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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Somos um país de infelizes?


Em 158 países analisados, Portugal encontra-se em 88.º lugar do índice de felicidade neste ano de 2015.

Nos cinco primeiros lugares encontram-se: Suíça, Islândia, Dinamarca, Finlândia e Canadá…

Este estudo de duas universidades – uma inglesa e outra canadiana – teve como critérios para encontrar este ranking: as condições de saúde, o pib per capita, relações sociais (ter com quem contar), confiança (ausência de corrupção na política ou nos negócios), noção de liberdade nas escolhas de vida e a generosidade… Há ainda outra vertente de avaliação como a importância em investir, desde muito cedo, na história de cada pessoa… para que tenhamos adultos felizes e autónomos.

1. Haverá felicidade?

Por estes dias ouvi uma interessante definição (um tanto irónica) de ‘felicidade’: estado precário que não augura nada de bom!

De facto, talvez seja difícil definir a ‘felicidade’, pois, quando muito poderemos fazer dela uma descrição, tendo cada pessoa parâmetros muito subjetivos para tal… numa narrativa de situações de felicidade, mas não do estado de felicidade. Em cada caso muito poderá mudar se forem introduzidos outros ingredientes para a pretensa felicidade… que será (quase) sempre relativa e relacionada como valores éticos de referência.

Quantas vezes se pretende conquistar a felicidade à custa dos outros, em vez de cada um ser, antes de tudo, feliz em si mesmo e por si mesmo. Efetivamente a felicidade é preciso vivê-la em cada um de nós e só depois exigi-la aos outros e dos outros.

Quantas propostas de felicidade assentam em bases mais hedonistas e materialistas do que na vivência de valores espirituais e psicológicos. Tal felicidade poderá ser, por isso, ocasional, momentânea e interesseira, pois vive à custa dos outros, explorando-os e servindo-se deles. Dir-se-ia que viveríamos numa felicidade do descartável e, talvez, ela mesma descartável e superficial…

2. Que condições para a felicidade?

Sendo a felicidade algo a construir e a partilhar, mais do que a possuir, temos de encontrar, de verdade, as condições para possa haver felicidade recebida e dada e vice-versa.

- Desde logo é preciso investir, desde criança, na educação para a felicidade, que é muito mais um valor imaterial do que algo convertível na dimensão materialista. O dinheiro não compra a felicidade, embora possa ajudar a construí-la. Deste modo se deve educar a criança mais a saber dar do que a tentar conseguir, essencialmente, receber. Por isso, que dizer da cultura do filho-único: ele é sempre o centro e não tem com quem partilhar… já em casa. E o nosso mundo está cheio de conflitos de posse, onde a vida nem sempre é o mais essencial, tanto a vida recebida como dom, como a vida dada como oblação…

- Urge ainda esclarecer a expressão: ‘qualidade de vida’, pois nela se insere muito do egoísmo que vamos servindo uns aos outros e tendo (quase) sempre o eu como referência. Com efeito, essa tal qualidade de vida foi sendo forjada na satisfação dos prazeres mais ou menos lícitos ou legitimados. Parece que não evoluímos muito em humanidade, embora nos pretendamos afirmar que temos vindo a crescer em humanismo… quase sempre sem Deus, senão mesmo contra Ele.

- Muitos dos nossos critérios coletivos têm andado mais pela dimensão imediatista do que na construção daquilo que se chamava a pertença às duas cidades: cidade terrena e cidade celeste… Sobretudo os cristãos precisam de reaprender a situar-se nesta dupla vertente: vivemos na terra de olhos postos no Céu, iniciando já e aqui a eternidade. Por isso, tudo o que fazemos deverá estar imbuído desta certeza e a felicidade tem valor de eternidade, aqui e agora.

Não será que a inflexão portuguesa na escala da felicidade – comparada com a de outros países – tem vindo a verificar-se devido à procura da felicidade material fechada aos outros e à dimensão do divino? Temos Crescido numa certa qualidade de vida material, mas não apreciamos os valores simples e a simplicidade…

 

António Sílvio Couto

1 comentário:

  1. Temos que saber viver o Agora que é o momento presente equilibrando com o nosso interior; e não usar a mente para projectar coisas futuras porque assim só alimenta o Ego...

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