No último mês quase não houve dia algum que não fossemos
confrontados com notícias de morte – muitas trágicas e escabrosas, outras com
dias de cobertura, umas tantas referindo casos de desequilíbrio e outras ainda
esticadas na informação que quase somos tentados a dizer estamos num ambiente
de mortandade doentia…
Muitos falam em que devíamos moderar esta vulgarização de
notícias sobre a morte, pois se vai criando uma sensação de desvalorização da
vida em contraste com uma certa exaltação da morte… Tudo isto vem sendo vivido
tendo a Páscoa como realidade fundacional da nossa cultura, isto é, quando se
exalta a vida, vemos ser servido o culto da morte!
= Consta que há um pacto de silêncio sobre notícias que
envolvam referências (diretas ou indiretas) à morte em casos que ocorram tendo
a ‘ponte 25 de abril’ por palco ou panorama… Este pacto obriga múltiplas
entidades e serviços de segurança… embora se saiba que há, pelo menos, uma
tentativa ou realização de morte tendo esta estrutura viária por alusão… Assim,
se tem conseguido aliviar a tensão social e o alarmismo ou até evitar mais
casos…
Por que não se faz igual pacto pelos órgãos de informação
para o resto do país? Até onde irá a insensibilidade e falta de respeito para
com o resto da população? Será preciso cultuar tanto a morte ou será tudo isto
reflexo do sem-senso da vida… ao menos dos promotores desta cultura de morte?
1. Ética da vida
Vivemos num tempo que precisa mais de sinais de vida do
que de meros servidores da sua despromoção e enfraquecimento. Com efeito, o
macabro tem vindo a tomar posse de muitas pessoas, senão de forma clara e
assumida, pelo menos dum modo tácito: as imagens de agressividade estão
presentes em muitos dos brinquedos das crianças, a diversão dos mais novos está
mais ao serviço do funesto e triste do que do belo e harmonioso.
Quantas vezes vemos ser defendido mais o ‘direito dos
animais’ do que os direitos dos humanos. Uns e outros têm direito à vida e vida
de qualidade, seja nos conceitos, seja nos modos de a viver.
Não será que o desprezo pode ser o princípio destrutivo
da vida dos outros? Não será que o desinteresse pelos outros poderá deixar
marcas no presente e para o futuro?
2. Ao serviço da
beleza
Urge educar para o verdadeiro e exultante sentido do belo,
que é muito mais do que o exterior… com que tantos projetos se vão entretendo e
fazendo moda, mesmo que recorrendo ao fútil e ao vazio… mental e afetivo.
Quantas vezes se exalta mais a mudança de traje do que a honestidade e o bem-fazer
gratuito e simples. Por vezes cuida-se muito e bem do equilíbrio da dimensão física,
mas se pode esquecer aquilo que desequilibra as facetas psicológicas e
espirituais mais profundas e essenciais. Parece que o papel de embrulho ganha
em cuidado ao mais digno presente que somos e que os outros são para nós… mesmo
sem disso nos darmos, verdadeiramente, conta.
3. Numa cultura dos
valores…imateriais
Vivemos, infelizmente, cada vez mais ao sabor do
descartável – onde até as pessoas são mais um imponderável como outra coisa
qualquer – e podemos até tornar-nos para nós mesmos algo indefinido e sem
sentido. É diante desta (quase) rotina de faz-de-conta que temos, em cada dia,
de saber discernir os valores (éticos, morais ou comportamentais) para vivermos
num salutar equilíbrio connosco mesmos, com a natureza e com os outros… abertos
e servidores do Outro por excelência, que é Deus.
Ora, a referida cultura da morte não serve esta dimensão
humana, por isso, temos de saber escolher e, tantas, vezes, guardar silêncio
até ao momento oportuno de falar, de denunciar e de profetizar a vida com
sentido!
António Sílvio Couto
Está a referir à falta de imagens sobre a morte dos 30 cristãos etíopes mortos no sábado? E que o mundo continua em silêncio ?
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