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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Pacto de silêncio contra notícias de morte?


No último mês quase não houve dia algum que não fossemos confrontados com notícias de morte – muitas trágicas e escabrosas, outras com dias de cobertura, umas tantas referindo casos de desequilíbrio e outras ainda esticadas na informação que quase somos tentados a dizer estamos num ambiente de mortandade doentia…

Muitos falam em que devíamos moderar esta vulgarização de notícias sobre a morte, pois se vai criando uma sensação de desvalorização da vida em contraste com uma certa exaltação da morte… Tudo isto vem sendo vivido tendo a Páscoa como realidade fundacional da nossa cultura, isto é, quando se exalta a vida, vemos ser servido o culto da morte!

= Consta que há um pacto de silêncio sobre notícias que envolvam referências (diretas ou indiretas) à morte em casos que ocorram tendo a ‘ponte 25 de abril’ por palco ou panorama… Este pacto obriga múltiplas entidades e serviços de segurança… embora se saiba que há, pelo menos, uma tentativa ou realização de morte tendo esta estrutura viária por alusão… Assim, se tem conseguido aliviar a tensão social e o alarmismo ou até evitar mais casos…

Por que não se faz igual pacto pelos órgãos de informação para o resto do país? Até onde irá a insensibilidade e falta de respeito para com o resto da população? Será preciso cultuar tanto a morte ou será tudo isto reflexo do sem-senso da vida… ao menos dos promotores desta cultura de morte?

1. Ética da vida

Vivemos num tempo que precisa mais de sinais de vida do que de meros servidores da sua despromoção e enfraquecimento. Com efeito, o macabro tem vindo a tomar posse de muitas pessoas, senão de forma clara e assumida, pelo menos dum modo tácito: as imagens de agressividade estão presentes em muitos dos brinquedos das crianças, a diversão dos mais novos está mais ao serviço do funesto e triste do que do belo e harmonioso.

Quantas vezes vemos ser defendido mais o ‘direito dos animais’ do que os direitos dos humanos. Uns e outros têm direito à vida e vida de qualidade, seja nos conceitos, seja nos modos de a viver.

Não será que o desprezo pode ser o princípio destrutivo da vida dos outros? Não será que o desinteresse pelos outros poderá deixar marcas no presente e para o futuro?

2. Ao serviço da beleza

Urge educar para o verdadeiro e exultante sentido do belo, que é muito mais do que o exterior… com que tantos projetos se vão entretendo e fazendo moda, mesmo que recorrendo ao fútil e ao vazio… mental e afetivo. Quantas vezes se exalta mais a mudança de traje do que a honestidade e o bem-fazer gratuito e simples. Por vezes cuida-se muito e bem do equilíbrio da dimensão física, mas se pode esquecer aquilo que desequilibra as facetas psicológicas e espirituais mais profundas e essenciais. Parece que o papel de embrulho ganha em cuidado ao mais digno presente que somos e que os outros são para nós… mesmo sem disso nos darmos, verdadeiramente, conta.

3. Numa cultura dos valores…imateriais

Vivemos, infelizmente, cada vez mais ao sabor do descartável – onde até as pessoas são mais um imponderável como outra coisa qualquer – e podemos até tornar-nos para nós mesmos algo indefinido e sem sentido. É diante desta (quase) rotina de faz-de-conta que temos, em cada dia, de saber discernir os valores (éticos, morais ou comportamentais) para vivermos num salutar equilíbrio connosco mesmos, com a natureza e com os outros… abertos e servidores do Outro por excelência, que é Deus.

Ora, a referida cultura da morte não serve esta dimensão humana, por isso, temos de saber escolher e, tantas, vezes, guardar silêncio até ao momento oportuno de falar, de denunciar e de profetizar a vida com sentido!

 
António Sílvio Couto

2 comentários:

  1. Está a referir à falta de imagens sobre a morte dos 30 cristãos etíopes mortos no sábado? E que o mundo continua em silêncio ?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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