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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Casa vazia… alma esvaziada


Há experiências que só quem passa por elas, as pode entender e/ou compreender, quem vive idênticas situações. De pouco adianta termos lindas ideias, se elas esbarrarem na vida simples e provocatória do nosso dia-a-dia… Há momentos que marcam a vida e outros que a condicionam, mesmo sem disso nos apercebermos.  

Ora, por esta época foi comum ouvir pessoas a desejarem ‘boa páscoa’, mas o conteúdo dessa expressão se notava que estava vazio de significado, pois desejar aos outros aquilo que se não pratica, poderá ser, no mínimo, incoerência ou falta de sentido… até do ridículo. Com efeito, a Páscoa precisa de ser vivida no sentido judaico-cristão, sendo envolvido pelo significado religioso mais profundo e altíssimo: o da passagem de Deus e a vitória de Jesus sobre a morte. Reduzir a ‘páscoa’ às iguarias gastronómicas como que será – como em tantos outros momentos simbólicos da nossa dimensão coletiva – usufruir das consequências sem lhes apreciar as causas…

1) Casa vazia… a de viver e a de celebrar

De fato, a casa onde vivemos (moramos, que é muito mais do que residência ou endereço de contato), revela aquilo que nós somos… mesmo sem disso nos darmos conta, a sério. Que dizer, então, da nossa casa onde não temos ninguém que nos espera nem com quem partilhamos as coisas e loisas da vida real e, por vezes, agreste? Há quem cultive a presença dalgum animal de estimação. Há quem se entretenha com algum hóbi circunstancial. Há quem faça de sua casa uma espécie de retábulo de devoções (religiosas ou clubísticas) aceitáveis. Duro, duro é não ter com quem desabafar… mesmo que, certos meios de comunicação (tv, internet, tlm ou outro qualquer), vão disfarçando a falta de presença humana real e afetiva.

Se isto se vive na casa de residência, parece que agora os (nossos) lugares de culto se estão a esvaziar e/ou a preencher de múltiplos vazios paralelos. E nem certos espaços de convívios conseguem disfarçar o isolamento insensível e uma solidão narcotizante.

A tristeza que invade tantos rostos e vidas não é mais disfarçável, pois tal sentimento vem do mais profundo da pessoa e vai tomando as texturas mais visíveis e as revelações inquestionáveis… do ser. É um facto, as pessoas estão cada vez mais tristes e já não o disfarçam… nem com os remédios da fé.

Como poderemos, então, modificar esta espécie de hipocondria social… com sintomas de quase epidemia? Que soluções poderemos intentar para fazer reverter este estado público e privado… onde todos estejam em causa e queiram corrigir-se? Quem poderá ajudar-nos a ultrapassar tais situações?

2) Aprender a saber escutar

Sem qualquer pretensão de lições – estas poderão ser ainda mais um adiamento para o real problema – ousamos deixar aqui – colhendo em primeiro aspeto este plano de caminhada – algumas pistas para que nem a casa vazia seja uma espécie de sepulcro vivo nem a alma se esvazie de sentido na existência:

- Olhos nos olhos – urge sabermos ver o olhar dos outros e o que ele nos revela. Por isso, temos de desencobrir a beleza dos olhos desses filtros com que nos envolvemos e com que, tantas vezes, lemos os outros… Mudar de óculos, já!

- Diálogo sincero – urge termos quem escutemos e quem nos escute. Por isso, temos de tirar os fones dos ouvidos e aferir-nos uns aos outros sem preconceitos nem julgamentos. Quando o ouvido começa a falhar não podemos tirar conclusões precipitadas… se ouvimos menos bem ou até mal!

- Capacidade de perdão – urge que cada um assuma os seus erros e não queira servir-se dos erros dos outros para os acusar. Por isso, não adianta queremos que os outros mudem se nós não fizermos o esforço por modificar-nos a nós mesmos. Basta de lições, precisamos de compreensão mútua e sincera.

Parece que este tempo pascal poderia e deveria ser um bom momento de caminhada para estarmos atentos aos outros, pois, há muita tristeza disfarçada devido ao desinteresse negativo de uns pelos outros…

 

António Sílvio Couto

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