores da nossa vida pública, desde o ambiente sindical até ao espaço das empresas (mesmo nas privadas), da comunicação social até ao mundo artístico, das associações e coletividades até à política (partidária ou dita independente), nas autarquias ou no governo central (agora ou no futuro), nas agremiações civis ou nos organismos religiosos...vemos tantos pilantras, que só uma boa capacidade de auto-observação poderá atenuar o que nos infesta e contagia.

= Temos a sensação de que algo está podre na nossa cultura (dita) ocidental, pois muitos dos que emergem para assumir lugares de decisão e de poder começam a ser os que têm menos qualidades, enquanto os que poderiam estar nesses lugares de autoridade afastam-se ou fogem, pois não querem ver as suas vidas devassadas por certos pilantras de serviço... Não será preciso ir à casa dos vizinhos para vermos o que lá se passa, bastará estarmos atentos ao que acontece na nossa casa e veremos imensos pilantras pavoneando-se nas redes sociais, nos espaços da vida pública, fazendo-se ver e sendo vistos...mais do que era necessário ou suficiente.

= O nível cultural do nosso tempo tem vindo a ser nivelado mais pelos pés em vez de vivermos no incentivo a que se promova o que eleva e faça crescer humana, intelectual e até civicamente. Com alguma regularidade podemos ver certas figuras a conseguirem carreira à custa da ignorância dos outros, iludindo e sendo ludibriados. Bastará ver o que aconteceu no setor da banca, seja nos banqueiros, seja nos depositantes: quanta gente pretendia ser vendedor de ilusões de riqueza (mais ou menos) fácil e agora fazem carpir as mágoas de tudo ter perdido. Não será isto um sinal dessa pilantropia reinante e afundada?

= Na dimensão social – talvez se possa designar de solidariedade de substituição – vemos uns tantos a sobreporem-se aos necessitados, fazendo-os novos famintos e agradecidos por receberem em esmola o que lhes é devido por justiça. Há muita gente presa pela boca!... Não será isto uma espécie de tentáculo dessa pilantropia mais ou menos camuflada de subsídio ou de rendimento não trabalhado?

De facto, gostaríamos de viver numa sociedade mais filantrópica do que pilantrópica, pois aquela faz-nos sentir irmanados – mesmo nas dificuldades – e esta acentua mais o que divide, isto é, promovendo a habilidade e esperteza e não tanto a inteligência pela competência pessoal e coletiva.

Pilantropia, não, obrigado!
 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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