Percorrido o tríduo pascal entramos na vivência do tempo pascal – esse dia
de cinquenta dias – deixando-nos conduzir pelo perfume da narrativa do livro
dos Atos dos Apóstolos.
Por estes dias fomos como que atordoados com a notícia do fuzilamento de
centena e meia de adolescentes e jovens estudantes, no Quénia. A razão foi a de
serem cristãos, sendo mortos por um grupo islâmico radical proveniente de outro
país… No entanto, foi espantoso ver a forma como celebravam a Páscoa… por entre
lágrimas e aleluias!
1. No nosso recanto lusitano fomos vendo mais gente na praia do que nos
momentos celebrativos e, mesmo assim, estes são vistos mais como cerimónias do
que como momentos de fé.
As notícias foram apresentando mais a espuma da ‘semana santa’ do que o
essencial, isto é, os lucros comerciais do que as vivências cristãs… As imagens
dos templos são poucas e dessas algumas buscam mais o ridículo do que o
marcante do mistério cristão… Até as frases extraídas das homilias dos bispos
quase roçam mais o caricato e o social do que a mensagem cristã… séria e serena!
2. A Páscoa tem mais repercussão no sentido das coisas materiais – doces,
gastronomia, lazer e convívio – do que nos aspetos religiosos… Saberão porque cabrito,
borrego, anho ou cordeiro fazem parte da mesa de Páscoa? Terão a noção das
raízes religiosas mais profundas e genuínas?
Talvez haja quem deseje ‘boa páscoa’, mas se fique pelo nível humano e
pouco na dimensão religiosa – judaico-cristã – que lhe dá sentido e projeção. O
consumismo já ganhou à força espiritual desta data e dos elementos que lhe dão
significado e propriedade!
3. Houve momentos – digo-o do espaço onde vivo atualmente – em que as
propostas de fé (na via) pública tiveram mais participação dos ‘de fora’ do que
dos ‘da casa’, podendo estes colocar em causa aquelas propostas – de procissões
ou de tradições cristãs de quaresma – na medida em que se encolhem e como que
fogem do compromisso… na rua.
Vi muitos homens – desses que não põem os pés na igreja – a rezar na rua e
a benzerem-se. Era de noite e isso deixava-os mais sem filtros e menos medos ou
respeitos-humanos…
São dados destes dias: o islamismo crescerá até 2050 – isto é, em trinta
cinco anos – mais de setenta por cento em todo o mundo. Na França foi
solicitada a autorização para construir para o dobro das mesquitas que estão em
funcionamento… tal é o número dos praticantes!
O grande califado já está em marcha. Com facilidade nos conquistará,
bastará moderarem a agressividade e a nossa sociedade ocidental e europeia em
particular cairá, pois está em adiantado estado de apodrecimento moral, cívico
e cultural!
4. Nem mesmo o razoável número dos batizados adultos salva este iminente
colapso. Em Setúbal (diocese) foram batizados nesta Páscoa 105 adultos (entre
os 20 e os 50 anos)… Mas o que é isto num espaço onde mais de duzentos mil não
são batizados!
Urge, por isso, refletir sobre a qualidade humana e espiritual dos que
(ainda) temos na Igreja, não aconteça de estarem a engordar com devoções e não
a viverem em processo de conversão contínuo. Como podemos contar com quem, na
hora dos momentos mais significativos da fé, prefere os lugares de diversão e
não os espaços de celebração? Ainda dizem que estamos em crise. Que seria se
não estivéssemos!
5. Uma sugestão simples e sincera: devíamos todos – hierarquia, religiosos
e leigos – usar este tempo pascal para lermos, atenta e humildemente, o livro
dos Atos dos Apóstolos e aí refontalizarmos a nossa fé medíocre e de
manutenção. Que o Espírito Santo nos mova a uma maior consciência de sermos
Igreja em caminhada… à semelhança dos discípulos de Emaús, tendo uma forte
experiência de Jesus Ressuscitado, hoje!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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